A área de tecnologia é tão incrível quanto tóxica. Enquanto de um lado temos fóruns, eventos e meetups sobre qualquer assunto que você pode imaginar (ex: Java, JavaScript, Python, C, PHP, etc), comunidades e iniciativas espetaculares (como o próprio iMasters, que oferece um espaço democrático e gratuito para que profissionais de todo o país possam compartilhar conhecimento); do outro temos conflitos de egos, intrigas, panelas e preconceitos – é complicado.
Eu não me engano e sempre tive consciência de que em qualquer ambiente teremos pessoas com quem simpatizamos, outra que convivemos e aquelas que não gostamos. Isso faz parte da vida. Felizmente, em minha trajetória como desenvolvedor de software tive que lidar com poucas pessoas mal intencionadas, rudes e ignorantes.
Porém, tenho acompanhado uma tendência muito triste no mercado e nas comunidades: pessoas que acham que são melhores que outras apenas pelo fato de terem mais facilidade (e experiência) para trabalhar com desenvolvimento. Isso acaba sendo refletido em atitudes rudes que prejudicam a vida e tiram os brilhos nos olhos de quem está dando seus primeiros passos na computação.
Se você alguma vez já ouviu alguém dizer isso (ou se você mesmo disse), pode estar lidando com uma pessoa com atitudes lamentáveis:
- “Se não consegue, melhor desistir”
- “Isso você já deveria saber”
- “Não é assim que se faz, deixa que eu faço”
- “Você não aprende?”
- “Você demora muito pra fazer as coisas”
- “Eu já sei como fazer, não preciso aprender”
- “Você ainda precisa comer muito arroz e feijão se quiser fazer alguma coisa”
Estou falando deste assunto porque recente o Linus Torvalds disparou um e-mail bastante inesperado onde ele pede desculpas por seu comportamento agressivo e rude com programadores durante todos esses anos. Neste e-mail, além de se dizer extremamente arrependido de seu comportamento tóxico, o fundador do Linux assumiu que vai procurar ajuda para aprender a portar-se de forma diferente e que irá cessar funções no desenvolvimento do kernel.
Não há qualquer confirmação sobre o que motivou estas decisões, mas particularmente achei muito bacana a sua decisão (e espero que ele realmente mude!). O legal é que junto a esta ação, em paralelo, o projeto Linux anunciou que vai passar a ter um código de conduta pelo qual os padrões de comportamento serão definidos. O documento é bastante extenso e inclui partes sobre ser positivo, profissional, acolhedor e inclusivo.
O comportamento do Linus era muito próximo ao que está descrito no texto do meu amigo William Oliveira, “Não seja um(a) babaca de comunidade”. Lá ele faz uma reflexão bem extensa e interessante sobre o comportamento dos profissionais de tecnologias no mercado e nas comunidades. Há muito sobre o comportamento de pessoas:
- Experientes em relação a quem está começando;
- Que são endeusadas pelo simples fato de terem uma cognição mais apurada para tecnologia;
- Do sexo masculino em relação ao feminino;
- Que acreditam que tudo é fácil e quem não é capaz tem “preguiça” de aprender;
- Que não entendem que infelizmente o nosso país tem uma desigualdade social muito grande, o que significa que muitas pessoas não têm oportunidades de trabalho e aprendizado realmente bacanas.
Meu objetivo não é passar lição de moral e muito menos me intitular o dono da verdade. O que eu espero é que assim como eu, você também reflita sobre o seu comportamento pessoal e profissional com os seus colegas, amigos e familiares. Às vezes falamos e fazemos coisas que nos distanciam das pessoas e nos tornam desagradáveis.
Você não é obrigado a ser amigo(a) de todo mundo, mas precisa saber respeitar as diferenças. Se você tem facilidade para aprender mas não se sente à vontade ensinando e compartilhando, está tudo bem, desde que você saiba respeitar as pessoas que não tem a mesma capacidade que você.
Se você que está lendo está do outro lado, ou seja, está iniciando na área e se sente incomodado com essas atitudes mesquinhas, só tenho uma dica: não desista. Como eu comentei anteriormente, em todo lugar haverá pessoas diferentes, você precisa encontrar e se envolver com pessoas que te respeitem e te ajudem genuinamente. Há muita gente boa com iniciativas maravilhosas por aí. Eu mesmo estou sempre à disposição para ajudar com o que eu puder (bora trocar uma ideia! @DiegoPinho).
Por fim, gostaria de encerrar com uma citação do Mário Sérgio Cortella que acho muito válido para a nossa área: “O conhecimento serve para encantar as pessoas, não para humilhá-las”.