Desenvolvimento

4 jan, 2017

As faces do desenvolvimento de jogos no Brasil

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A maioria dos desenvolvedores em algum momento cogitou a possibilidade de trabalhar com produção de jogos. A boa notícia: o mercado está em expansão. Já a má notícia é que se trata de uma área que ainda não se consolidou no Brasil, o que torna ingressar no setor uma tarefa não muito fácil.

Enredo, personagens, plataforma e jogabilidade são algumas das variáveis que devem ser bem pensadas antes de começar a colocar a mão no código. Depois, aplicar os conceitos de física, preocupar-se com otimização de gráficos, qualidade de performance, escolha de trilha sonora e fidelização de público.

Para que isso seja possível, é necessária uma boa equipe, que irá trabalhar para que cada parte se encaixe perfeitamente. Como consequência, a experiência do gamer será boa, transformando-se em horas e horas de divertimento e, em decorrência, aumentando o número de vendas e a monetização.

Um bom roteirista é fundamental para descrever como será ambientado o jogo, como se desenrolará a trama, e todas as nuances em torno das personagens. Um game designer definirá o que é possível e o que não é no jogo, criará o design das personagens, do mundo onde o jogo se ambienta e da própria jogabilidade; um artista, responsável pela criação dos assets gráficos – imagens das personagens, dos ambientes, das fases, dos prédios, da interface etc. O sonoplasta cria a identidade sonora do jogo para que ela faça sentido, trazendo ao gamer uma experiência de imersão no jogo (ignore esse fato caso você ainda jogue Tibia), além de outros profissionais. Mas, e o desenvolvedor, onde entra nessa história?

O desenvolvedor de jogos deve implementar os sistemas de manipulação de movimento das personagens e os controles do jogo, trabalhar na utilização de inteligência artificial para que os adversários (monstros, chefes etc.), os NPCs (personagens não jogadores) e outros elementos dos jogos “controlados por computador” não tenham movimentos e comportamentos aleatórios, entre outros aspectos.

Para facilitar o trabalho dos desenvolvedores, foram criadas grandes plataformas de desenvolvimento de jogos, fazendo com que toda a parte complicada e demorada na produção dos jogos fosse automatizada e melhorada. Com isso, as preocupações com os cálculos das forças da física, apresentação de enredo dos personagens, gatilhos acionados quando alguma ação acontece no jogo, aplicação das características gráficas, até mesmo toda a engine por trás de alguns jogos, bem como a portabilidade dos jogos para as diversas plataformas, são bastante simplificadas e de fácil acesso. Algumas dessas ferramentas podem ser vistas abaixo:

  • Cocos2D, um poderoso framework open source para a produção de jogos 2D. Possui ramificações para desenvolvimento em várias linguagens, tais como: Python (Cocos2D-Python), Swift (Cocos2D-Swift), JavaScript (Cocos2D-JS), entre outras.
  • Blender Game Engine, motor de jogos (engine) 3D multiplataforma que utiliza OpenGL para a manipulação de gráficos, OpenAL para o som e Python para o desenvolvimento dos scripts de jogo. Porém, suporta apenas o formato WAV para sons.
  • Unity 3D, engine de larga utilização, na qual pode ser utilizado C# ou JavaScript para o desenvolvimento dos jogos. Possui uma infinidade de plugins para otimização de várias funcionalidades dentro do jogo, além da possibilidade da importação de pacotes de imagens (assets) e exportação dos jogos para diferentes dispositivos: Android, iOS, XBOX, Wii U, PS Vita, entre outros.

Alguns desenvolvedores, de posse de algumas dessas ferramentas, estão partindo para o que chamamos de desenvolvimento independente ou indie, no qual equipes de uma ou mais pessoas acabam exercendo várias das atribuições de um estúdio de produção de jogos tradicional – nesse caso, o desenvolvedor de jogos acaba assumindo a maioria das tarefas do desenvolvimento como um todo.

Esse modelo está bastante em evidência, tendo em vista que diversas vezes jogos mais simples, criados apenas por uma pessoa, conseguem monetizar de forma estrondosa nas plataformas de jogos dos smartphones, tais como Google Play e Apple Store. Como exemplo, cito o jogo Flappy Bird, que usa apenas propagandas em um modelo de monetização no qual o gamer baixa o jogo de graça, e o desenvolvedor é pago pela visualização de anúncios que aparecem dentro do jogo. Dessa forma, ele chegou a faturar $50.000 por dia em seu lançamento, no início de 2014.

Isso está sendo muito utilizado no Brasil, que carece de grandes estúdios de produção de jogos. De acordo com um estudo do BNDES de 2014, existem pouco mais de 130 empresas de desenvolvimento de jogos em atividade no País, sendo que em torno de 80% utilizam o Unity 3D como engine, 18% desenvolveram tecnologia própria e 14% utilizam o Cocos2D – lembrando que algumas utilizam mais de uma engine para o desenvolvimento de seus jogos.

Em relação à metodologia de desenvolvimento, o desenvolvimento ágil está sendo bem utilizado nas empresas brasileiras de produção de jogos, com o SCRUM sendo utilizado por mais de 60% delas, e apenas 4,5% usando o modelo cascata (waterfall).

Existem outros dados interessantes na pesquisa. Então, caso você queira saber um pouco mais sobre como está o mercado brasileiro, confira em: http://bit.ly/censogames.

Entre as produtoras mais conhecidas estão a Beholder Studios, que fica em Brasília e é a criadora de conhecidos jogos para smartphones, como Knights of Pen and Paper e Chroma Squad. A Aquiris é a maior desenvolvedora de jogos utilizando Unity na América Latina. A Oktagon fica no Rio de Janeiro e é criadora do Dungeon Battles: Heroes of the Throne e outros jogos para smartphones.

Embora tenhamos poucas produtoras, o mercado de games no Brasil está em expansão. Segundo uma pesquisa da NewZoo, o Brasil ocupa, em 2016, o 12º lugar em receita com jogos, tendo uma receita estimada de US$ 1,275 bilhão. Grande parte desse total virá de jogos grátis, ou de baixo custo, que requerem um grande investimento em equipamentos, tais como jogos para smartphones.

Bom momento para olhar esse mercado e começar a desenvolver jogos, não acha?