Tecnologia

17 abr, 2015

Computador popular testado em favelas do Rio é lançado na internet

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Um computador de baixo custo com design inovador e sistema operacional próprio foi lançado para venda online nesta terça-feira (14). Embora tenha sede em San Francisco (EUA), a Endless tem sócio brasileiro e teve usuários de locais como o Conjunto de Favelas do Alemão e a Rocinha, algumas das maiores favelas do Rio, para testar e ajudar no desenvolvimento do produto.

O Endless — que é também o nome do computador — custa US$ 169 (cerca de R$ 523) e aposta no mercado brasileiro. O produto, no entanto, só deve chegar nas lojas do país em meados de 2016, após passar por um processo nacional de fabricação para reduzir custos de impostos.

A proposta é oferecer uma tecnologia autoexplicativa para leigos por um preço acessível, embora o valor no Brasil ainda não seja divulgado. A recente alta do dólar e as possíveis variações que a moeda estrangeira podem ter até lá ainda deixam os diretores reticentes em relação ao custo.

Testes em comunidades

Desenvolvido por especialistas em seus escritórios bem equipados, o computador foi também às ruas. “Fomos nas casas das pessoas nas áreas rurais, favelas e tribos para entender como a tecnologia pode mudar realmente as suas vidas. E quanto mais tempo interagíamos com elas, mais fomos percebendo o quanto os sistemas operacionais disponíveis no mercado estão distantes da realidade das pessoas nos países emergentes”, diz Camila Soares, diretora de pesquisa da Endless.

Os profissionais levaram protótipos para serem testados e entender as dúvidas dos usuários: o que eles procuram, onde eles procuram e onde querem encontrar os programas. Todo o layout foi desenvolvido pensando nisto.

“Empresas de tecnologia que fazem um sistema operacional têm pessoas formadas nas melhores faculdades do mundo: Harvard, Stamford, MIT. Na cabeça deles, o que é fácil pode não ser fácil para quem não tem o segundo grau e mora em uma comunidade”, explica Gilmar Lopes, assistente de campo da Endless.

Morador da Rocinha, ele ia de casa em casa apresentar o projeto e ouvir dicas do que precisava ser mudado para a acessibilidade ficar ainda mais simples.

O computador tem sistema operacional próprio, o Endless OS e já vem com uma centena de programas: jogos, editor de fotos, player de música e, principalmente, uma enciclopédia offline baseada na Wikipedia. Os aplicativos são atualizados mesmo com uma internet intermitente, caso esteja conectado. A intenção é que o computador não dependa da grande rede.

“O custo do computador mais a Internet, às vezes, é muito caro para este público. E, mesmo tendo acesso ao computador, o usuário não tem conhecimento de usar tudo na internet. Por isso, quando o usuário abre o browser ele já vai ter vários sites para ensinar para aonde ir”, explica Ivan Gonçalves, diretor de expansão internacional do produto.

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Tela do Endless, que chegará ao Brasil para venda em 2016 (Foto: Reprodução/G1)

Criador de currículos

Em outras palavras, é como se a área de trabalho oferecesse uma lista pré-selecionada de programas e sites “favoritos”, com base em testes feitos nas ruas. Um dos aplicativos citado como um trunfo é um criador de currículos. Embora tenha um editor de texto entre os vários programas, os desenvolvedores perceberam que alguns usuários não sabiam como criar um CV em um programa que não fosse específico para isso.

Com sua “mini-CPU”, cujo formato lembra os fantasmas do game “Pac-Man”, o Endless não tem mouse, teclado e monitor. A ideia é que o comprador aproveite as peças de outra máquina, inutilizada após um vírus ou até mesmo que use os acessórios de um amigo. A televisão pode ser usada como monitor.

Diretor do Endless na América do Sul, Renato Peixoto diz que o computador vem para “quebrar um paradigma”: “Dar tecnologia de qualidade para quem tem um poder aquisitivo mínimo e procura comunicação, interação social, estudo e busca oportunidade”.

Para Gonçalves, a proposta não pode dar errado. “É uma missão muito nobre para não dar certo. É dar oportunidade para milhões de pessoas”, finaliza.

Segundo cálculos da empresa, 5 bilhões de pessoas não têm acesso ao computador no mundo e 60% deles poderiam ter, se dependesse exclusivamente do poder aquisitivo. No Brasil, dizem, são 100 milhões de pessoas que não têm o seu.

 

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Com informações de G1