DevSecOps

11 dez, 2014

Distribuições GNU/Linux versus dispositivos móveis: façam suas apostas!

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Eu sou de um tempo onde era comum vermos usuários experimentando outros sistemas operacionais, pois conheciam novas tecnologias e tendências e queriam testá-los em seus desktops (sim, os notebooks vieram muito depois), nem que fosse através de Dual Boot ou ainda instalar num PC antigo que estava jogado em casa. Nessa época, era comum também vermos inúmeros “install fests” acontecendo por aí, comunidades a todo vapor “evangelizando” novos usuários e aguardando ansiosamente pela liberação da nova versão do seu SO preferido (os blogs que traziam as novidades mais recentes sobre o que viriam nas próximas versões de algumas distros Linux bombavam em leituras e comentários, e muitos blogueiros literalmente se “degladiavam” para ver quem postava a novidade primeiro).

Porém, de um certo tempo pra cá, estes “usuários entusiastas” parecem ter sumido do mapa… Sendo assim, onde foram parar os Install Fests e os trabalhos de evangelização das principais comunidades? Muita especulação pode ser feita sobre assunto, porém quero apresentar aqui números do que vem acontecendo nesse cenário e peço que vocês tirem as suas próprias conclusões.

Antes de falarmos sobre a fatia do Linux (e suas distribuições) no uso mundial de computadores e dispositivos móveis, vamos entender o que está acontecendo com esse mercado. O site intelligentpositioning.com fez um estudo incrível em abril deste ano sobre o uso dos desktops e notebooks versus dispositivos móveis. Nele previu-se que em meados de 2014 o uso de dispositivos móveis ultrapassaria o uso dos desktops. E pasmem: o site searchenginewacth.com publicou um estudo sobre a importância do mercado mobile, onde foi constatado que em julho deste ano os gadgets móveis foram mais usados para acessar a Internet do que os desktops.

E não para por aí… O The Wall Street Journal publicou uma matéria afirmando que o uso das redes sociais já é maior em dispositivos móveis do que em desktops (fonte):

infografico-mobile-vs-desktop

E você acha que para por aí?! A leitura de e-mails também já é maior em smartphones e tablets do que em desktops ou notebooks (fonte):

e-mail-mobile-desktop

Querem mais números?

  • Desde 2011 mais de 45% da população mundial estava coberta por 36 redes móveis;
  • Em maio de 2012, 10,11% dos page-views dos sites foram realizados a partir de dispositivos móveis;
  • Um terço dos norte-americanos adultos possuem smartphones. Esse número tende a aumentar cada vez mais ao longo do tempo;
  • Em 2012, 1 em cada 6 pessoas tinha a intenção de comprar um tablet;
  • Países em desenvolvimento como como Egito, India e África do Sul possuem, respectivamente, 70%, 59% e 57% de usuários exclusivamente mobile (que nunca, ou raramente, usam computadores desktop ou notebooks para acessar a web), enquanto essa porcentagem nos EUA é de 25%;
  • Entre os novos usuários de tablets, 40% o utilizam para acessar notícias, 48% para ouvir música, 48% para acessar redes sociais e 67% o utilizam para acessar a Internet;
  • As redes sociais representam um enorme papel na expansão da Internet móvel: em junho de 2012, o Facebook registrou 543 milhões de usuários ativos por mês nos seus aplicativos mobile;
  • Durante a CES 2011, o Twitter declarou que 40% dos seus posts eram realizados através de dispositivos móveis (como isso já faz mais de 2 anos, provavelmente, esse número já aumentou);
  • A AOL demorou 9 anos para atingir 1 milhão de usuários. O Facebook demorou 9 meses para atingir a mesma marca. O aplicativo Draw Something demorou 9 dias;
  • O aplicativo Instagram foi lançado em 2011. Um ano depois, possuía 13 empregados e 25 milhões de usuários (fonte).

E onde ficam as distribuições Linux nisso tudo?

Se formos falar em anos, essa reviravolta no mercado de computadores é muito recente… Estamos falando de 2011 pra cá, mais ou menos. Neste período, enquanto as gigantes do mundo mobile, como Google a Apple, montavam suas estratégias para chegarmos onde estamos, houve iniciativas dentro do mundo livre para abocanhar alguma fatia desse mercado, como por exemplo o FirefoxOS e o Ubuntu Phone. Porém, nenhuma delas obteve um sucesso expressivo. Até a Canonical, empresa por trás do Ubuntu, que tinha potencial para entrar nesse mercado de cabeça, deu um tiro que saiu pela culatra com o anúncio do Ubuntu Edge (um smartphone em que a Canonical fabricaria hardware e software) através de uma plataforma de cross found (sinceramente acho que eles deveriam ter ficado no Ubuntu para Android).

Em contra-partida, justamente nesse período em que as comunidades de desenvolvimento das distros deveriam estar se preocupando com (ou antevendo) essa mudança no mercado, alguns desentendimentos acabaram acarretando numa espécie de “marasmo” que vem tomando conta do “universo GNU/Linux” – e aqui podemos citar os inúmeros boatos sobre a efetiva participação da comunidade no desenvolvimento do Ubuntu, a saída de alguns dos principais desenvolvedores do projeto Debian por “desentendimentos” com a comunidade etc.

O antagônico nisso tudo é que, enquanto o Linux vem crescendo assustadoramente como kernel (sim, esse é e sempre foi o objetivo do projeto) as distribuições GNU/Linux parecem ainda estar ignorando esta tendência de mercado, que é a migração massiva para os dispositivos móveis. Atualmente vemos o kernel Linux sendo usado em praticamente tudo a nossa volta. Seja nos próprios sistemas operacionais móveis (o Android usa o Linux como kernel) que hoje já estão presentes até no conceito Wear Computing (computadores para vestir), sejam em geladeiras, automóveis, supercomputadores, nos servidores das principais redes sociais e dos maiores mecanismos de busca da internet etc… Menos nos computadores pessoais.

É claro que os desktops não vão morrer de uma hora pra outra. Ainda existe muita coisa que é difícil para se fazer em um tablet ou smartphone (como programar, editar imagens etc). Porém note que a visionária Google também já anteviu isso e vem sorrateiramente portando muita coisa pra dentro do seu navegador Chrome. Hoje é praticamente possível fazer qualquer coisa tendo instalado apenas o Google Chrome numa máquina (isso mesmo, independente do sistema operacional que esteja rodando). Até o famosíssimo Photoshop já possui versão web através do Chrome. E se falarmos de suítes de escritório? Tem coisa mais prática do que usar o Google Docs pra trabalhar em documentos colaborativos?

Enfim, sinceramente torço para estar completamente errado ou para que as comunidades de desenvolvimento abram seus olhos antes que seja tarde demais.