Desenvolvimento

10 dez, 2010

Empresas investem muito em manutenção e desperdiçam seu potencial de inovação

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Os investimentos realizados pelas empresas na área de TI são altos e mesmo em um período de instabilidade, após uma grande crise econômica mundial, a tendência é de que esses investimentos sigam aumentando. Essa afirmação é baseada em pesquisas de empresas especializadas. Por exemplo, em meados deste ano, a Morgan Stanley divulgou dados comparativos entre o ano passado e o atual indicando que após uma queda de 1,8%, durante o auge da crise, a previsão para este ano é de que os investimentos em TI aumentem em 3,2%.

Por outro lado, grande parte desse investimento está focado na manutenção dos processos de negócio já implementados e não em inovação. Esse cenário é apresentado com muita propriedade por Chris Murphy no artigo “Por que a TI Deve Voltar a um Modo de Crescimento” (Information Week, Junho/2010). O autor mostra, através de alguns casos reais, como a inovação pode gerar aumento de receita, além de demonstrar, através de comparativos entre pesquisas, o quanto a inovação está perdendo espaço: enquanto no ano passado 40% dos líderes de TI consideravam inovação prioridade, neste ano o percentual caiu para 32%.

Ou seja, as empresas estão investindo em TI, mas estão gastando a maior parte dos recursos em manutenção de sistemas já existentes, em vez de utilizá-la como uma ferramenta para impulsionar os negócios. Obviamente, ninguém está nessa situação por opção, pois os altos investimentos em manutenção são um reflexo do esforço que a TI tem concentrado nesse processo. Diante desse cenário, a questão que fica é: como diminuir esse esforço, manter os sistemas em dia e ainda ter tempo de atualizá-los para as novas tecnologias?

Pode não parecer, mas a resposta é simples. Analisando um pouco mais essa situação, vemos que a empresa como um todo foca no negócio e vê a tecnologia como recurso, porém o foco da TI está na tecnologia, e o negócio é algo a se conhecer. Ou seja, essa parceria está mal fundamentada desde o seu princípio. Para estar realmente alinhada com a empresa, a TI também precisa focar no negócio, assim como deve aprender que também pode utilizar a tecnologia como um recurso, mas nunca como se fosse área fim.

No gerenciamento da infraestrutura de hardware, temos alguns exemplos sobre mudança de foco. No passado, as empresas compravam computadores de qualquer fornecedor e deixavam por conta da TI a tarefa de mantê-los funcionando. Hoje, já existe uma preferência por fornecedores confiáveis com serviços de garantia de qualidade. Devido à necessidade constante de manutenção e de reposição de suprimentos, muitas empresas estão optando pelo aluguel de impressoras acompanhado de um serviço de manutenção. Sem falar na opção de serviços de hosting protegidos por contratos de SLA. Em todos os casos, a equipe de TI é liberada de atividades estritamente técnicas e que não agregam valor para o negócio da empresa.

Na área de sistemas, os problemas se tornam um pouco mais complexos: o próprio gerenciamento deve ser mais focado no resultado do que em práticas excessivamente técnicas. O famoso Chaos Report, do Standish Groups, mostra todos os anos que as boas práticas tradicionais de gerenciamento de projetos não têm a mesma eficácia sobre o gerenciamento de projetos de software. Por outro lado, práticas ágeis de gerenciamento como o Scrum estão obtendo resultados positivos ao propor novas abordagens como a entrega contínua de software e estão chamando a atenção de entidades importantes como o PMI. Essas práticas são fundamentadas em um manifesto – Manifesto Ágil – que valoriza software em funcionamento e a colaboração com o usuário final.

Por fim, uma das áreas mais críticas é a de desenvolvimento, pois é necessário traduzir cada processo de negócio em linhas de código. Aqui, o problema de alinhamento entre empresa e TI fica bem aparente, pois as linguagens de programação são generalistas – permitem o desenvolvimento de qualquer tipo de sistema – e com isso acabam tendo uma sintaxe muito técnica e distante do contexto de negócio. Para percorrer essa distância, é gerada, através de etapas, uma série de documentos. Cada um desses documentos representa um passo a mais na transformação de informação de negócio em informação técnica. Toda essa estrutura acaba tornando o desenvolvimento demorado e a manutenção (gerenciamento de mudanças) muito mais pesada.

Felizmente, existe uma alternativa a esses documentos e a essas etapas, pois cada vez mais nos deparamos com tecnologias, ferramentas e frameworks voltados para o desenvolvimento de sistemas de negócio. Cada um deles à sua maneira procura liberar o desenvolvedor da codificação estritamente técnica, para que ele possa focar naquela que envolve regras de negócio. Um bom exemplo de como existem soluções maduras nessa área é o GeneXus. Essa ferramenta facilita o desenvolvimento de sistemas de negócios através de uma linguagem de programação própria, declarativa e em alto nível. Além disso, o executável é gerado em linguagens disponíveis no mercado como Java, C# ou Ruby. Essa característica permite portar uma única fonte para diferentes plataformas e atualizar facilmente o sistema para novas tecnologias que possam surgir. Este ano, por exemplo, foi adicionado um gerador para Smart Devices (Android, IPhone e Blackberry).

Os exemplos acima em diferentes áreas da TI (hardware, gerenciamento, desenvolvimento) mostram como a TI pode gerar resultados mais rapidamente quando está focada na busca de soluções para os problemas da empresa. Principalmente em comparação a quando ela está focada em se aprimorar tecnologicamente antes de construir a solução. Essa mesma abordagem facilita a manutenção, mas também propicia a inovação, pois a TI terá um contato e um entendimento maior dos negócios da empresa e poderá sugerir soluções, nas quais as demais áreas nem mesmo esperavam.

Ou seja, existem soluções que permitem a mudança do foco da TI para a área de negócio. Uma vez feita essa mudança, a mesma solução que vai facilitar a manutenção será aquela que irá tornar a adoção de novas tecnologias mais fácil. Para isso, é necessário que tanto a empresa quanto a TI estejam dispostas a fazer a mudança e, uma vez que os resultados comecem a aparecer, o esforço inicial será recompensado.