Desenvolvimento

8 fev, 2019

Debate questiona se inteligência artificial seria a solução para o trânsito

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Todo cidadão que circula pelas grandes cidades já esteve, com certeza, preso em algum congestionamento. Dirigindo, de carona, dentro do transporte público, não importa. Em algum momento, todo mundo já precisou adiar compromissos, se atrasar ou faltar neles por causa de algum engarrafamento.

O trânsito caótico não tem dia nem hora para acontecer. E quase nunca os órgãos de trânsito conseguem lidar com as mudanças repentinas das condições de tráfego. Segundo a dados divulgados pela BBC, em 2015, havia cerca de 1,3 bilhão de veículos motorizados em todo o mundo e, com o rápido crescimento das economias emergentes, esse número deve subir para mais de 2 bilhões até 2040 . Mesmo com novas vias, esse volume cada vez maior de tráfego poderia rapidamente exceder a capacidade de nossas redes rodoviárias, especialmente nas cidades.

É possível usar IA para acabar com engarrafamentos?

Com tanta tecnologia disponível, será que é possível usar Inteligência Artificial para acabar com os engarrafamentos? Muitos acreditam que os carros autônomos podem ser essa solução. Os robôs são ensinados a dirigir e a reagir mais rápido que humanos.

Mesmo assim, acredita-se que “ainda vai demorar pelo menos duas décadas antes que eles comecem a ter um impacto significativo”. E que “as agências rodoviárias e os planejadores urbanos terão de lidar com uma mistura cada vez mais complicada de motoristas humanos, semi-autônomos e autônomos.”

Brasil

Aqui no Brasil, conversamos com o desenvolvedor João Neto sobre a possibilidade da inteligência artificial realmente ajudar a resolver um dos problemas crônicos das grandes cidades: o trânsito caótico. Ele acredita que esse tipo de tecnologia pode ser utilizada para ensinar sobre o trânsito e informar sobre velocidades máximas e mínimas em determinadas vias, de acordo com horários específicos, além de ajudar a evitar o chamado efeito funil e permitir mais facilmente mudança de direção das vias etc.

“Só que sozinha a IA é totalmente inócua, porque isso depende de vontade e execução política. Então, sozinha, a IA não pode acabar com engarrafamentos”, completou João Neto.

“Na prática, ter uma IA para acabar com engarrafamento sem ter a vontade política, é como ter um martelo sem ter um prego”.
– João Neto

Ele acredita que seria necessário ter, em todas as vias, sistemas de monitoramento, o que não ocorre atualmente em toda a cidade de São Paulo. Só com esses monitoramentos seria possível obter dados suficientes para que ferramentas de aprendizado de máquina possam estudar e aprender com essas informações.

Vontade política

Os sistemas de monitoramento, porém, demandam legislação, que exige vontade política do legislativo e do judiciário.

“Então, apesar de sistemas de inteligência artificial poderem, sim, aprender sobre o trânsito e ajudar na tomada de decisões, existe toda uma outra máquina que precisa ser movida para que isso possa ser utilizado de fato”, disse João Neto, se referindo à máquina pública.

Ele deu como exemplo “projetos de radares de trânsito que marcam a velocidade média entre 2 pontos”, que ajudam a avaliar se o cidadão só diminui a velocidade quando se aproxima do radar. “Esse projeto ficou parado por muito tempo, porque apenas não havia previsão legal”, pontuou o desenvolvedor.

Ele resume o raciocínio com uma frase que explica bem a questão da “vontade política”: “O cidadão pode qualquer coisa desde não seja expressamente proibido por lei. Já o poder público só pode fazer o que estiver expressamente permitido em lei”.