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9 jan, 2013

Como a mobilidade impacta a TI

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Estamos vivenciando um processo convergente de mudanças tecnológicas muito rápidas e de alto impacto. Mobilidade, Big Data, Social Business e Cloud Computing vão mudar de forma radical a maneira  como adquirimos e usamos tecnologias nos próximos anos. Mas, pela velocidade com que elas chegam, nem sempre conseguimos perceber seu alcance. Como exemplo, vamos separar um desses componentes, a mobilidade, e tentar fazer um voo panorâmico de suas implicações.

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Primeiro, sim, como as demais tecnologias, a velocidade das mudanças é acelerada e tende a aumentar ainda mais. Em 2007, surgiu o iPhone e, em 2009, o iPad. Esses dois lançamentos simbolizam essa estonteante velocidade. Em poucos anos, o que era visto como curiosidade, já faz parte das nossas vidas e, mais, está mudando nossos próprios hábitos.

Por parte de muitas empresas e profissionais de TI, a disrupção potencial da mobilidade ainda não foi percebida em sua plenitude. Em muitas situações, a TI levanta barreiras impedindo as empresas de capitalizarem novas oportunidades que a mobilidade nos abre. A causa principal é que a mobilidade quebra pensamentos e processos arraigados, barreira difícil de superar. Vamos olhar o modelo que dominou TI nas últimas décadas e formou a maior base dos profissionais que estão na gestão das áreas de TI. Antes da mobilidade, a computação era restrita a localizações físicas, os locais onde estavam os desktops. Para usar um computador pessoal, nós tínhamos que nos deslocar para o escritório ou para as nossas casas. Com os laptops, começamos a ter máquina portáteis. Podíamos carregá-las para qualquer lugar, mas, claramente, a mobilidade ainda era restrita. Não se consegue usar de forma confortável um laptop em uma fila de embarque… As restrições físicas de acesso limitavam o desenho dos processos de negócio. Tínhamos que criar filas, pois as pessoas que teriam acesso à informação para cumprir determinada tarefa de negócio estava com seu desktop em sua mesa. E tínhamos que chegar a elas para obter essa informação.

Hoje, temos um bilhão de smartphones e em breve chegaremos a dois bilhões. Também temos muitos milhões de tablets e seis bilhões de celulares. Isso significa que quase 70% da população do planeta podem se comunicar a qualquer momento, de qualquer lugar.

Os dispositivos móveis já são parte integrante de nossa vida. Os usamos em praticamente todas as nossas atividades diárias. Aliás, se pensarmos bem, já saímos de casa apenas com nosso smartphone, nossas chaves de casa e a carteira. Em breve, tanto a carteira quanto as chaves estarão embutidas no smartphone. Bastará ele para nosso dia a dia.

Mas a disrupção provocada pela mobilidade ainda não nos alcançou em sua plenitude. Bem, na verdade, já vemos claros sinais dessas mudanças, que são verdadeiras transformações em praticamente todos os setores de negócio. Vamos pegar como exemplo o livro digital dos próximos anos. Hoje, leio um livro no Kindle ou papel e após ler determinado trecho vou ao Wikipedia e ao Google pesquisar determinadas citações, fatos ou eventos que li, para me aprofundar no tema. Ora, imagine se no próprio livro isso for possível. Clico em cima de um nome de uma cidade ou personagem histórico e ele me leva ao Wikipedia e ao YouTube automaticamente. Me indica novos links para me aprofundar no tema e compartilha o parágrafo que me agradou com meus amigos nas plataformas sociais, como Facebook. É um novo livro, e cria novos hábitos de leitura.

No ambiente corporativo, a mobilidade vai mudar os hábitos de trabalho e vai obrigar os atuais sistemas a serem redesenhados para esse novo cenário. Uma empresa cada vez mais móvel e dispondo de smartphones e tablets para seus funcionários não poderá ficar limitada a acessos restritos impostos pela atual padrão teclado-mouse dos ERPs, CRMs e outros sistemas, construídos para o mundo dos desktops. Esses sistemas foram concebidos quando surgiu o modelo cliente-servidor, no qual o cliente era um desktop Windows.

Assim, nas empresas, pela pressão dos usuários que utilizam interfaces intuitivas e simples em seus smartphones e tablets, os desenvolvedores vão ter que buscar um novo modelo conceitual para seus sistemas. Estimativas como a do Gartner apontam que nos próximos anos teremos 4 vezes mais projetos sendo desenvolvidos voltados para equipamentos móveis (leia-se smartphones e tablets) que para PCs e laptops. Essa aceleração de demanda, inesperada e aparentemente pegando de surpresa muitos departamentos e gestores de TI, está obrigando as empresas a reciclarem seus profissionais e a buscarem novas estratégias, técnicas e tecnologias para fazer frente a essa necessidade. Discussões como adotar como modelo o HTML5 ou ambientes nativos, que há dois anos eram temas praticamente desconhecidos e ignorados pela maioria dos desenvolvedores, já são lugar comum nas “conversas de corredor”.

Os gestores de TI têm que tomar decisões rápidas, muitas vezes em cenários de incertezas. A simples migração de aplicações do desktop para tablets, com interfaces lipoaspiradas não é adequado. O conceito e o design por trás revelam as claras diferenças de um sistema projetado para Windows e um para iOS.  Além disso, os dispositivos móveis embutem tecnologias que permitem criar aplicativos totalmente inovadores. Por exemplo, começam a surgir aplicações como a ShopAlerts, baseadas em tecnologias de geolocalização embutidas nos smartphones. Essa aplicação foi criada pela empresa americana PlaceCast, que oferece um serviço bem interessante (ShopAlerts), que envia mensagens de texto aos clientes de seus clientes (empresas como Starbucks, por exemplo) ao identificar que eles estão em determinada região próxima de uma loja, ao detectar a posição geográfica do seu smartphone. Segundo a empresa, 79% dos clientes que recebem a mensagem personalizada tornam-se mais propensos a visitar a loja.

A mobilidade também afeta os hábitos de trabalho. A consumerização desloca o eixo gravitacional do poder de adoção de tecnologias de dentro da área de TI para os usuários. O movimento mais emblemático dessa ruptura de modelos é o BYOD (Bring Your Own Device) e em breve BYOC (Bring Your Own Cloud). A consumerização também começa a afetar as empresas aqui no Brasil. Hoje, já somos o quarto país em numero de smartphones e em mais uns dois anos seremos o terceiro, ultrapassando o Japão. Somos o décimo em tablets e com a entrada de tablets mais baratos no mercado subiremos rápido no ranking. Portanto, consumerização e políticas como BYOD/BYOC não são apenas para países desenvolvidos, mas questão que os nossos gestores de TI têm que começar a enfrentar já.

Claro, nada vem fácil. Temos o desafio da segurança. Surgem malwares e vírus para smartphones. Inexistência de políticas para BYOD também podem levantar questionamentos com auditorias. Mas indiscutivelmente a mobilidade está presente no nosso dia a dia, seja pessoal ou profissional. Aliás, torna-se cada vez mais difícil separar os dois lados da equação… O resultado serão novos hábitos, novas maneiras de se interagir com a tecnologia, e isso deverá estar refletido nas estratégias de TI das empresas.

Sugiro fortemente que as estratégias de TI não ignorem a mobilidade. Não deve haver separação entre as estratégias de negócios, de TI e da mobilidade. O próprio impulso da consumerização também nos leva a um outro aspecto da definição da estratégia: é absolutamente essencial que TI e as linhas de negocio desenhem as estratégias de TI em parceria. Incluir mobilidade na estratégia da organização é um passo além do que vemos hoje na maioria das empresas: ações táticas, de desenvolvimento de algumas apps para atender a pressões emergenciais. O resultado será uma multiplicidade de ações desconectadas que serão uma bomba relógio. Diversas tecnologias, entrando por todas as janelas abertas na empresa, acabarão provocando curto circuito na gestão de TI, quando os usuários exigirem integração das suas inúmeras apps com sistemas legados.

TI deve dar um passo à frente e se posicionar como líder desse processo de transformação para uma “mobile enterprise”. Desenhar uma estratégia de mobilidade integrada à estratégia de negócios, redesenhando processos para aproveitar a potencialidade da mobilidade (eventualmente eliminando atividades não digitais), criar políticas de governança para esse novo cenário (como criando e gerenciando app stores internas e criando políticas para download de app stores externas) e analisar que tecnologias, técnicas e capacitações (design de interface man-to-machine é um novo skill necessário) serão necessárias para cumprir suas tarefas. Não se deve repetir o mesmo erro de uns 15 anos atrás, quando do surgimento da Web. Na época, a maioria dos departamentos de TI deixou os primeiros sites ficarem a cargo de marketing, concentrando-se no que era mais importante, sob seu ponto de vista: implementar os ERPs. Depois, tiveram que incluir os web sites nos processos de negócio (comércio eletrônico), integrando-os aos ERPs, e isso demandou muito retrabalho.

Mobilidade não deve ser deixada sem governança, e portanto TI deve assumir papel de liderança nesse processo. Mas, atenção, não é replicar o modelo atual de controle e dos seus longos processos de homologação, mas considerar que a consumerização é um fator impossível de ser impedido e atuar de forma sinérgica com as áreas usuárias. TI não é mais o pastor das ovelhas, mas deve ser colaborador pró-ativo e advisor da adoção de novas tecnologias pela empresa.