Carreira Dev

1 set, 2016

Agora é a vez do design?

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Uma breve reflexão sobre como o design vem assumindo o protagonismo nos mercados digitais mundo afora:

Há alguns anos vem amadurecendo um movimento que traz o design à mesa das grandes decisões nas corporações ao redor do mundo, em especial, mas não apenas no meio digital.

Em 2013, a maior empresa de consultoria em TI do mundo, a Accenture, finalizou o processo de aquisição da Fjord, uma renomada consultoria global em design e inovação. Já em julho de 2015, Jonathan Ive, o principal nome do design da Apple, foi alçado ao recém criado cargo de Chief Design Officer na empresa, após ser promovido do cargo anterior de Vice Presidente Sênior de Design, tornando-se o 3º executivo C-level da companhia, seguindo o CEO, Tim Cook e o CFO, Luca Maestri. Em um caminho alternativo, mas não menos relevante, a IBM destinou 100 milhões de dólares a uma estratégia pautada na contratação de mil designers até o ano de 2018.

Os exemplos que jogam luz sobre tal fenômeno se multiplicam: McKinsey adquirindo a Lunar, a própria Accenture realizando ainda a aquisição da Chaotic MoonEy comprando a SerenPwC comprando a BGTPepsiCoPhillipsJohnson & JohnsonHyundai, criando o cargo de CDO em suas estruturas são apenas parte do movimento.

Outros sintomas somam-se aos já mencionados na busca pelo entendimento do que nos traz a este cenário de transformação na percepção sobre o valor do design. Em um relatório sobre Design em Tecnologia de 2015, vê-se que desde 2010, 27 startups co-fundadas por designers haviam sido adquiridas por empresas como Google, Facebook e Adobe, dentre outras. Evan Spiegel, cocriador do Snapchat, por exemplo, estudou Design de Produto em Stanford (vale lembrar que o Snapchat já recusou uma oferta de compra de US$ 3 bilhões feita pelo Facebook). Outras 5 startups levantaram ainda mais de US$ 2.7 bilhões em investimentos e 6 firmas de Venture Capital convidaram designers para suas equipes.

“To achieve great design, you need great business thinking/doing to effectively invest in design and you need great engineering to achieve unflagging performance.” John Maeda

Pois bem, e o que é que está por trás deste movimento? Bom, seguramente não há uma resposta única para a questão, mas sim uma conjunção de fatores que trouxeram à tona um pouco mais de conhecimento sobre o poder transformador do design.

Durante muito tempo, o design foi erroneamente percebido como algo cuja finalidade era apenas tornar as coisas bonitas, mais até do que fazê-las funcionar. Quantas vezes você já não ouviu a afirmação de que um determinado produto tem um design moderno ou um design diferenciado?

Parte desta orientação deve-se à abordagem de marketing do século XX, na qual a intenção era fazer com que as pessoas desejassem determinado produto. No entanto, o próprio contexto da globalização, com o surgimento de ferramentas de comunicação digital, como blogs e redes sociais, tornou mandatória a revisão desta abordagem. Não basta mais parecer ser desejável, é preciso sê-lo de fato. Do contrário, há o perigo de se gerar prejuízos quase irrecuperáveis para uma empresa por conta do efeito cascata que um comentário negativo sobre um determinado produto ou serviço pode causar, seja em uma rede social, como o Twitter, seja em sites especializados, como o Reclame Aqui.

Hoje, parte das companhias substituem o cargo de CMO (Chief Marketing Officer) pelo CDO (Chief Design Officer) porque o produto torna-se o próprio marketing. Veja bem, não estou decretando aqui a morte do marketing, mas sim uma inversão de papéis. A verdade é que não basta mais convencer que o produto é ótimo. O produto tem que, de fato, ser ótimo. No final, o marketing do século XXI é orientado pela abordagem onde o objetivo é fazer produtos que as pessoas queiram.

“Some people think design means how it looks. But of course, if you dig deeper, it’s really how it works.” Steve Jobs

Esta abordagem leva à condição sine qua non de se trazer o usuário para dentro da equação e é neste momento que o design sai das sombras e aparece de forma reluzente. Por definição, a orientação centrada no usuário é inerente à sua prática. O design tem, em sua essência, a capacidade de unir diversas disciplinas em favor das pessoas e é exatamente este o viés que o torna tão especial neste momento.

Diante de um cenário de transformação, surgem cada vez mais buzzwords que procuram aproveitar a confusão criada para estabelecer papéis e processos que se dizem inovadores. Surgiram em meio a este momento o Design Thinking, ‘comercializado’ pela IDEO, o Design Sprint que ficou famoso com o Google Ventures, o User Experience Designer, que já disputa espaço com o novo papel Customer Experience Designer etc. No fim, e aí é apenas a minha opinião pessoal, são apenas novos rótulos e embalagens para os velhos papel e o processo do design, puro e simples.

Além disso, o custo de produção com o surgimento da computação na nuvem reduziu consideravelmente os custos de se criar novos negócios, o que colocou no jogo novos players e ajudou a orientar o foco para a experiência de uso. Os smartphones e as App Stores endereçaram bem a questão da distribuição do produto entregando o potencial de alcance global a praticamente qualquer iniciativa e a um custo próximo de zero.

Foi neste contexto que surgiram o Uber e o AirBnb, por exemplo: em um cenário de abundância, conectaram consumidores e fornecedores por meio de plataformas e contextos de experiência diferenciada e, com isso, incomodaram players estavelmente estabelecidos no jogo até então. Veja bem, é muito mais fácil e barato para o AirBnb disponibilizar mais um quarto para os seus usuários do que uma rede de hotéis, certo? Isto significa que o custo marginal para este padrão de modelo de negócio é próximo de zero o que, no curto prazo, libera budget para investimento na experiência planejada.

No Reino Unido, o segundo maior mercado de design do mundo, os resultados são expressivos e também nos ajudam a compreender melhor o contexto atual: em 2015, a contribuição do design para a economia britânica somou 71.7 bilhões de libras, o que representa 7.2% do GVA, segundo o Design Council.

Em 2015, no Design for Europe Summit, realizado em Bruxelas, speakers de grandes e representativas empresas britânicas, como Kone, Zumtobel e Electrolux, falaram sobre a habilidade que o design tem de liderar o processo de inovação disruptiva e sustentável por colocar o foco no usuário no coração das estratégias de negócio.

Segundo Annabella Coldrick, do Design Council, o design é um elemento crítico para o futuro da nossa economia por ser uma força competitiva que potencializa a produtividade e traz diferenciação para produtos e serviços em um mercado global. Para ela, nós estamos em uma nova era para o design, onde designers tem aumentado a demanda para o processo de repensar os problemas e criar novas soluções para o mercado como um todo, desde o setor privado até os serviços públicos.

Por fim, o Brighton Fuse demonstra que as companhias que fizeram parte de processos de fusão que combinaram expertise em tecnologia com os skills de design e inovação têm crescido mais rapidamente do que a sua economia local e mais de 10 vezes do que a economia britânica como um todo. Impressionante, não?