Essa é a pergunta que sempre me faço toda vez que vou a locais onde se fala e se faz tecnologia. Ainda é bastante desproporcional o número entre mulheres e homens na área de TI, pois as mulheres ainda são uma pequena minoria. Aliás, não faz muito tempo que eu mesma aprendi que posso ser “da tecnologia”. O mais estranho é que minha trajetória sempre me levou a este mundo, mas nunca me senti capaz. Mas apesar deste sentimento, tomei uma decisão: Serei programadora!
Espero que este artigo também te ajude a tomar essa decisão.
O meu despertar na Campus Party e FINIT Minas Gerais 2017
Minha inserção no mundo da tecnologia começou de forma bem tímida. Comecei estudando design gráfico no Senai aqui de MG, mas mesmo após terminar o curso, sentia ainda falta de algo que me motivasse de verdade. Em 2008 viajei pela Europa em busca de respostas. Lá comecei a trabalhar como webdesigner e por isso foquei no Flash + Actionscript (na época eram tecnologias relevantes) para dar meus primeiros passos no universo da programação.
Desde que comecei a me aventurar nesta área, tenho conhecido muitas pessoas bacanas, como o programador muito promissor, Tiago Ruas, que além de me apresentar esse novo mundo mundo do front-end, me deu dicas valiosas sobre React. A partir desse ponto, passei a pesquisar ainda mais e por isso acabei participando da CPMG2.
Lá, participei de muitas palestras inspiradoras, como a do Marcos Palhares, o pioneiro no voo civil ao espaço. Além disso, participei de um workshop sobre “Introdução ao React”, por Diego Pinho, que me fez ter uma epifania: “Poxa, consegui rodar aqueles códigos complexos sem erros. Sim, posso ser programadora!”. Alguns dias depois acabei conversando com o instrutor que compartilhou uma série de dicas e que me convidou a compartilhar minha experiencia aqui com vocês. Até brinquei com ele – “Nossa que estímulo sinistro”!
Esse tipo de convite mexe um tanto com a gente. Para escrever este artigo, pensei sobre tudo isso e me deparei numa grande busca por minhas raízes como mulher, minhas referências femininas na tecnologia, entre tantos outros pensamentos, uma grande busca por autoconhecimento. É muito bom perceber que há, sim, muitas influências femininas na tecnologia, apesar de não serem tão reconhecidas.
Inspirações
Camila Achutti, a fundadora de um dos meu blogs favoritos, o Mulheres na Computação, me inspira muito seu engajamento na luta contra o gap de gêneros na tecnologia. Em sua apresentação no TEDxUSP, Camila falou sobre o tema “Mulheres na Computação”. Lá, ela perguntou: “Onde estão todas essas mulheres?” – e questionou ainda mais:
“Que são a maioria no ensino superior, que estudam, em média, mais tempo; mas que quando a gente vai falar de tecnologia e inovação, elas são uma minoria esmagadora. (…) Esmagadora por que? Quando eu pergunto pra vocês, quantas de vocês se consideram mulheres na tecnologia, a gente tem medo, a gente tem medo de levantar a mão e falar que a gente sabe de tecnologia, porque sabemos que alguém vai falar que isso é coisa de menina.”
Sempre guardo esta fala comigo pois reflete meu sentimento em relação ao setor de TI. Uma das minhas maiores lutas sempre foi conseguir me ver como programadora. Como se eu carregasse comigo uma paixão quase que oculta, platônica.
Além disso, não posso deixar de falar que fico muito otimista em ver palestras tão encorajadoras quanto das meninas da She’s Tech: Gedeane Kenshima, Leticia Pozza, Babi Lins, e claro, Camila Achutti. Entre tantas outras mulheres fantásticas e engajadas, acredito muito que podemos aumentar mais ainda esse número de participantes mulheres em eventos como esses.
Sobre o Medo de Errar
Ainda em sua apresentação no TEDxUSP citada anteriormente, Camila refletiu sobre uma realidade que permeia o universo feminino – O medo de errar:
“As meninas são criadas para serem boas em tudo. A gente não pode fracassar, a gente tem que ser um bom partido, se a gente não fizer tudo direitinho, a sociedade não vai pra frente. E com tecnologia é muito difícil fazer tudo certo. Em inovação, se nunca ninguém esteve ali, qual a sua obrigação de acertar? Nenhuma! – Mas, nós como gênero construído feminino, a gente tem muita obrigação de acertar. E aí a gente se sente mal de lidar com inovação e tecnologia. A gente tem que ficar muito atenta para não se boicotar nessa nova sociedade.”
As vezes é só isso, uma simples busca por suas origens. Eu precisei estudar arqueologia para lidar melhor com as minhas inseguranças e com essa realidade, para enfim, adentrar no mundo da tecnologia por outros caminhos.
Percebendo a minha trajetória, participei da construção de vários sites enquanto estive nessa “outra profissão”, nunca de fato abandonei a tecnologia. Sim, tive muito suporte de vários amigos homens programadores nesse percurso, mas também muitas críticas e brincadeiras de mal gosto que não me estimulava a crescer. Engraçado é que essas palavras ecoam no coração. Reconheço que saber aceitar críticas é uma forma muito positiva de lidar com os desafios e é um ótimo recurso para o crescimento. Contudo, há críticas que não são construtivas – aquelas que afirmam que você não vai dar conta de tudo isso só porque é mulher. É neste momento que muitas pessoas acabam desistindo, pois cria-se um ambiente de trabalho sexista e depreciativo. Mas esses são outros tempos.
Hoje trabalho com desenvolvimento front-end, estudando a linguagem JavaScript, fui uma das finalistas da pré-aceleradora de StartUps, da Faculdade Cotemig, com um projeto de Serious Games para Educação, e em 2018 darei início ao curso de Jogos Digitais pela PUC-MG.
Nunca me esquecerei de uma pergunta que me fizeram um dia: Você é digna de ser programadora? Essa é uma palavra tão forte me fez pensar muito sobre quem sou. Hoje eu consigo dizer que sou, sim, digna, como todos são, independente de qualquer classificação de gênero. Antes de tudo, o importante é a paixão que nos move por esse maravilhoso mundo da tecnologia, e o que dela gera como frutos.
Nesse instante, se meu relato inspirar outras pessoas a se permitirem viver essa quest, já posso afirmar que realmente avancei mais um level desse game.