Comecemos do início: por que você quer ser Tech Leader?
A resposta mais comum é que é para fazer mais dinheiro, e esta resposta, apesar de honesta, não responde a pergunta. Existem milhares de formas de fazer dinheiro, mas por que sendo Tech Leader? Espero que, com este artigo, você possa refletir sobre isso e responder a pergunta com clareza dos caminhos a seguir em sua carreira.
Quando se pensa nesta transição, de Dev a Tech Leader, algumas pessoas podem se deparar com temas que consideram “sensíveis” e desafiadores, como por exemplo: Pessoas. Normalmente, este é o maior dilema. É natural que profissionais com perfis mais técnicos não se sintam confortáveis com a ideia de lidar com problemas comportamentais dos outros, afinal, se você escolheu uma área das ciências exatas, talvez seja justamente por ser melhor com lógica do que com sentimentos, não é mesmo?
Mas o que é importante entender em primeiro lugar, é que o mundo é feito de pessoas. Tudo é feito por pessoas e para as pessoas. Então mesmo que você escolha a carreira de especialista, ainda assim terá que lidar com pessoas o tempo todo. Não importa o quão bom seja, você terá 40 horas semanais para produzir o que é capaz de produzir com suas habilidades. Você pode aumentar a sua carga horária e trabalhar por 80 horas, mas com isso, você vai produzir, no máximo, o dobro do que produz hoje. E aí você tem duas opções:
1. tornar-se especialista em algum assunto que seja dominado por poucos;
2. ou, aumentar a sua influência sobre as pessoas para que seja capaz de gerar mais valor com a mesma quantidade de trabalho.
Se tornar Tech Leader, é sobre a segunda opção. À medida que crescemos em senioridade, é esperado que aumentemos nossa influência sobre os outros, que tenhamos capacidade de dar direcionamentos corretos, apoiar em tomadas de decisões rápidas, além de saber ouvir e ponderar opiniões contrárias. Muitas pessoas tendem a evitar a carreira de liderança para não ter que lidar com isso, porém, é inevitável. Isso se você tem interesse em escalar a sua entrega de valor de maneira exponencial, é claro.
Partindo deste ponto, o que muda entre um dev com um cargo de maior senioridade, como staff, um líder técnico ou gestor é a liderança formal. Esta, por sua vez, traz alavancas mais potentes na geração de valor, mas também vem acompanhada de grandes responsabilidades.
Pode parecer difícil e desafiador trilhar este caminho, e realmente é, mas podemos desmistificar um pouco a coisa toda. E é o que buscarei fazer ao longo do artigo, através deste mapa com 5 steps para o seu desenvolvimento de Dev a Tech Leader:
1º step: Desenvolva suas habilidades técnicas
Nesta jornada, seu primeiro objetivo deve ser buscar ser o melhor ou a melhor desenvolvedora que conhece. Você já reparou na infinidade de habilidades que um bom Dev precisa ter? Aqui vão algumas, para exemplificar:
- Lógica apurada;
- arquitetura escalável e extensível;
- código limpo, legível e elegante;
- conhecer ferramentas que já resolvem o problema que você tem;
- saber dar nomes;
- saber abstrair no nível adequado;
- saber testar;
- ser produtivo com as ferramentas de desenvolvimento;
- dominar a IDE com destreza, e etc…
Muitas habilidades são importantes para tornar-se um bom líder, mas todas elas precisam ser construídas em uma base técnica forte. Se você se propõe a ser líder de um time de desenvolvimento, seus liderados precisam se espelhar e se inspirar em você. Isso não quer dizer que o Tech Leader necessariamente precisa ser o melhor dev do time, mas sim, reforça a ideia de não parar a busca por ser o melhor que conhece. Envolve não parar de estudar, praticar e ser inspirado por pessoas melhores que você. A partir do momento em que for o (a) melhor, é porque parou de procurar. Junte-se a pessoas melhores que você, leia conteúdos de pessoas melhores e siga pessoas melhores que você.
Muitos profissionais, quando se deparam com desafio da liderança, focam em habilidades com pessoas, como gestão de processos, agilidade… Tudo isso é importante, e falaremos adiante, mas no cenário de Engenharia de Software, são acessórios, ou melhor, ferramentas, que usamos para ao final de tudo, produzir software.
No processo de produzir software, quanto mais dominarmos as ferramentas, mais resultado alcançamos e quanto mais habilidade com pessoas, mais fácil será formar um time engajado e de alta performance. Mas nunca se esqueça que o intuito principal de tudo o que você está fazendo é produzir software.
Não troque os fins pelos meios e aqui vão algumas dicas:
- Nunca pare de estudar;
- Leia casos de uso de arquiteturas escaláveis;
- Aprenda novas ferramentas mesmo que nunca vá usá-las;
- Entenda os conceitos fundamentais da computação;
- Revise código dos outros;
- Revise seus códigos antigos.
2º step: Comporte-se como um líder enquanto ainda não é
Imagine os comportamentos que espera que todo líder deve ter e comece a treinar seu comportamento nesta direção. Seja propositivo, colaborativo, não jogue as coisas por cima do muro, foque no propósito e na missão, e não apenas nas suas tarefas.
Além disso, leia bons livros, que te darão o conhecimento básico para começar a treinar a liderança. Anote estas três recomendações:
Mindset, de Carol Dweck
Este livro fala sobre dois tipos de mentalidade: a fixa e a de crescimento. Na mentalidade fixa a pessoa acredita que suas limitações e capacidades já estão definidas. Dessa forma, a mentalidade fixa evita desafios e desiste ao encontrar obstáculos. Por outro lado, na mentalidade de crescimento, a pessoa acredita que todas as habilidades podem ser desenvolvidas. Isso leva a aceitar os desafios e perseverar nos obstáculos. Para além da recomendação do livro, recomendo mais que procure desenvolver uma mentalidade de crescimento no seu comportamento como líder.
O Lado Difícil das Situações Difíceis, de Ben Horowitz
O autor é um dos fundadores da firma de investimentos Andreessen Horowitz e um dos mais respeitados empreendedores do Vale do Silício. Ele aborda temas como tomada de decisões difíceis, demissões, mudanças de estratégia e cultura organizacional. Através de histórias reais, ele mostra que não existem soluções simples ou fórmulas mágicas, mas sim uma necessidade constante de adaptação, resiliência e aprendizado.
Os Cinco Desafios das Equipes, de Patrick Lencioni
Particularmente, não acho esse livro tão bom, mas ele apresenta um framework de trabalho em equipe que vale por todo o livro. É uma pirâmide que contém as 5 disfunções que uma equipe pode apresentar. E, como na Pirâmide de Maslow, os elementos da base são mais importantes e fundamentais que os do topo.
Na base da pirâmide temos o elemento Falta de Confiança, que leva a um comportamento de invulnerabilidade entre as pessoas do time. Ao evitar a vulnerabilidade, não conseguimos ser 100% honestos, o que leva ao problema do segundo nível da pirâmide: Medo do Conflito. A ideia não é explorar a pirâmide aqui, mas fica a recomendação, pois com este conhecimento, você será capaz de observar com mais consciência as dinâmicas que acontecem na sua equipe de trabalho.
Aqui vão mais algumas dicas rápidas a respeito de comportamento, que considero essenciais em sua jornada de desenvolvimento de Dev a Tech Leader:
- Treine a sua comunicação;
- Leia para aumentar o seu vocabulário;
- Treine o seu tom de voz;
- Treine a sua escrita;
- Treine para explicar conceitos técnicos para pessoas não técnicas;
- Tenha escuta ativa;
- E aprenda um pouco sobre comunicação não verbal.
3º step: Exercite a sua influência
Para além de uma pessoa que soluciona problemas com maestria, é importante que você seja capaz de treinar e orientar os outros para resolver problemas, atuando como um mentor (a). Para isso, é muito importante saber quando é necessário abrir mão da sua posição.
Já conheci profissionais altamente habilidosos como desenvolvedores, mas que perdiam a capacidade de influenciar os outros por não saberem quando era necessário ceder em uma discussão. Neste sentido, aqui vão outras duas recomendações de leitura:
The Manager’s Path, de Camille Fournier
A autora aborda cada etapa da carreira de um engenheiro, desde o início, como contribuidor individual, até o nível executivo de uma organização.
As Armas da Persuasão, de Robert Cialdini
Explora os princípios da persuasão e como eles podem ser usados para influenciar as decisões e comportamentos das pessoas.
O famoso livro “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”, de Dale Carnegie, traz a seguinte frase: “Um homem convencido contra a vontade, conserva sempre a opinião anterior”.
Você quer vencer a discussão ou influenciar positivamente as pessoas? Prefira influenciar positivamente as pessoas e aceitar que você não vai – e não precisa – vencer todas as batalhas.
4º step: Uma das principais responsabilidades do líder é a produtividade do time
Num time de desenvolvimento, o que mais afeta a produtividade é a eficiência do fluxo, ou seja, das etapas que o time percorre para implementar algo. Neste cenário, é papel do líder garantir que o fluxo seja o mais eficiente possível, o que significa, basicamente, encontrar gargalos e fazer perguntas, como:
- É possível diminuir o tempo de revisão de código?
- Temos como diminuir o tempo em que as tarefas ficam esperando pela revisão?
- Como podemos diminuir a quantidade de tarefas em andamento?
Recomendo fortemente que em sua jornada de desenvolvimento, você aprenda sobre os dois frameworks de desenvolvimento mais utilizados: Scrum e Kanban. Conhecer estes conceitos e ferramentas te permitirá escolher aquelas que fazem mais sentido para o contexto do time e seu momento de maturidade.
Um livro bastante interessante para aprender sobre eficiência do fluxo é “The Principles of Product Development Flow”, de Donald Reinertsen. Particularmente, considero este livro de difícil leitura por ser bastante denso. Mas, como tópicos mais interessantes, destaco a importância de trabalhar com lotes pequenos de trabalho. Por “lote de trabalho” estamos nos referindo a tarefas, histórias, Pull/Merge Requests, independente da maneira que você quebrar cada etapa do trabalho. Lotes pequenos reduzem o tempo total do ciclo e a variabilidade do fluxo, também reduzem o risco e a carga cognitiva, além de acelerar o feedback. Para se aprofundar nesse tema, recomendo que leia o meu artigo sobre a importância de se trabalhar com Pull/Merge Requests pequenos.
5º step: Gestão
Percebeu como há outros degraus antes de falarmos em gestão especificamente? Apesar de ser um tema bastante amplo, talvez o ponto mais importante e desafiador deste tópico, seja a formação do seu time.
Quem, em relação às competências técnicas e comportamentais, está faltando e quem não deveria permanecer no time? Estas são duas perguntas importantes, mas a segunda, é a mais desafiadora. Sim, além de saber contratar a pessoa certa, é necessário identificar se alguma das pessoas não está se encaixando ao time.
Como líder, é seu papel mentorar, oferecer feedbacks e dar suporte para as pessoas que estão “ficando para trás” em relação ao momento do time, auxiliando-as a se desenvolverem. Entretanto, nem todos irão apresentar um resultado satisfatório no tempo adequado, então restará a importante decisão de desligá-los do time. Parece duro, mas eu acredito fortemente que essa decisão é a melhor para os dois lados: para o time e para a pessoa.
O livro “Work Rules” de Laszlo Bock, conta a história real de um homem com um pouco mais de 40 anos que já trabalhava há 20 anos na mesma empresa. Em algum momento, a empresa passou por dificuldades financeiras e precisou fazer cortes de pessoal. Este funcionário foi um dos escolhidos e o chefe, ao comunicar o fato, comentou que esperava que ele entendesse, afinal o homem nunca tinha sido um funcionário extraordinário. O autor relata que o funcionário ficou surpreso com essa afirmação, pois ele nunca havia recebido esse feedback. “Se eu tivesse sido avisado ou demitido há 15 anos atrás, eu ainda teria chance de salvar a minha carreira.” – foi a resposta do homem ao seu chefe. Ou seja, a decisão do líder em manter a pessoa que não tinha boa performance impediu que o funcionário tivesse uma carreira de alto crescimento.
…
Em minha visão, estes 5 steps representam um mapa fundamental para você passar de contribuidor individual a líder técnico.
Cada um dos pontos pode e precisará ser estudado de maneira mais profunda, porém comece com um passo de cada vez e considere que este foi o primeiro. Seguindo a ordem de prioridade que sugiro, avance um pouco mais em cada um dos itens e faça isso iterativamente, ou seja, associe todo conhecimento teórico que você obtiver com a vivência do dia a dia da sua equipe e exercite o aprendizado, tentando imaginar o que você faria em cada desafio que a sua equipe enfrenta rotineiramente.
Por fim, tenha em mente que o ponto mais importante é que você é o dono (a) da sua carreira. Não espere as circunstâncias ou outras pessoas te puxarem para cima. É você quem determina a direção e o primeiro voo começa com a coragem de tentar.
Se você busca uma oportunidade de voar alto, considere as vagas abertas no Asaas!