Desenvolvimento

11 dez, 2012

Smart tudo – falando sobre computação tangível

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Olá, pessoal. Recentemente, tive a oportunidade de visitar o media lab do MIT e conhecer um pouco mais sobre algumas das ideias, projetos e conceitos de alguns laboratórios. Neste artigo, vou abordar algumas das propostas relacionadas à computação tangível (tangible computing), que vêm ganhando muito destaque atualmente.

Antes de falar sobre os projetos, é importante deixar claro que quando se fala nesse tipo de inovação estamos discutindo ideias, possibilidades e conceitos que muitas vezes estão longe da realidade e que provavelmente NÃO vão virar produtos ou mesmo serviços que você pode consumir. A ciência, de um modo geral, é um pouco assim, pois até a pesquisa representada por um protótipo virar um produto há um longo caminho a ser percorrido (passando pelas mãos de muita gente que nem sempre entende do assunto…).

De qualquer maneira, tais abordagens podem instigar a curiosidade e inspirar programadores, designers de desenvolvedores a conceber novos serviços, aplicativos e até mesmo diferentes formas de interagir com recursos computacionais.

O título deste artigo fala sobre smart, ou como se costumou chamar por aqui: dispositivos inteligentes. A partir da popularização dos smartphones, durante a primeira década de 2000, cada vez mais elementos do nosso dia a dia vêm sendo explorados para, de alguma maneira, fornecerem algum tipo de conectividade, serviço ou aplicativo.

Este é um Smart Car que recebeu este nome por causa do tamanho. Este artigo não fala sobre ele

Este é um Smart Car que recebeu este nome por causa do tamanho. Este artigo não fala sobre ele.

Talvez o acessório mais popular que recebeu o adjetivo smart seja o projeto do Google chamado smart glass. A ideia é colocar uma câmera e um visor em óculos para permitir fotos, filmes e interações com redes sociais. Visto como uma plataforma, tal dispositivo tem potencial, mas ainda é cedo para dizer se ele realmente vai se popularizar e se a proposta de interação e benefício agregado a esse produto é efetiva. A propósito, a área da computação chamada wearable computing estuda há um bom tempo dispositivos do tipo HMD (Head Mounted displays) para diversas funcionalidades. Portanto, para quem conhece tal linha de pesquisa, nota-se que ainda há muitos desafios técnicos e operacionais a serem tratados antes que o uso de HMDs seja disseminado.

A área de pesquisa ainda conta com diversos outros protótipos e provas de conceito que exploram como podemos estar cada vez mais conectados e auxiliados por dispositivos inteligentes. Para quem acha que a vida se torna um inferno cada vez que uma conversa ou palestra é interrompida por alguém que não deixa de lado o smartphone, prepare-se: abaixo indico algumas pesquisas que envolvem dispositivos que, supostamente, podem beneficiar a nossa vida quando se tornarem inteligentes. E não estamos falando de coisas como geladeiras ou televisões, que são basicamente estacionárias e sua utilidade é centrada em contextos específicos.

Já que temos HMDs como óculos inteligentes, que tal um boné inteligente? As possibilidades de aplicações e uso incluem realidade aumentada, sensação de presença remota para teleconferências e outros cenários em que esse adereço possa ser utilizado para apresentar informações. Há também oportunidades para tornar capacetes inteligentes projetados para fornecer melhores ângulos de filmagem.

Outro acessório que vem sendo explorado para coleta de informações durante a prática de esportes é o uso de pulseiras inteligentes. Nesse caso, elas são utilizadas para coleta de informações e, opcionalmente, podem apresentar alguma informação na forma de caracteres, cores e elementos gráficos, ou também fornecer feedback háptico vibrando.

Outro acessório que é indispensável para alguns é o anel. Já existem protótipos de anéis inteligentes que se comunicam por bluetooth e outras tecnologias. Imagine, por exemplo, a possibilidade de dar um like em uma foto que se acabou de visualizar apenas fazendo uma rotação no anel? Ou até atender (ou deixar passar) uma ligação com um toque em determinada posição anel? Ou mesmo evitar passar o cartão de crédito e, em vez disso, apenas posicionar o anel perto de um receptor para efetuar o pagamento? Tais interações já estão sendo pesquisadas em diversos protótipos, e elas abrem um lequee de possibilidades curiosas e criativas para um acessório que é muito comum nas mãos humanas.

Indo para a linha de vestuário, podemos encontrar pesquisas e produtos que propõem a integração de elementos eletrônicos com tecidos para criar roupas inteligentes. Temos meias, coletes e calças (algumas nem tão inteligentes assim) que podem fornecer meios de conectividade, informações sobre o uso correto da vestimenta, dados do ambiente e biométricos, e proporcionam a interação com dispositivos existentes.

E, por que não, focar em calçados? Aqui destaco um protótipo do famoso tênis do segundo filme da triologia De Volta para o Futuro, em que o tênis ajusta o cadarço automaticamente. Há também abordagens para inserir sensores no tênis e auxiliar o reconhecimento de postura e posicionamento do corpo com aplicações para a área de games.

Além do vestuário e acessórios que levamos conosco para onde vamos, também há esforços para tornar elementos do dia a dia cada vez mais dotados de comunicação e poder de processamento. Como esta lâmpada inteligente que possui um projetor e acessórios acoplados para transformar mesas em superfícies sensíveis ao toque. Pode ser uma boa pedida para que não possui muito espaço para colocar um monitor, TV ou computador portátil.

Seguindo a linha de transformar as superfícies existentes em portais de interação, já presenciei algumas abordagens para transformar tanto o chão (smart floor) como paredes e superfícies arredondadas que permitem algum tipo de interação. Transformando paredes, chão e também o teto, é possível imaginar não só novas formas de interação, mas também o uso em cenários onde procurar, acionar e ativar algum tipo de dispositivo não é prático ou é proibitivo, tal como situações em que as mãos estão ocupadas ou não há espaço suficiente para a maneira tradicional de interação.

Outro recurso que sempre está presente é a caneta, apesar de cada vez mais produzirmos texto diretamente no formato digital. Este produto é interessante, pois através de uma conexão wi-fi na caneta é possível desenhar em qualquer superfície e integrar o desenho com um aplicativo cujo o objetivo é tornar mais fácil a digitalização do que é feito com uma caneta.

Outra atividade diária que pouco tem sido explorada do ponto de vista de interação é a alimentação. Já existem produtos como esta garrafa de água inteligente que ajusta o que você ingere dependendo das suas necessidades nutricionais depois de um exercício, por exemplo. Também há pesquisas voltadas para talheres inteligentes que, a partir de uma pequena carga elétrica, podem alterar o sabor do alimento que se está ingerindo. Isso pode ser útil para substituir temperos e substâncias colocadas na comida que podem ser potencialmente prejudiciais. Além disso, o talher inteligente fornece novos tipos de sensações na boca, estimulando o consumo de diferentes alimentos.

Para finalizar, vou comentar um caso curioso que mostra até que ponto a tecnologia pode ser utilizada para conectividade e auxílio na produtividade. Um certo tipo de queijo especial é considerado uma iguaria (e por isso muito caro) e só pode ser produzido pelo leite de determinado tipo de vaca. E esse leite só é produzido quando a vaca está “feliz”. Caso contrário, o leite dessa vaca é separado para outros tipos de queijo. Para dizer se uma vaca está “feliz” ou não, é preciso analisar diversos dados de sensores biológicos (frequência cardíaca, níveis de glicose, açúcar e outros elementos no sangue, temperatura da pele do animal etc.), que devem ser observados pelo produtor. Desse modo, é preciso instrumentar a vaca com diversos sensores sem que isso produza estresse no animal, mas que permita ao produtor (e aos demais donos do animal que investiram nela) analisar remotamente o estado do animal e saber para onde direcionar o seu leite produzido. Esse projeto recebeu o nome de connected cow e mostra como cada vez mais a internet das coisas em um mundo altamente conectado por dispositivos se aproxima da realidade que temos hoje.