A Internet das coisas (IoT – Internet of Things) é um tema recorrente em quase todo lugar. Mas, na maioria das discussões em todo o mundo, ela se reduz a um assunto que é sempre deixado de lado.
“É claro que a IoT terá um enorme impacto”, dizem os especialistas do setor. Então, normalmente todos apenas concordam e seguem sem discutir o que a IoT realmente é, ou não é; ou qual será de fato seu impacto.
Por isso, o que está acontecendo aqui no Brasil é tão fascinante. Como você deve saber, o governo federal está considerando a criação do Plano Nacional de Comunicação M2M e Internet das Coisas. Os objetivos do plano incluem promover a padronização de sistemas de IoT, criar uma legislação para lidar com questões como privacidade, segurança e direitos do consumidor em serviços de IoT e lançar programas de financiamento da IoT.
Dessa forma, o diálogo aqui no Brasil é muito mais convincente do que em muitos outros lugares. O país começou a definir de fato o enorme potencial que a IoT apresenta nos mercados entre empresas e entre empresa e consumidor, incluindo serviços públicos e sustentabilidade, cidades inteligentes, soluções industriais, automação doméstica e monitoramento remoto de pacientes.
Mas foi além de simplesmente relacionar indústrias ou setores que poderiam usar a IoT… Com mais de nove milhões de conexões entre máquinas (M2M), o governo precisava definir especificações e enfrentou o desafio:
- Identificou 100 milhões de dispositivos específicos para os serviços públicos (eletricidade, água, gás) que, se habilitados para IoT, poderiam precipitar a realidade da medição inteligente e pagamento antecipado.
- Chamou a atenção para o fato de que os 40 milhões de automóveis nas estradas representam uma enorme oportunidade para conectividade e aplicativos de OEM e pós-vendas.
- Por fim, com todos os municípios agora responsáveis por gerenciar sua iluminação pública, observou que um projeto de iluminação inteligente abrangeria mais de 15 milhões de lâmpadas nas mais de 5.500 cidades do Brasil, o que proporcionaria uma enorme economia de custos.
É claro que muitos desafios acompanham essas oportunidades. Mas o governo já está enfrentando e estruturando alguns deles.
Talvez o mais importante é ter identificado a necessidade de reduzir os impostos sobre dispositivos IoT – diminuindo ou removendo os impostos para dispositivos M2M, de modo a não serem tratados da mesma forma que celulares completos. Além disso, conforme mencionado anteriormente, a iniciativa também está buscando lidar – também em nível federal – com requisitos e regulamentos relacionados à segurança, privacidade, padronização, direitos do consumidor, entre outros. Embora seja certamente verdade que a supervisão e o envolvimento do governo não garanta automaticamente bons padrões e regulamentos que beneficiem o consumidor, só o fato de ter uma conversa sobre isso é muito melhor que não ter.
Isso nos leva à próxima questão: o Brasil consegue mesmo fazer isso sozinho?
Existe a possibilidade de o Brasil criar, para os fornecedores, um conjunto de padrões que seja diferente do usado em outros países (o que causaria uma incompatibilidade internacional). Afinal de contas, a história da TI está cheia de exemplos de tecnologias que sofreram as consequências trágicas desse problema. Mas, como acontece com celulares, cartões de crédito inteligentes e um punhado de outras tecnologias, é mais provável que ter uma discussão ativa leve a tecnologias que funcionem bem e que isso suplante essas outras versões menos pensadas, quando estas apresentarem os inevitáveis sinais de desgaste.
Enquanto profissional de TI e representante de uma empresa com foco em gerenciamento, desempenho e sucesso da TI, fico feliz em ver que, aqui no Brasil, a Internet das coisas trouxe consigo uma inovação do pensamento.
Só nos resta torcer para que o resto do mundo fique atento.