DevSecOps

6 abr, 2016

A Web invisível

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Imagine a seguinte situação: você volta para casa depois de um dia de trabalho e ao chegar à sua humilde residência percebe que as notificações do seu celular não tocaram. A luz não acende e a TV não funciona. Acabou a luz. Agora, pense no dia anterior. Será que percebemos o quanto a luz era importante antes de ficar sem ela?

Isso vem acontecendo com diversos serviços e produtos. É a tal da ubiquidade, das coisas que passam despercebidas por nós. Invisíveis, mas que só percebemos quando não as temos mais disponíveis.

O mesmo ocorre com a Internet há alguns anos. Tente lembrar a última vez que chegou à sua casa e disse: “Vou me conectar à Internet para ler meus e-mails e assistir a um filme online”. Hoje você simplesmente acessa seus e-mails ou assiste a um filme por streamming. Em qualquer lugar. O martírio da conexão discada e da Internet tarifada por minuto já não nos assolam mais (ou quase). As pessoas não precisam mais saber que estão conectadas. Elas simplesmente estão.

Mas eu arrisco dizer que o mesmo vem acontecendo com a Web. Olhe para o seu smartphone e para todos os aplicativos instalados nele. Será que você sabe quantos deles são aplicativos nativos ou aplicações web? Eu mesmo não sei quantos dos aplicativos instalados no meu smartphone são Web se eu não baixar o arquivo e abrir seu código para investigar. E isso é muito legal!

Durante a última aula do Centro de Estudo sobre Tecnologias Web (Ceweb.br) na Escola de Governança da Internet (EGI), promovida pelo CGI.br em agosto de 2015, tivemos a oportunidade de fazer uma experiência para mexer com a percepção dos alunos sobre Internet e Web. Durante a aula, desligamos as portas 80 e 8080 (tanto em IPv4 quanto em IPv6) e pedimos aos alunos para executarem algumas tarefas. Tarefas simples, como buscar a definição de um nome de animal, localizar um endereço ou mesmo descobrir o nome das músicas de um álbum da Marisa Monte.

A experiência tornou-se interessante quando os alunos perguntavam “A Internet está funcionando?”, e nós respondíamos a eles que sim, afinal ainda era possível ter acesso a FTP e SMTP, por exemplo. Mas HTTP e HTTPS não estavam disponíveis. A Internet estava funcionando, mas a Web não. Para facilitar a atividade, deixamos disponíveis alguns fascículos de enciclopédia em papel, guias de ruas e um walkman com uma fita cassete. Apesar da diversão e nostalgia, foi um martírio buscar informações sem a Web.

Agora pense no seu dia a dia sem a Web. Vai fazer uma viagem de férias? Que tal pesquisar os principais destinos assistindo a programas de viagens ou então visitando agências e comprando catálogos? E na hora de reservar um hotel ou comprar uma passagem aérea? Haja pacote de minutos no telefone para tanta ligação e cotação.

Você pode questionar: e os aplicativos?

Pois é. Mesmo sabendo que boa parte desse tipo de aplicativo faz consulta na Web, consideraremos os que não fazem. Pense na quantidade de aplicativos para instalar em uma simples pesquisa de uma viagem de férias. Considerando que existem aplicativos que agrupam suas necessidades de viagem, como pesquisa por hotel e passagens aéreas, para outras atividades, você precisa de outro aplicativo, e assim seu smartphone vai colecionando aplicativos que serão usados de forma esporádica e ocupam uma quantidade significativa de espaço do seu telefone. No caso do desenvolvedor, ainda existe o agravante de pedir a “benção” da loja de aplicativos para cada atualização.

Eu gosto de utilizar a Web via browser o máximo possível, tanto no mobile quanto no desktop/notebook. Check-in online, receitas culinárias, redes sociais, mapas, consulta de hotéis, dicas para o passeio do fim de semana, e assim por diante. O aplicativo só ganha status para ser instalado no meu smartphone quando devo usá-lo pelo menos duas vezes na semana.

Isso não é uma crítica aos apps, muito pelo contrário. Acho que eles estão promovendo uma evolução silenciosa pela experiência do usuário que, baseada no meu humilde ponto de vista, é causada em parte pela complexidade na entrada de dados do usuário pelo dispositivo móvel. Qual a finalidade de digitar toda vez no browser, naquele teclado horrível do smartphone, o endereço http://www.nomedomeuaplicativomatador.com.br se com um toque eu abro o app e soluciono meus problemas?

Percebem como o tema deste artigo abordou muito mais o uso da Internet e dos apps sempre relacionados com o uso da Web? Esse era o objetivo. A Web está enraizada na nossa vida. Os serviços estão disponíveis, e nos tornamos cada vez mais dependentes deles. Quando estou trabalhando com a Web, desenvolvendo aplicações ou escrevendo um documento colaborativo, eu nem penso mais nela. Apenas faço uso de tudo que ela pode proporcionar, de forma silenciosa e ubíqua. Até que alguém derrube o disjuntor, corte a luz, a Internet e, consequentemente, a minha Web.

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Artigo publicado originalmente na Revista iMasters.