Tenho participado de várias conversas com clientes cujo tema em pauta invariavelmente acaba derivando para a computação em nuvem – ou, como falamos em TI, o cloud computing. Geralmente, o assunto é direcionado aos profissionais de TI, que são os responsáveis pela renovação constante dos parques tecnológicos e da infraestrutura de suas empresas, o que compromete grande fatia do orçamento de tecnologia.
Em eventos se dá o mesmo. Encontros profissionais de todos os níveis – de analistas de suporte a gerentes, passando por CIOs, CEOs e CFOs, entre outros executivos – atrás de um dedo a mais de prosa sobre cloud. Todos buscam ouvir atentamente aos palestrantes e a troca de experiências é constante nos momentos de networking. Representantes dos mais diferentes perfis de empresas – públicas, privadas, startups, S/As; algumas com poucos anos de vida, outras com mais de cinco décadas – compartilham entre si as mesmas dúvidas e desafios.
Estaria tudo bem se, entre compartilhar dúvidas e encontrar respostas, não existisse um fosso paradoxal. Mas existe. O fosso está lá; gigante e profundo, para quem queira ou possa enxergar.
As experiências relatadas são as mais diversas possíveis: alguns buscam a computação em nuvem somente para ambientes de produção por causa de sua maior segurança, enquanto o ambiente de desenvolvimento e homologação deve ficar interno por ser menos crítico; outros fazem exatamente o contrário já que a governança corporativa exige que a produção seja interna – afinal de contas, não querem correr o risco de ter seus dados “expostos” a qualquer ataque cibernético – enquanto o ambiente de desenvolvimento e homologação pode ficar em qualquer lugar, pela sua própria característica de ser local com dados fictícios.
Algumas empresas vêm fazendo experimentos contratando grandes provedores de Cloud Computing para pequenos projetos com a seguinte argumentação: “é só pra entender como funciona”.
Mas já ouvi fortes argumentos de companhias que obrigam seus provedores globais a manter os serviços fora da nossa fronteira tupiniquim. Por que? Ora, explicam, santo de casa não faz milagre e nem temos tanta tecnologia disponível. “Como assim?”, me pergunto, mas fico quieto já que por normal lá estou para ouvir.
Outras tantas empresas, porém, mostram que têm exigido que os serviços prestados estejam no Brasil. Sim, e com uma razão igualmente objetiva: não querem estar sujeitas a qualquer sanção caso ocorra um desacordo comercial internacional que ponha em risco a segurança e a propriedade das informações.
Depois de tanta informação desencontrada, a primeira conclusão a que cheguei foi que ainda estamos totalmente perdidos quanto à decisão de como, quando, onde, por que e para que utilizar serviços de computação em nuvem. Não é isso que se ouve nos discursos oficiais corporativos – neles, há aquela certeza sem sombra de dúvida alguma, mas nem é preciso ser Sherlock Holmes para intuir que essa suposta certeza é feita de incertezas.
Mas minha segunda conclusão é condizente com o conteúdo de grande parcela das palestras que assisti e da maior parte das conversas que tive com profissionais: esse formato de serviço é algo irreversível e, muito em breve, a maioria das empresas terá parte substancial de seus softwares hospedados fora de casa.
Com a computação em nuvem, os desafios não são mais questões relativas à infraestrutura, e passam a ter seus nós no gerenciamento do fornecedor e na entrega de um serviço de qualidade.
Se realmente o cloud computing veio para ficar, precisamos quebrar alguns – ou talvez vários – paradigmas para aceitá-lo. Caso contrário, encontraremos as mais diversas desculpas para atrasar nossa entrada nesse mundo. E pior, um atraso somado a uma torcida fervorosa para que nossos concorrentes não tenham ultrapassado essa barreira e já estejam enfrentando outros desafios, e quem sabe se tornando mais competitivos que nós.
Pensando hoje nessas coisas percebo que todos temos apenas uma certeza, traduzida por uma frase do grande filósofo grego Sócrates: “Só sei que nada sei”.