Banco de Dados

6 abr, 2016

Cobertura da conferência Qcon São Paulo 2016

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Durante os dias 28, 29 e 30 de março de 2016, a cidade de São Paulo recebeu a sétima edição da conferência voltada para desenvolvedores de software chamada QCon São Paulo 2016. Neste artigo, vou relatar um pouco sobre como foi a experiência de participar do evento.

O local escolhido para a realização do evento deste ano foi o WTC Events Center, localizado perto da região Morumbi, na capital de São Paulo. Para quem já é da área, esse local é relativamente bem conhecido, pois muitas conferências da área de tecnologia são realizadas lá. Apesar de essa ser a sétima edição no Brasil, a QCon é global e ocorre em diversas cidades de diferentes países. Essa estratégia marca a presença global que está por trás da QCon, o site voltado para desenvolvedores InfoQ.

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Um dos principais destaque do evento foi a sua programação: os organizadores decidiram que a conferência seria realizada em três dias, algo que é relativamente incomum para conferências voltadas para desenvolvedores. Além disso, houve uma grande presença de palestrantes estrangeiros, tanto nas primeiras palestras dos dias (keynotes) quanto dentro das trilhas técnicas.

Em relação à organização, tudo foi tratado com muito cuidado. Houve alguns pequenos imprevistos, tal como a falta de banheiros, problemas no Wi-Fi e falta de café (!), mas nada que tirasse o brilho do evento. De fato, o pessoal que trabalhou na organização está de parabéns por conseguir atender às muitas sugestões apresentadas e tentar sempre acomodar da melhor maneira possível a grande quantidade de pessoas que participaram dessa conferência.

Antes de começar a falar mais profundamente sobre o conteúdo, destaco que o foco dessa conferência é um pouco diferente de outros encontros técnicos de que já participei: a QCon faz questão de focar em novidades, inovações e novas tecnologias que podem impactar o desenvolvimento de software. Essa característica é interessante, pois acaba trazendo muitas novidades para aprimorar equipes de desenvolvimento que não conhecem quais são as tendências e as novas abordagens que estão sendo discutidas fora do Brasil. Contudo, se por um lado o foco da conferência é nas novidades, práticas inovadoras e tendências, por outro lado isso pode confundir quem está começando na área. Pelo que pude perceber em conversas com as pessoas que participaram, ficou claro que o perfil de quem participou não é de novato na área.

No que diz respeito à organização do conteúdo, cada dia do evento começou com um keynote internacional na principal sala da conferência. Em seguida, houve um intervalo para que a sala principal pudesse ser “transformada” em três salas menores que receberiam as trilhas técnicas, ou seja, uma maneira de agrupar os conteúdos apresentados. Havia também uma local separado para palestras de patrocinadores e mais uma sala um pouco distante do corredor principal do evento.

Figura3_SalaoPrincipal

Em relação ao conteúdo, houve uma separação interessante das trilhas para cada dia do evento, de modo que o participante teria que escolher uma entre as cinco áreas temáticas mais a área reservada para as palestras dos patrocinadores (Solutions Track). O primeiro dia abriu a conferência com a palestra The Future of your Production Environment is Serverless, na qual o palestrante apresentou alguns conceitos e depois mergulhou em detalhes técnicos de como cada vez mais teremos nosso código sendo executado em ambiente “sem servidores”, pelo menos conceitualmente. Em geral, esse keynote foi bom, mas a partir da segunda metade dessa palestra houve um foco muito grande na discussão de como a solução foi aplicada no contexto da startup do palestrante, algo que não agradou muito a algumas pessoas com as quais conversei.

No primeiro dia da conferência, aconteceram as trilhas Web APIs e a Ascensão dos Microservices, Culturas e Equipes de Alto Desempenho, Ecossistema JVM/Java: Modernizando o Mainstream, Arquiteturas que Você Sempre Quis Conhecer e Desenvolvimento Poliglota: Funcionais, Dinâmicas e além. É interessante notar o foco em arquitetura, micro-serviços, equipes e outros assuntos técnicos apresentados nas trilhas do primeiro dia e que certamente estão sendo discutidos como novidades para muitas equipes de desenvolvimento.

Destaco também que algumas das palestras da trilha dos patrocinadores foram bem interessantes e abordaram temas pouco explorados. Esse foi o caso da palestra sobre computação neuromófica, apresentada por um pesquisador brasileiro da IBM que mostrou diversos desafios de se trabalhar com machine learning e o que está sendo feito em termos de pesquisa nessa área.

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O segundo dia teve como primeira atração o keynote The Cloud-centric Internet of Things, no qual a palestrante internacional mostrou diversos aspectos relevantes para quem tem algum projeto de iOT e pensa em utilizar a infraestrutura da nuvem como backend. Foi muito interessante notar que, em um determinado momento, a palestrante apresentou uma comparação das soluções em nuvem a partir de critérios como segurança, características e custo. Como conclusão, houve várias críticas aos fornecedores, alguns elogios e diversas recomendações. Tudo isso com os estandes de patrocinadores de soluções da nuvem perto da sala onde esse keynote aconteceu.

 

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As trilhas do segundo dia abordaram aspectos de escalabilidade, Big Data e cloud computing: Construindo e Escalando Produtos de Sucesso, Big Data e Machine Learning Aplicados, Cloud Computing Depois do Hype, Domando e Evoluindo seu Legado e Fronteiras do Desenvolvimento. O destaque aqui vai para as palestras da trilha que discutiu software legado, algo que quase nunca é abordado em conferência de desenvolvimento. De forma oposta, a trilha de fronteiras do desenvolvimento foi relativamente conservadora, abordando algoritmos, programação distribuída e alguns conceitos teóricos relacionados à computação quântica.

Outro destaque que não posso deixar de comentar foram os cases apresentados na trilha de Big Data. Apesar de esse termo estar cada vez mais popular, ainda são poucos os cases realmente interessantes que vão além do básico. Em geral, essa trilha focou em conceitos básicos e os apresentou para quem sabia pouco sobre o assunto.

O terceiro e último dia foi aberto pelo keynote Top Performance Myths and Folkore, que abordou alguns aspectos relacionados ao desempenho de aplicações. De longe, esse foi o keynote mais técnico e que, na minha opinião, não agregou muito ao evento. O palestrante teve alguma dificuldade em abordar questões teóricas e conceituais relacionadas à performance com poucas recomendações práticas. Além disso, ficou clara a cara de confusão que muitos participantes apresentaram durante a palestra quando o segundo slide utilizado indicou que o palestrante iria fazer um top 10 de itens de performance, o que demonstrou que nem sempre conceitos avançados e palestrantes com alto nível técnico conseguem transmitir muito bem o que eles querem passar. De fato, quando observei a quantidade de cartões coloridos indicados para avaliar a palestra (verde, amarelo ou vermelho) pude notar que esse foi o keynote com a maior quantidade de cartões vermelhos ou amarelos escolhidos pela audiência.

As trilhas do terceiro e último dia foram Tecnologias Emergentes em Front-end Development, .NET: Muito Além do Framework, Dados e Storage na Era Pós-relacional, Containers, DevOps e Automação e IoT: Arquiteturas, Segurança e Computação Onipresente. A partir desse dia, pude confirmar que houve um foco grande nas tecnologias .NET e Java para desenvolvimento, provavelmente influenciadas pelos curadores do evento. Contudo, essa predileção não diminui em nada a qualidade do conteúdo apresentado, que foi de altíssimo nível.

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A trilha que mais me interessou no terceiro dia foi a que falou sobre dados e storage. Curiosamente, o termo storage é relacionado a hardware de armazenamento, porém essa trilha se concentrou em soluções NoSQL e não falou sobre hardware. Houve palestras sobre uso de grafos (Neo4J), escalabilidade (Cassandra), armazenamento de dados de séries temporais (Time Series) e, como não poderia deixar de ser, uso do Hadoop. Apesar de essa trilha contar com alguns “clichês”, foi muito interessante assistir ao conteúdo apresentado e notar como tecnologias de armazenamento diferentes do tradicional SGBD relacional estão sendo utilizadas na prática em projetos reais.

Em resumo, posso dizer que o evento foi muito bom para que trabalha com desenvolvimento de software em geral e procura se atualizar com as mais recentes tecnologias e tendências. Houve um foco grande na discussão de tópicos como Big Data, micro-serviços, soluções na nuvem, Internet das Coisas (iOT), gestão e armazenamento de dados, processos ágeis e gerenciamento de equipe. Destaco que é importante que haja conferências como a QCon para que a comunidade de desenvolvedores brasileira não fique atrás do que está sendo discutido e utilizado em outros países, especialmente quando falamos sobre tendências, conceitos, práticas, cases, cenários e abordagens que podem (e devem!) ser aplicados por aqui, de uma forma ou de outra.