Design & UX

10 jan, 2013

O futuro do tutorial em vídeo

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Olá, pessoal! Neste artigo vou falar sobre algumas das funcionalidades que são muito interessantes e podem ser utilizadas para potencializar o aprendizado que acontece através dos tutorais em vídeo, também conhecidos como as famosas vídeo-aulas.

Figura1_VideoAula

Atualmente, é grande a quantidade de pessoas que procuram tutorias em vídeo para o aprendizado. Esta procura vem crescendo cada vez mais e não são apenas grandes portais de vídeo (como o YouTube, Mevio, VideLog e outros) que estão percebendo a grande procura e popularidade deste tipo de conteúdo. Contudo, apesar de muito acessadas, ainda são poucos os recursos que podem tornar a experiência de aprendizado muito mais do que simplesmente assistir a um vídeo de forma passiva.

Infelizmente, os grandes portais de vídeo apresentam poucos recursos específicos para facilitar o aprendizado por meio de vídeo-aulas, especialmente quando se fala em tutorias de vídeo que mostram como utilizar uma determinada ferramenta. Sim, estamos falando dos famosos tutorias em Photoshop, programação e afins.

Antes de discutir algumas das funcionalidades que veem sendo pesquisadas e que podem fornecer novas possiblidades para o aprendizado com tutoriais em vídeo, vale a pena destacar que este tipo de recurso faz parte de algo maior e que é, muitas vezes, enquadrado como educação à distância. Cito este tópico uma vez que gosto de explicar que, apesar do ceticismo de algumas pessoas, existe muito potencial no ensino e aprendizagem neste formato – basta saber fazer. E isso quer dizer que devemos seguir o princípio de ir além da sala de aula e fornecer recursos que façam quem está assistindo a vídeo-aula preferir este formato, ao invés de uma aula presencial. Por favor, não me entendam errado: não tenho nada contra aulas presenciais e, inclusive, eu ministro muitas delas, mas há um grande campo a ser explorado quando se fala de educação à distância e, em particular, os recursos para tutoriais em vídeo.

Vamos começar pelo que é padrão e já é esperado pelos usuários: a possibilidade de dar play, stop, pause, acelerar e reduzir a velocidade do vídeo é padrão. Também é comum encontrar áudio e vídeo em alta definição, traduções do áudio para diferentes línguas, opções para controlar a definição quando for ver o conteúdo, possibilidade de assistir em tela cheia e em diferentes dispositivos, opções de acessibilidade para portadores de necessidades especiais e disponibilidade de download tanto do vídeo, como de arquivos adicionais (imagens, código fonte, arquivos de configuração, projeto, XML, etc). Isso é básico, praticamente todo portal de vídeo fornece (ou deveria fornecer) e os usuários esperam estas funcionalidades. Também é básica a possibilidade de compartilhar, promover e divulgar o conteúdo através de redes sociais e outros canais de comunicação que foquem na audiência.

É possível ir além e garantir um diferencial de mercado em relação aos concorrentes. A área acadêmica contém muitos exemplos de novas ideias, conceitos, funcionalidades e outros itens que podem melhorar a experiência de aprendizado com tutorias em vídeo e, como consequência, aumentar a audiência, o engajamento dos usuários e outros indicadores de popularidade do conteúdo. A propósito, nunca devemos nos esquecer de concentrar os principais esforços no conteúdo e na sua periodicidade. Ou seja, não adianta muito fornecer diversos recursos adicionais para o aprendizado, se o conteúdo não for adequado ou se ele não for entregue para os usuários em um prazo e periodicidade razoável e que faça sentido.

Contudo, nem sempre as funcionalidades discutidas aqui podem ser úteis ou mesmo interessantes para todos os tipos de tutoriais em vídeo. Por isso, o foco delas é para vídeo aulas onde é explicado, na prática, como realizar alguma tarefa tal como a aplicação de um efeito em uma imagem, a codificação de um pequeno projeto, um detonado de um jogo ou a explicação e resolução de um erro comum. Neste contexto é importante fornecer recursos para que a audiência possa aprender melhor, mais rapidamente e com facilidade para futuramente reproduzir o que foi aprendido em situação semelhante ou mesmo para resolver algum problema específico.

Analisando diversas sessões e percebendo como os usuários assistem aos vídeos, descobriu-se que muitos usuários utilizam o fast foward, ou seja, acelerar o vídeo para encontrar rapidamente a parte que precisam. Que tal melhorar esta ação e fornecer uma interface de usuário melhor para isso? Já existe um protótipo chamado SmartPlayer que facilita o trabalho de acelerar as partes do vídeo que não interessam e colocar em velocidade normal quando o usuário encontra a parte do vídeo que precisa. Seguindo esta linha, este projeto mostra como navegar na duração do vídeo de acordo com o seu conteúdo e não apenas utilizando o índice de tempo da timeline. Há também esforços para criar uma timeline que mostre comentários dos usuários em pontos chaves (algo como “esta ação requer muita precisão do mouse!”), links específicos da documentação relacionada à explicação e também os comandos utilizados no vídeo-aula (teclas de atalho, sequência de menus, ordem de passos de um wizard, etc) para facilitar o entendimento e opcionalmente mostrar caminhos alternativos para a realização de uma mesma tarefa.

Figura2_SmartPlayer

Atualmente, um dos pontos fracos envolvidos na experiência de aprendizado com vídeo é encontrar o que se procura em tutorial neste formato. Nem os portais de vídeo mais populares apresentam uma experiência de usuário adequada e resultados relevantes. Mas já existe muita gente pensando em como permitir a pesquisa dentro do conteúdo do vídeo, a partir da ligação do que é descrito no áudio e também entre os elementos da interface gráfica. Por exemplo: quais são os momentos no texto que o instrutor falou a palavra gamma correction? Ou em quais momentos o elemento da interface gráfica label, chamado Red, apareceu? Permitir que o usuário visualize isso na timeline do vídeo facilita a localização do que ele precisa. Uma das pesquisas interessantes nesta área foi apresentada em 2009, e mostra que há como melhorar a experiência do usuário quando ele precisa encontrar algo específico dentro do vídeo.

Outra funcionalidade interessante relacionada à visualização é a possibilidade do usuário realizar o zoom na área que ele quiser enquanto estiver assistindo ao vídeo para ver melhor os detalhes de certos elementos. Este zoom pode permitir diferentes tipos de lupa (magnificação) e formatos contextuais da lupa, tais como uma gelatina, que se adapta de acordo com o elemento que está sendo magnificado, como apresentado no projeto JellyLens. Outra forma interessante de interagir com o vídeo e notar certas áreas, regiões ou elementos é a aplicação automática do zoom e remoção ou movimentação para a esquerda ou direita de certos elementos da interface que não fazem parte da explicação atual e assim, não confundir o usuário. Também existe a técnica de aplicar filtros (como no Instagram) para realçar certo passo do vídeo e a possibilidade de gerar screenshoots (telas) a partir do vídeo para enviar por e-mail e compartilhar com outra pessoa como se faz tal tarefa ou ação.

Também há algumas iniciativas para produzir tutorais em vídeos em 3D estereoscópio argumentando que certas janelas de diálogo, legendas e outros elementos da tela se beneficiam deste tipo de tecnologia para facilitar a visualização do que está em primeiro plano e diminuir o foco de atenção no que esta no fundo (segundo plano ou backgound).

Figura3 stereo-head

E que tal permitir a visualização de mais de uma vídeo-aula ao mesmo tempo? Esta funcionalidade pode ser útil quando deseja-se acompanhar diversas vídeo-aulas de curso, onde um determinado passo precisa ser realizado antes de outro e estes passos estão em vídeo aulas separadas. A possibilidade de um usuário assistir ao mesmo tempo mais de um vídeo-tutorial para acompanhar e comparar o que está sendo visto em cada um deles é algo que pode ser muito útil dependendo do contexto. Mas é preciso exibir controles para que o usuário faça a sincronização entre dois ou mais tutoriais em vídeo para que os passos da vídeo-aula anterior sejam mostrados exatamente quando a vídeo-aula atual se referir a eles.

Geralmente o aprendizado presencial é uma atividade social realizada por um instrutor (ou professor) e diversos alunos (ou aprendizes). Mas quando se fala em tutoriais em vídeo quase sempre a relação é de um para um, ou seja, uma pessoa está assistindo a um tutorial de forma isolada. Deste modo, quem está assistindo ao conteúdo não tem a percepção de que outros usuários podem estar assistindo ao mesmo tempo e, possivelmente, podem ter as mesmas dúvidas. Que tal permitir a interação destes usuários? Esta é a proposta do projeto The Inhabited Web, que indica quantas pessoas estão on-line e permite algum tipo de interação entre elas que vai além do comentário básico.

Um tutorial em vídeo que mostra como utilizar um software para a execução de uma tarefa geralmente é muito específico e se concentra na sequência de comandos e manipulação dos elementos da interface gráfica de uma ferramenta só. Mas, e se fosse possível aproveitar o que foi aprendido em uma ferramenta X em outra ferramenta Y de forma simples? Isto é, a vídeo-aula pode mostrar também como executar os mesmos passos em ferramentas similares auxiliando o aprendizado de quem tem experiência. O projeto ShowMeHow mostra como isso pode ser feito de forma semi-automática.

Figura4_ProjetoShowMeHow

Muitas vezes, o usuário tem dificuldade de reproduzir o que o instrutor do vídeo está mostrando. Visando facilitar esta reprodução de etapas, existem pesquisas que conectam de alguma forma o que está sendo apresentado no tutorial de vídeo com a ferramenta que está instalada na máquina do usuário. Por exemplo, o projeto Pause-and-Play permite que o usuário siga o que o instrutor está fazendo conectando o vídeo com a interface da aplicação. Algo como ler a interface da ferramenta aberta e pausar o vídeo esperando que o usuário faça o passo correspondende. Após o passo completado, o vídeo dá o play automaticamente.

Figura5_ProjetoPausePlay

Outra maneira de se aproveitar a sequência de passos utilizadas pelo instrutor durante o vídeo é obter o script com a sequência de comandos na interface e logs da ferramenta e gerar automaticamente o vídeo a partir destes scripts e comandos (e também o contrário). O projeto MixT aborda como fazer esta geração de vídeo a partir de comandos da ferramenta e vice-versa, ou seja, extrair a sequência de comandos a partir de um vídeo.

Figura6_ProjetoMixT

Muitos tutorais em vídeo despertam nos usuários a vontade de reproduzir o que eles acabaram de aprender. A propósito, muitos educadores reforçam que reproduzir na prática o que acabou de ser visto é muito benéfico para o aprendizado. Mas, e se o usuário não possui os recursos (ferramenta, computador, arquivos, ambiente, etc) para praticar o que ele acabou de ver? Com as evoluções tecnológicas dos virtualizadores e os recursos computacionais na nuvem, hoje já é viável fornecer acesso a uma máquina virtual com o ambiente configurado exatamente igual ao início da vídeo-aula e, assim, permitir que o usuário pratique o que está aprendendo. O projeto Snowflock segue esta linha, na qual a qualquer momento do vídeo o usuário pode pausar e criar uma máquina virtual com o estado (software, configurações, arquivos) exatamente igual ao do vídeo on-line. Talvez este recurso esteja disponível apenas para usuários premium (pagantes) do portal de vídeo ou algo assim, porém, do ponto de vista educacional, contar com um ambiente pronto e adequado é muito importante para que se possa praticar logo o que se aprendeu e seguir passo a passo instruções complexas para realizar uma tarefa.

Figura7_MaquinaVirtual2

Além disso, o usuário pode testar outras opções que não foram vistas no vídeo, explorar novos comandos e até fazer simulações de ações alternativas para testar o que está aprendendo, como explorado no projeto Tapps, que foca em tutoriais em texto.

Figura8_ProjetoTapps

Muitos professores sabem que para auxiliar o aprendizado e firmar na cabeça do aluno o que foi apresentado é preciso recorrer a pequenas revisões e resumos. Para isso, a tecnologia pode ajudar muito com novas visualizações do conteúdo, tais como nuvem de palavras (tag cloud), linhas do tempo (timelines) interativas que mostram a sequência de passos, diagramas de hierarquias com a ordem de menus utilizadas e visualizações adequadas do código fonte. Apresentar estas visualizações no final da vídeo-aula reforça a fixação do conteúdo e pode servir de material de referência para estudo posterior. Adicionalmente, estas visualizações podem ser complementadas com os recursos tradicionais, que incluem exercícios práticos e teóricos, provas, simulados e avaliações quantitativas do que foi apresentado.

Por fim, uma boa alternativa para ajudar quem assistiu a vídeo-aula a firmar o conhecimento é aproveitar a recente tendência da gameficação. Hoje em dia, existem diversas maneiras de se fazer isso, desde um jogo que utiliza a própria interface do AutoCad para comprovar o conhecimento aprendido após tutoriais em vídeo, até um simples jogo de palavras cruzadas contendo conceitos de banco de dados. Vale a pena investir em algum tipo de jogo para fortalecer o conhecimento obtido e facilitar a gravação na memória de quem viu o conteúdo apresentado em vídeo.

Figura9_Gamificacao_PalavrasCruzadas