Arquitetura de Informação

22 nov, 2013

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Um hominídeo nômade não conhecia a escrita, e isso lhe poupava a árdua tarefa de carregar livros, cadernos ou notebooks cada vez que precisava se mudar. Me desculpem os esportistas, mas o sedentarismo foi essencial para o surgimento das primeiras grafias, como a cuneiforme, já que era necessário contabilizar os grãos, registrar impostos e administrar o templo. Desde então, nós não paramos mais de lidar com dados e com a necessidade de organizá-los. Se inicialmente era necessário ordenar placas de argilas e logo depois papel, hoje temos bits.

Bit, uma escolha binária entre 0 e 1, pode ser considerado o modo elegante que o hominídeo nômade contemporâneo encontrou para mensurar e dividir a informação. No livro “A informação: uma história, uma teoria, uma enxurrada”, James Gleick parte dessa ideia e trata da história da informação e do excesso de dados. Contudo, um computador não diferencia os bits do filme “Cidadão Kane” dos bits de um filme pornográfico – para ele, são dados a serem processados. O significado semântico fica por conta do ser humano. Estamos entrando no campo da arquitetura de informação. Como a informação só pode existir em “comunidades de sentido”, a arquitetura de informação trata primeiro de pessoas, buscando assegurar conforto e, depois, de tecnologia (que busca assegurar mais conforto).

Revisemos os principais conceitos dessa arquitetura. Dado é o conteúdo quantificável a ser processado, ele não é capaz de descrever uma situação por completo. Quando os dados são analisados e interpretados, temos a informação, um conteúdo qualificado, capaz de expressar uma situação. Mas não esqueçamos que dado e informação não são conhecimento. O fato de uma pessoa hoje ter mais informação na capa de um jornal diário do que uma pessoa na renascença teve durante a vida toda não garante que ela seja mais inteligente – isso segundo Richard Saul Wurman, autor de “Ansiedade de Informação”.

Então, como selecionar o que é relevante dentro dessa enxurrada? Como extrair significado de dentro desse volume de informação? Usando de visualização de dados cujo principal objetivo é comunicar a informação de maneira clara e efetiva, utilizando meios gráficos. Muitos devem estar familiarizados com os gráficos pizza que editores de texto e de planilhas possibilitam, e graças ao cada vez crescente poder da computação gráfica, as visualizações estão cada vez mais complexas, interativas, processadas em tempo real, ou mesmo transformando um tipo de dado em outro, como converter uma informação sonora em uma imagem.

Bem, meu trabalho aqui é fazer uma relação entre as questões sociais, a tecnologia e a criação artística (I <3 my job). Comecemos por Rafhael Perret que, em seu projeto Body Cloud, criou esculturas a partir da coleta de dados e mapeamento de movimentos com um sistema de capturado do Instituto de Biomecânica de Zurique. Foram feitos registros de dez sequências do capoeirista brasileiro Milton Rodrigues. Ao final do processamento e renderização, as esculturas foram impressas em 3D. Conceitualmente, esse trabalho se relaciona muito profundamente com os primórdios da fotografia e do cinema, as primeiras artes mediadas por máquinas se interessavam pela dinâmica do corpo humano e como representá-lo.

E, falando em cinema, o cineasta brasileiro Bruno Vianna e a artista digital Maíra Sala criaram o projeto “Ressaca”, que os próprios artistas definem como “um longa-metragem. Um quebra-cabeça. Um jogo de amarelinha”. Ressaca é um longa-metragem no limite entre o cinema e o espetáculo ao vivo, partindo do ponto em que param os VJs que fazem performances ao som de música eletrônica com vídeos pré-gravados. A cultura do vídeo-jockey e do disc-jockey está relacionada a uma sociedade cuja indústria cultural já produziu tanto material que todas essas informações podem ser recombinadas e pós-produzidas quase que infinitamente.

ressaca3Filme Ressaca.

Visualizando a ideia de banco de dados, vale a pena citar o Brainiac, um vilão do Super-homem, que era o supercomputador que controlava as operações na cidade natal do herói, Krypton. Brainiac detectou a destruição do planeta, mas escolheu salvar a si e aos registros coletados de Krypton. Contanto que os registros existissem, a perda do planeta e seus habitantes seria parte da ordem natural. O curioso dessa história é a inversão dos valores, os dados são mais importantes do que quem os produziu.

Outro conceito ético na relação com a informação fica por conta de uma das obras de 1994, feita no navegador Mosaic, agora obsoleto. O espanhol Antonio Muntadas realizou o projeto “File Room” todo dedicado a documentar casos de censura cultural. A alimentação dos dados era por conta dos próprios visitantes, assim, o projeto se tornou um banco de dados de acesso internacional que conta uma história não-oficial.

Mas, se tratando de redes sociais, nada mais divertido que o projeto “Face to Facebook”, que roubou informação de mais de 1 milhão de perfis, utilizou software de reconhecimento facial e algoritmos para criar um site de relacionamentos (Lovely Faces) a partir dos perfis originais. Claro que isso gerou uma disputa judicial entre o Facebook e os artistas. Para quem tiver mais curiosidade em saber sobre essa e outras obras polêmicas desse grupo de artistas, no site é possível acompanhar a troca de correspondências judiciais e saber da metodologia empregada, só não é possível arrumar um encontro!