DevSecOps

26 mai, 2014

CIO: como manter o dia a dia e enfrentar os desafios das novas tecnologias?

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Aproximadamente a cada 25 anos a indústria de TI passa por um período de destruição criativa, com um novo modelo substituindo o paradigma anterior. O termo destruição criativa é muito interessante e associado ao economista Joseph Schumpeter. Pode e deve ser visto em mais detalhes no Wikipedia.

Se voltarmos ao tempo, nas décadas de 1960 e 1970, o predomínio era incontestavelmente da computação centralizada. Era o reino dos mainframes, quando os usuários da computação eram limitados apenas aos funcionários das empresas que podiam manter as então caríssimas máquinas em seus chamados CPDs (Centro de Processamento de Dados). Havia algumas dezenas de milhares de máquinas e os usuários chegavam a unidade dos milhões. Os programadores eram escassos e o mercado de trabalho restrito apenas a profissionais especializados.

Neste período, o predomínio era da IBM e embora houvesse outras empresas, como Honeywell, NCR, Unisys e algumas na Europa, todas, à exceção da IBM,  desapareceram ou deixaram de fabricar estas máquinas. O objetivo dos sistemas era acelerar as principais funções transacionais e o valor criado foi de automação dos processos – até então feitos manualmente. Posteriormente chegaram seus irmãos menores, os minicomputadores, que embora permitissem que empresas menores passassem a ter condições de usar computadores, mantinham o mesmo modelo computacional centralizado, ou seja, usuários conectados diretamente ao computador via terminais. Nesta época nasceram e despareceram muitas empresas como HP, Digital, Prime e Data General. De todas, apenas a HP continua operando hoje.

Por volta dos anos 1990 surgiu um novo modelo, inicialmente gerando muitos questionamentos quanto à segurança , disponibilidade etc. Foi o modelo cliente-servidor, com servidores interconectados com desktops, em redes locais (LAN – Local Area Networks). Com a disseminação da web, 25 anos atrás, ampliou-se o alcance da LAN para a própria Internet e a computação foi disseminada muito mais rapidamente. Agora pequenas  empresas podiam ter sua capacidade computacional. Os usuários cresceram para a casa das centenas de milhões. Com os PCs, passamos a ter uma computação individual e o emponderamento dos funcionários, que poderam, inclusive, trabalhar em casa. Reengenheirou-se os processos das corporações. Novas empresas surgiram ou se expandiram, como Oracle, Microsoft, SAP, Novell, Intel e diversas empresas de consultoria.

Estamos agora diante de uma nova mudança, uma outra destruição criativa. Estamos vivenciando a chegada de diversas ondas tecnológicas que se entrechocam criando uma mudança de paradigma: falamos do fenômeno que algumas empresas chamam de CAMS, SMAC, Nexus of Forces ou mesmo terceira plataforma. Mas de qualquer modo, a chegada da computação em nuvem, Big data/analytics, mobile e o social business trazem os desafios das mudanças de paradigma  para a TI como um todo, tanto para os produtores de serviços e produtos de tecnologia, quanto para seus clientes. A escala também mudou; agora são bilhões de usuários (basta ter um celular ou smartphone) e as aplicações subiram para a casa dos milhões (basta ver o número de apps que existem nas lojas especializadas).

De maneira geral, um novo paradigma começa meio desapercebido. Aparece inicialmente apenas como um  traço nas pesquisas de utilização, quando comparado ao modelo vigente. Mas sua curva de adoção aponta rapidamente para cima. Recomendo a leitura do livro “The Structure of Scientific Revolutions: 50th Anniversary Edition”, de Thomas Kuhn. Descreve como surge um novo paradigma e ajuda a entender as reações e desconfianças iniciais que geralmente acompanham as mudanças. Vale a pena ler!

Embora as tecnologias dos paradigmas anteriores não desapareçam, e sim evoluam, perde-se progressivamente sua importância e o foco de atenção. Um exemplo é este artigo de 2012, mas bastante atual, do The Economist, que mostra como os mainframes ainda são (e serão) importantes para a IBM.

Mas sem sombra de dúvidas muitas empresas que se consolidaram nas últimas ondas não deverão sobreviver. Os números de várias pesquisas mostram que os investimentos das empresas usuárias de TI estão rapidamente se direcionando ao novo paradigma. Estes números mostram que embora os investimentos ainda sejam grandes no modelo atual, a curva de adoção está mudando de direção de forma muito rápida. Por exemplo, um estudo do IDC mostra que, em 2020, cerca de 98% do crescimento da indústria de TI será no novo paradigma e não no atual.

Todos os números apontam crescimento acelerado nas ondas tecnológicas que compõem o novo modelo. Comprova-se esta tendência quando vemos que a imensa maioria das empresas de tecnologia está disputando uma árdua corrida para se posicionarem como um dos players atuantes em cloud computing, mobilidade, big data e social business. Mobilidade, por exemplo, está se tornando o “primary design point” para acesso à aplicações e o fenômeno da consumerização está subvertendo a tradicional ordem das coisas, afetando de  forma irreversível o poder do setor de TI de determinar e controlar a entrada das tecnologias nas empresas. Big data reflete o fato de gerarmos zetabytes de dados por ano, dobrando este volume a cada dois anos.

Estas ondas são um verdadeiro desafio para os CIOs, que precisam, ao mesmo tempo, manter o avião voando, simplificando e automatizando suas operações (reduzir custo é business as usual) e investir na adoção e integração de todas estas tecnologias e conceitos de forma acelerada em suas empresas. Se não forem ágeis o suficiente, serão colocados em posição periférica nas estratégias de negócio. É o paradoxo do CIO…

A mudança de paradigmas no curto prazo gera muita desconfiança e muito provavelmente não conseguimos visualizar seus efeitos a médio e longo prazo. Entretanto, já vemos claros sinais de que estas mudanças não afetam apenas os setores de TI, mas têm o potencial de transformar e criar novos modelos de negócio, impensáveis há alguns anos atrás. Na época do início da web e dos primeiros sites de comércio eletrônico, alguém conseguiria imaginar um Google ou um Facebook? Quando os celulares começaram a se disseminar, alguém imaginaria o surgimento do iPhone e seu efeito em toda indústria de celulares (e da indústria de software), além de mudar o dia a dia da sociedade?

Voltando ao paradoxo dos CIOs, o novo modelo vai afetar de forma radical as funções de back-end, como infra-estrutura tecnológica que, em grande parte, vai ser colocada em nuvens híbridas ou públicas, mas o seu efeito vai se sentir principalmente na camada de front-end, onde os apps em smartphones, tablets e “wearable devices”, usando conceitos de big data e social, vão criar um novo modelo de relacionamento e engajamento com os clientes. Os executivos de negócio e os usuários, mais íntimos da tecnologia, e incentivados pela intuitividade e facilidade das apps vão cada vez mais assumir papel de predominância no uso e disseminação das tecnologias pelas empresas.

Aqui e ali já observamos estes sinais. Em um evento com CIOs, um deles reclamou que os usuários têm mais tempo que ele para estudar e propor novas tecnologias. Sua preocupação foi claramente externada  pelo risco de ficar apenas como responsável pelo legado, com as inovações não sendo iniciadas pelo seu setor. Outro me disse que entende que a fase do controle rígido acabou, pois os usuários vão buscar apps e soluções diretamente nas nuvens, sem consultar o setor de TI.

O CIO da nova geração tecnológica terá papel diferente dos CIOs do paradigma atual. O legado vai continuar existindo, pois embora haja a tendência de ser commodity, é importante. Mas uma nova camada de aplicações, desenvolvidas em novo conceito (vale a pena pensar no conceito de entrega contínua, com DevOps) vai se tornar a parte mais importante da TI nas empresas. Será o diferenciador competitivo. O legado tem que se transformar de centro de atenção do CIO em um backbone  resiliente e seguro, que será a base que vai permitir a rápida criação de novas soluções. O CIO terá que conciliar ritmos e modelos de evolução diferentes. O legado muda mais lentamente que as apps. Estas interagem diretamente com os usuários e seu foco é experimentação, criatividade e inovação. O vetor resultante é que novos modelos de governança devem ser adotados; modelos que conciliem estes diferentes objetivos.

É um processo irreversível. Não existe possibilidade de lutar contra. No início da web havia muita desconfiança do potencial do e-commerce e hoje este é um assunto já vencido. O mesmo com o Internet banking, meio mais comum de acesso aos bancos hoje. Vemos a mesma história se repetir com big data, cloud etc. Portanto, os CIOs devem se reposicionar e repensar suas próprias equipes. O mesmo vai acontecer com os fornecedores de produtos e serviços de tecnologia. Os que não conseguirem se adaptar e evoluir rapidamente o bastante, vão se tornar lembranças na história da computação ao lado de tantos outros nomes que foram famosos.