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25 abr, 2024

Falta representatividade indígena no mercado de TI

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Em 1943, quando discussões sobre representatividade raramente eram reverberadas no âmbito governamental, Getúlio Vargas instaurava a data de celebração dos povos originários. O até então denominado “Dia do Índio” foi precursor de uma série de movimentos étnico-sociais que incluíram, também, a contestação da própria terminologia, hoje considerada pejorativa.

A data representou um importante avanço na conscientização sobre as comunidades e suas distinções, e desencadeou discussões sociais mais profundas, em especial sobre o espaço ocupado – e não ocupado – pelos povos indígenas no mercado de trabalho. Contudo, apesar das riquezas culturais e do conhecimento ímpar sobre o ambiente em que estão inseridos, os indígenas ainda enfrentam desafios consideráveis na sua formação profissional, já que as barreiras, enraizadas na sociedade, dificultam o acesso à educação formal e especialização de qualidade.

Além de muitas comunidades indígenas estarem localizadas em áreas remotas, onde escolas e instituições de Ensino Superior são escassas ou inexistentes, a falta de professores capacitados e de materiais didáticos adaptados à realidade cultural desses grupos prejudica o seu processo de aprendizagem.

E em um cenário positivo, mesmo quando indígenas conseguem superar esses obstáculos, ingressando no mercado, outros desafios ganham forma, como a discriminação e o preconceito no ambiente profissional. Relatos de estereótipos negativos por parte de colegas não são incomuns, o que mina suas motivações e, consequentemente, suas carreiras.

Representatividade indígena

Um reflexo ainda mais forte desse contexto é visto no setor de Tecnologia da Informação. Os retornos que temos tido em levantamentos e estudos de mercado realizados pelo IT Forum espelham não só a falta de espaço e as barreiras sistêmicas enfrentadas por essas comunidades na área, como também as consequências negativas dessa lacuna. Na edição mais recente do Diagnóstico Comportamental dos Profissionais de TI, entre 299 entrevistados, apenas um afirmou ser indígena. Esse único profissional não chega a representar 1% de sua raça no mercado tecnológico, que busca ser disruptivo – e será que, de fato, é?

Essa falta de representatividade na área tem resultado em perdas de perspectivas valiosas e de diversidade de pensamentos dentro do setor, além de relativizar a exclusão socioeconômica desses povos, privando-os das oportunidades que o ramo oferece.

Programas governamentais, por meio de políticas públicas, instituições privadas e iniciativas sociais, até têm trabalhado para implementar ações educacionais e de desenvolvimento profissional para indígenas,  mas os esforços contínuos ainda não chegaram nem perto da equidade racial no ambiente corporativo.

E para superar esse contexto, essencialmente, será necessário maior empenho na promoção de alternativas para acesso à formação em TI dessas comunidades. Reconhecer e valorizar as habilidades e contribuições dos povos pode render frutos, em regiões onde a tecnologia ainda não fincou presença significativa, por exemplo. Essa postura, seja na área de pesquisa ou de operação, geraria uma cadeia profissional extremamente criativa e estimularia a inclusão socioeconômica do país. Sem contar na possibilidade de desenvolver a chamada Green IT ou Mercado de Tecnologia Verde, que consiste na criação de práticas ambientalmente sustentáveis.

Portanto, é crucial que, muito mais do que fortalecer o avanço étnico-social, busquemos acelerar o processo que nos leva a um futuro integrado, onde todas as vozes são ouvidas e valorizadas no mercado de trabalho. Que a equidade racial não seja abstrata, como tem sido, e sim concreta.