Carreira Dev

9 out, 2015

O que você quer ser quando crescer?

Publicidade

O mercado criativo (ou, como eu chamo: desenvolvimento, design, marketing e empreendedorismo) está crescendo e aquecendo cada vez mais, mas onde vamos parar? Ou melhor, onde você vai parar? Ainda, você vai parar?

Um dos maiores medos de analistas é não conseguirem se manterem atualizados com o passar do tempo e da idade, sem falar no trauma que carregamos dos anos 90, quando os funcionários mais experientes eram comumente trocados por jovens programadores. Esse medo levou – e leva – profissionais incríveis a trocarem sua atuação por cargos de gestão, liderança técnica e até mesmo cargos administrativos.

E você? Pretende se aposentar como desenvolvedor?

Já faz mais de dois anos que tenho feito essa pergunta em eventos para centenas de pessoas, e sempre vejo muita gente na defensiva, talvez porque nunca tenham parado para pensar sobre esse assunto antes.

Veja bem, não estou dizendo que você não pode ou que não deva se aposentar como desenvolvedor/engenheiro/analista/programador ou até mesmo como DBA/QA/infra ou designer/ux/diretor de arte/scrum manager/product owner. Meu questionamento é bem mais simples, você já pensou nisso? Para se tomar uma decisão eficiente e planejar o seu futuro, é preciso primeiro entender o contexto, e por isso contarei um pouco da minha história na web.

1996 – Comecei a aprender web, conhecendo programas como bloco de notas (HTML), HotDog, Homesite (sendo integrado anos depois ao dreamweaver) e Front-page.

1998  – Primeira vez que criei um site profissional, sendo remunerado por isso (R$ 100,00).

2000 – Mudança significativa das interfaces web pela entrada do Fireworks e FutureSplash (que virou, depois, o Flash) em meados de 1998, e entrada do Macromedia Flash no fim de 1999 no Brasil.

2001 – Comecei a fazer grandes projetos no Brasil com apenas 16 anos. Isso me levou a pensar se “webdesign” era uma nova área ou uma onda passageira, pois os editores foram ficando mais inteligentes e acreditava-se que sua automatização anularia o ser racional por trás de tudo. Por causa disso, optei por cursar Comunicação Social: Publicidade, para ganhar estratégia e convencimento para lidar com essas máquinas automatizadoras que acabariam com os empregos de desenvolvedores e designers.

Eu acreditava piamente que os webdesigners seriam substituídos por máquinas!

Confesso que errei o motivo, mas acertei no caminho que segui. Ter estudado estratégia da publicidade me abriu a mente para criar projetos cada vez mais criativos, explorando diferentes mídias, tecnologias e interações. O mais importante é que isso abriu as minhas possibilidades de carreira, pois me preparou para assumir cargos maiores e ajudar na tomada de decisões em outras empresas.

Por outro lado, minha paixão pela web foi aumentando cada vez mais, principalmente com a chegada de Acessibilidade, Microformats, Tableless, Performance, CSS (eu amo CSS, vocês sabem, né?), Animações, Organização, Componentização e a Comunidade.

Cursei minha faculdade em publicidade dos 17 aos 22 anos. Nesse ponto, já sabia que as áreas de desenvolvimento e design cresceriam cada vez mais, porém já tinha a certeza de que era muito pouco pra mim. Assim sendo, fui tentar fazer um mestrado e tive uma das maiores decepções de choque de geração que já vi.

Bernard, você entende que aqui você não vai aprender a mexer em nenhuma ferramenta de design?

Quando liderava o time de produto do portal do Jornal do Brasil (e tive um dos melhores chefes do mundo, Sandro Pessanha), comecei a me envolver bastante com acessibilidade e acreditava que podia somar muito a pesquisa e criação de novas práticas, metodologias e produtos para essa área. Assim, fui tentar um mestrado na área de Design.

Nesse momento da minha vida, eu já dava aula de webdesign em uma faculdade. Quando fui conversar com o orientador da linha de pesquisa que pretendia cursar, percebi pela primeira vez que eu fazia parte de uma nova geração, uma geração com poucos nomes na frente, como Diego Eis, Pedro Rogério, Maujor, Tiago Baeta, Henrique Ferreira, entre alguns outros. E que a inércia seria um dos maiores desafios, pois como eu geraria inovação se a academia não reconhecia a minha área?

Criei um projeto acadêmico superbacana, fui até elogiado pelo orientador, até que ele começou repetidamente indagar o motivo de eu querer fazer mestrado, visto que não me ensinaria a mexer em nenhum software de webdesign. Foi tão chocante ter que citar três vezes que já tinha conhecimento nessa área, que já dava aula sobre isso, que queria era aumentar o legado na área de acessibilidade, tornando-me um pesquisador do assunto.

Dentre as poucas vagas liberadas, até consegui passar em todas as etapas, mas menos de “0,5” me colocou duas vagas abaixo dos inscritos. Primeira frustração da minha vida, primeira grande lição da minha vida.

Sempre soube que quanto mais expectativa, maior a chance de frustração. Até hoje, levo essa lição comigo, mas uma frase do Papa João XXIII representa melhor o que aconteceu comigo:

“Consulte não a seus medos mas a suas esperanças e sonhos. Pense não sobre suas frustrações, mas sobre seu potencial não usado. Preocupe-se não com o que você tentou e falhou, mas com aquilo que ainda é possível a você fazer.”

Hoje as coisas mudaram, sete anos após esse momento, é impossível você pensar em Design sem considerar o digital, ergonomia, usabilidade, experiência e “desejabilidade”. Mais do que tudo, hoje temos novas gerações, temos ídolos e fãs, temos um papel a zelar e muita gente a inspirar. Através de palestras divertidas, cursos criativos, papos descontraídos e projetos e labs open souce, muita gente acredita e se inspira, e outros acreditam que é apenas diversão, mas como diz o italiano Michelangelo, “se as pessoas ao menos soubessem o quão duro trabalho para ser mestre no que faço, não lhes pareceria tão maravilhoso”.

Além de ter me enganado sobre o fim da carreira do webdesigner, houve o nascimento de outras especializações, o que ajuda a contribuir com o crescimento do mercado de desenvolvimento, mas também a dificultar a pergunta origem deste artigo: o que você vai ser quando crescer?

O mercado brasileiro não ajuda os profissionais a seguirem carreira.

Essa foi uma das respostas que recebi quando levantei essa discussão em um evento do iMasters. Essa frase me lembrou quando visitei os escritórios da Mozilla e da Google em San Francisco, onde você identificava muitos programadores seniores com carreira de mais de 20, 30 anos de programação, algo que é mais difícil de observar aqui no Brasil.

Não estou certo se o problema é a falta de incentivo do nosso governo com a profissão, falta de cultura dentro das empresas, para valorizar a carreira dos profissionais criativos que nelas estão, ou até mesmo na mentalidade do próprio profissional. Hoje, uma nova geração de designers, desenvolvedores e novos empreendedores está chegando, muito mais criativa (Millennials 66%, Geração X 34%), muito mais aberta a mudanças (Millennials 72%, Geração X 28%). Você está preparado para atuar com ela, seja liderando esses novos talentos, seja trabalhando em sintonia com eles, aprendendo na mesma velocidade que eles?

Seja qual for sua decisão, eu apoio irrestritamente.

Escolha o seu caminho, estude seus próximos passos e se prepare para o futuro. As coisas podem mudar, ou melhor, as coisas vão mudar. Nessa longa jornada que está por vir, você tomará rotas erradas, e muitas vezes perceberá que elas te levarão para destinos incríveis. Devido à sua pouca ou muita idade, raça, gênero, orientação sexual, religião, roupa, barba, corte de cabelo, situação econômica e até mesmo sotaque, as pessoas vão te julgar, mas nunca deixe que isso atrapalhe sua jornada. Se você for forte, correto, integro, sempre aparecerá um novo caminho para ti, ande com passos firmes de quem marcha como protagonista da sua própria vida. E não se esqueça de que fracassos ocorrerão, mas como diz Michael Jordan: “Eu perdi mais de 9.000 cestas em minha carreira. Eu perdi quase 300 jogos. Em 26 ocasiões, me foi confiada a jogada final e eu perdi. Eu falhei e falhei repetidamente mais de uma vez na minha vida, e foi justamente por isso que venci”.

Dentro da sua perspectiva profissional e análise do mercado em que você atua, repito meu questionamento: onde vamos parar? Ou melhor, onde você vai parar? Ainda, você vai parar?