Carreira Dev

12 nov, 2013

Criatividade (deu branco)

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Antes de debatermos sobre os parâmetros do que é criativo, permita-me falar sobre o lugar-comum, o que não causa surpresa. Sobre as ideias, imagens e objetos aos quais somos indiferentes. Das ideias recicladas à exaustão, das “soluções fáceis” – clichês de todos os tipos, chavões. Do desgaste tipográfico, de recursos pictóricos hyped que no dia seguinte serão desprezados, como a “Geni” criada por Chico Buarque.

Todos esses maus atributos estão diretamente relacionados a uma só palavra: saturação. Saturação da linguagem, das estéticas – que seguem uma via inevitável de ascensão e queda, de amor e desprezo –, fenômenos que se sucedem de maneira extremamente acelerada. Nesse cenário, torna-se evidente a dificuldade de se criar algo que tenha personalidade própria, que se sustente por mais tempo do que o esperado, que consiga, diante do ciclo de consumo e regurgitação vorazes por parte do público, conquistar outro patamar, estabelecendo um tipo especial de comunicação. Não é nada fácil ter certeza das estratégias e objetivos que escolhemos diante de tamanha complexidade, da mudança de personalidade editorial (quem era expectador, agora também passa a ter sua própria audiência, como nos é óbvio, hoje em dia), do fluxo cada vez mais frenético, de dados; fatos que nos fazem questionar a todo tempo quem são os personagens e quais são suas motivações dentro da cadeia de consumo criativo.

Sentimos latente e automática necessidade da linguagem no dia-a-dia, para nos comunicar da maneira mais rápida e mais prática possível. Caso contrário, a má comunicação se refletiria em problemas de natureza material ou funcional. Acabamos, assim, por praticar um modelo automatizado de comunicação funcional na maior parte do tempo. Arriscaria dizer que o rompimento com esse modelo é o objetivo da criatividade, seja qual for o meio em que se manifeste. De forma resumida, podemos dizer que a criatividade é um mecanismo especial, quase lúdico, de se trabalhar a linguagem além do lugar comum, promovendo consigo um movimento repleto de atividade intelectual, cultural, artística e até social.

O medo que todos nós temos quando colocados à prova nos faz ficar tensos, porque sabemos, bem no fundo, que em determinado momento vamos nos deparar com uma questão existencial mal resolvida: o medo de descobrir que superestimamos a nós mesmos. Por isso, a primeira coisa a se fazer, antes de tentar resolver um conflito ou um bloqueio criativo, é se autoaceitar, compreender a situação por uma ótica racional, respirar fundo e tentar acalmar o coração e a mente. O relógio interior não pode correr no mesmo timing do relógio do mundo na hora da criação. O timing da nossa vida é que tem que dar as coordenadas para o tempo do mundo e das coisas.

Todos sentem medo, mas nem todos conseguem lidar com esse sentimento de maneira positiva. O medo humano é um mecanismo feito para nossa proteção. É a base do nosso senso de autopreservação. O problema é que ele facilmente se transforma num monstro gigante quando estamos desesperados. E como iniciaremos um trabalho criativo estando totalmente desestimulados? Primeiramente, respirando fundo e nos dedicando a uma procura sincera pelos motivos reais do bloqueio. Enquanto não estivermos mentalmente ou psicologicamente prontos, será IMPOSSÍVEL criar algo de qualidade. É melhor nem tentar. Portanto, dediquemo-nos a uma autoavaliação sincera, mesmo que isso não seja algo agradável a princípio. Mas é um grande remédio contra o MEDO.

É verdade que gostaríamos mesmo que a criatividade fluísse de nós “automagicamente”. Primeiro, porque dói. Isso mesmo, dói. Expressar criatividade através da comunicação visual é solucionar um problema, é conectar possibilidades mnemônicas com valores lógicos (e pior, subjetivos!), charadas, codificando e decodificando informações, apropriando, resignificando, adequando. Porque ao longo da nossa vida, no nosso dia-a-dia, deixamos de fazer algumas coisas em prol de outras. Nesse momento, entra em ação a nossa “bússola de interesses”, que define O QUE GOSTAMOS e O QUE QUEREMOS, valores que mudam a todo instante e que definirão se você vai ou não sair da sua zona de conforto em prol desse objetivo.

Agora é com você.