Mobile

17 mar, 2014

A consumerização como realidade nas empresas

Publicidade

A rápida disseminação da computação móvel está estimulando uma verdadeira onda de novas e inovadoras empresas e apps. A constante evolução tecnológica dos smartphones e tablets, acoplados com novos sensores, e a computação em nuvem tornam muito mais fácil e barato criar novos negócios. Com as lojas de apps é possivel, de uma hora para outra, alcançar milhões de usuários e o efeito viral se espalha rapidamente. Com isso, as apps caem no gosto dos usuários e começam a fazer parte de sua vida diária.

Como cada vez mais as fronteiras entre trabalho e a vida pessoal se entrelaçam. Os usuários destes apps querem usá-los a todo momento. Fazem parte do seu “way of life”. Levam, portanto, estas demandas para as empresas. Temos o fenômeno da consumerização, que tem implicações muito maiores que uma simples e ad hoc tentativa de implementar processos BYOD nas empresas.

Na realidade, os usuários já não vêem diferenciação entre aplicações end-user e de negócios. Usam WhatsApp, Evernote, Skype, Twitter, Facebook, DropBox, Vine e outras no seu dia a dia bem como nas suas atividades profissionais. Esta diferenciação deve diminuir mais ainda com os “wearable devices”, que praticamente serão extensões do nosso corpo humano. É um desafio para o tradicional modelo mental de TI, que sempre foi o condutor das implementações de tecnologia nas empresas. TI está acostumada a selecionar, homologar, distribuir e suportar alguns poucos produtos, como desktops e laptops. Atua como pastor das ovelhas (que seriam seus usuários obedientes e passivos). Hoje o usuário compra seu próprio tablet, baixa seus aplicativos e ele mesmo faz os updates e resolve seus eventuais problemas de uso. Tudo sem passar pela área de TI. Dispensa o pastor…

Os usuários também questionam por que as aplicações de negócio não são intuitivas e fáceis de usar como as apps que usam no dia a dia. Por que não interagem com plataformas sociais, não incorporam fotos e são acessíveis com o dedo em interfaces touch screen? Por que, se eu quiser fazer uma movimentação de uma conta bancária para outra, não posso simplesmente colocar meu dedo em cima de minha foto e levar o montante de depósito para outra foto, da pessoa para o qual faço o  depósito? Nos apps, toda a complexidade está escondida e o usuário interage com a simplicidade. Nos sistemas corporativos atuais a complexidade é compartilhada com os usuários.

Se olharmos a consumerização além do BYOD, que é apenas  ponta do iceberg, vemos que está impactando a maneira como exercemos nossas atividades profissionais. Usamos smartphones, tablets e apps no nosso dia a dia. Compartilhamos informações via Facebook. Estamos acessíveis em qualquer lugar, seja no trânsito ou caminhando no calçadão de Ipanema. Não somos mais funcionários apenas nos escritórios.

Este novo modelo de trabalho tende a substituir o modelo organizacional hierárquico, criado em uma época onde predominava a escassez e a lentidão da troca de informações, por um modelo em rede, potencializado pela rápido compartilhamento de informações. O chefe não é mais o dono das informações. Elas provavelmente já estão na rede. O próprio trabalho é cada vez mais descontínuo. Nos envolvemos em muitas atividades em paralelo, principalmente porque a troca de contexto é simplificada cada vez mais. Podemos estar usando o Skype, teclando no WhatsApp,  analisando uma planilha, fazendo buscas no Google e compartilhando informações via alguma plataforma de mídia social, ao mesmo tempo, com pessoas e em atividades diferentes. Apesar do custo cognitivo das constantes interrupções, aparentemente os resultados em termos de produtividade se mostram positivos. Um exemplo são os EUA, onde estas tecnologias são usadas com muita intensidade e que teve um aumento de produtividade média por profissional de 80% nos últimos 25 anos.

A consumerização encontra grande resistência nas empresas, principalmente nos setores de TI. É um mundo novo e desafiador. A consumerização afeta o modelo organizacional e as plataformas sociais. Com compartilhamento fácil e instantâneo de informações, muda de forma radical os tradicionais processos de negócio adotados nas empresas, sequenciais por natureza. No modelo sequencial enviamos emails para uma pessoa e esta envia para a seguinte e assim sucessivamente. No modelo em rede “file-sync-and-store”, simplesmente criamos a informação e a compartilhamos na nuvem. Um folder de arquivos pode ser compartilhado por todas ou por um grupo especifico de pessoas. É, indiscutivelmente, muito mais flexível e adaptável às frequentes mudanças que ocorrem no dia a dia das empresas.

Como entrar neste cenário? Antes de mais nada é preciso compreender que consumerização é muito mais que BYOD. BYOD não é um fim em si mesmo, mas parte de uma estratégia de consumerização que nada mais é que parte essencial da transformação da empresa em um negócio digital. Observo aqui que um negócio digital não é uma empresa que oferece produtos 100% digitais, mas uma que usa tecnologias digitais em 100% de suas atividades.

Interessante que conversando com alguns CIOs observei que eles entendem que os seus clientes devem ter acesso a apps e outras tecnologias que reforçam o engajamento com a empresa, como plataformas sociais, mas não olham os funcionários da companhia sob esta mesma ótica. Por que um tratamento diferenciado? Por que os funcionários não podem ter acesso às mesmas tecnologias ofertadas aos usuários? Eles usam nos seus smartphones e tablets as mesmas apps que os clientes… Na minha opinião, este quadro deve mudar nos próximos anos. A estratégia de consumerização, se bem aplicada, deve propor que a experiência de uso dos funcionários seja similar a que os usuários usufruem. Resumo da ópera? Consumerização é parte da estratégia de negócios e não apenas uma ação tática que termina no BYOD e eventual liberação do YouTube e Facebook pelos usuários… E seria bom começar a pensar nisso agora mesmo.