Design & UX

16 set, 2016

Pokémon Go e novos acervos urbanos

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Possivelmente vocês estão se perguntando: mas que papo é esse de Pokémon Go e acervos? Pois é, queridos leitores, este artigo inicia minha contribuição no iMasters falando daquilo que mais amo e gerando algumas polêmicas sobre tecnologia, arte, design e tendências.

A realidade aumentada e os acervos urbanos são temas de extrema relevância na contemporaneidade, e inauguram meu discurso sobre cidades inteligentes e gamefication da vivência urbana. A cidade é um grid de imagens, experiências lúdicas e cartografias interativas. E o que isso tudo significa? Que a cidade se tornou um grande espaço de construção coletiva da interatividade! Eu, você, seus amigos e todos os Pokémons construímos uma nova cartografia, novos mapas de pessoas, dispositivos, acessos – afinal de contas, parece que a cidade abriga uma grande rede de afetos. Essa rede gera acervos a todo minuto, com imagens, sons, check-ins e textos.

Se você acha que o Pokémon Go evidencia novos modos de ver a cidade, parabéns! Você percebeu uma tendência dos últimos anos: a cidade reocupada por pessoas e afetos, através da interatividade. Muitos serviços digitais inaugurados há algum tempo (e dos quais você já é usuário frequente) cumprem o papel de construtores de acervos e cartografias interativas. Serviços de geolocalização e postagem de imagens, caso do Streetview, atuam como catalisadores de experiências na cidade, permitindo que pessoas e imagens se conectem através do espaço urbano. Quando um usuário percorre determinado lugar, insere imagens e dados e constrói um novo acervo em público. Por sua vez, o Google demonstra um grande interesse em construir e compartilhar estes e outros acervos pelo mundo! Essa me parece a prova da construção coletiva cultural contemporânea calcada em imagens e acervos partilhados em tempo real.

Google criou Art Project, Art Gallery, Cardboard e tantos outros serviços que permitem à comunidade global acessar e compartilhar acervos (e ao longo desta coluna vamos analisar questões pontuais e tendências incríveis a partir de todos esses projetos). Logo, parece que acervos são coisa séria! E são mesmo, afinal de contas, nossas memórias e afetos estão diretamente ligados aos registros digitais. Seu Instagram, Facebook e Twitter são as plataformas de registro dos acervos infinitos de imagens, textos e narrativas da nossas próprias vidas, partilhados com todas as pessoas ao nosso redor (ou ao nosso alcance). Novamente, estamos falando de um rede de afetos. Trata-se de novos acervos de imagem, que mudam a todo minuto e se reconstroem em coletividade (pois você posta, o outro posta, todos postamos!). Porém, será que nossos acervos se mantêm do mesmo modo, como há poucos anos? Observem o Snapchat. O que esse serviço tem de inovador ao se pensar em acervos compartilhados? Simples, ele não trabalha com a construção de álbuns de imagens (pois elas duram por um tempo determinado), mas as experiências provenientes delas: o que vale é o que você sente ao ver uma determinada imagem/vídeo/storytelling, e não a sua posse sobre aquele conteúdo. Quem viu viveu! Sem volta, sem álbum, sem posse!

E essa é a tendência da cidade e dos acervos contemporâneos, os quais constroem um espaço onde não há posse das informações que correm soltas pelas ruas e nos ensinam que compartilhar experiências vale mais do que acumular imagens. Talvez por isso, o Pokémon Go seja um instrumento tão poderoso para repensar os acervos, pois ele parte da ideia de caçar objetos virtuais e termina na experiência coletiva na cidade. Há também o processo de gamification da cidade. Isso significa que cada vez mais estamos habituados a ver a cidade como um espaço de jogo, no qual acumulamos atividades lúdicas, seguimos metas, objetivos e desbravamos funções esquecidas no espaço urbano. Provavelmente, reavivamos funções esquecidas dentro de nós, caso de afetividades, socialização e coletividade.

Portanto, talvez esta seja a intenção de serviços como Pokémon Go: unir pessoas que pertencem à cidade, a qual pertence às pessoas. Ainda, essas dinâmicas mexem com a nostalgia, levando seus usuários a reverem pessoas, lugares e a reencontrar seu próprio lugar na cidade. Somos da cidade, que voltemos a ela (e nos melhor estilo – caçando Pokémons)!