Agile

8 mai, 2013

Metodologias ágeis e gestão de pessoas

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Muito se tem dito sobre metodologias ágeis. Teorização, estudos de casos, vantagens e desvantagens, sem contar as discussões “Metodologias Ágeis vs Tradicionais” – sempre palco de divertidos e acalorados  embates. No entanto, o objetivo desse artigo é abordar o assunto sobre outra ótica: a gestão de pessoas.

Só esclarecendo minha opinião, prefiro as metodologias ágeis, particularmente SCRUM – e de verdade a paixão começou bem mais por uma questão estética que de ordem operacional. Adoro a imagem daqueles post-its pendurados em um quadro. Claro que reconheço o valor das metodologias tradicionais, mas particularmente no mercado brasileiro elas não se aplicam muito bem e entendo que basicamente por duas questões fundamentais: custo e cultura – não necessariamente nessa ordem, o que não me atrevo a definir.

Figura 1 – Quadro SCRUM
Figura 1 – Quadro SCRUM

Lembro-me do primeiro contato com metodologias ágeis em meados de 2005 em um dos centros de inovação da Microsoft, na época conhecidos de Centro de Tecnologia XML.  Obviamente, utilizávamos o MSF – Microsot Solution Framework e meu trabalho, então como arquiteto, era conduzir uma equipe de aproximadamente 16 profissionais, a maioria em inicio de carreira, na concepção de dois sistemas de médio porte em um cenário de grande criticidade e pressão – mais rotineiro impossível.

Desde as primeiras semanas de projeto comecei a refletir sobre o que agora, mais de sete anos depois,  pretendo levantar aqui: o uso dessas metodologias na gestão das pessoas.

Metodologias ágeis

Ainda que baseado em um princípio militar – o de dividir para conquistar – as semelhanças com os homens fardados param por ai. As metodologias ágeis seguem um modelo não linear, buscando se adaptar às mudanças tão comuns em um ambiente de desenvolvimento ou manutenção de um produto, sejam essas de ambiente, de requisitos, de profissionais ou mesmo de clientes. E ao contrário do universo militar, hierarquia não faz parte desse contexto, que é substituída por um ambiente colaborativo. Enfim, um cenário condizente com os dias atuais e os anseios das novas gerações – maior parte dos profissionais de TI.

Dessa forma, e não me refiro especificamente ao grupo de um único projeto, vejo as metodologias ágeis como uma ferramenta de formação, integração, sinergia, manutenção, e renovação de um time de profissionais.

Ambientes ágeis como prefiro chamá-los, são capazes de transformar grupos em equipes.

Figura 2 - Equipes Multidisciplinares
Figura 2 – Equipes Multidisciplinares

Ora, um grupo com poucos integrantes, com todos de fato comprometidos, com papeis equivalentes em grau de importância, e sobretudo lutando por um objetivo comum é o que a disciplina de Gestão de Pessoas chama equipe.

É claro que atingir esse nível de excelência não é tão fácil assim. É necessário combater um grande vilão, comum em qualquer relação entre pessoas – o EGO, e ainda bem que a própria essência das metodologias inibe esse elemento desagradável.

Aspectos motivacionais

Eis um dos maiores, senão o maior desafio da gestão de projetos/pessoas: motivar e manter motivados os membros de uma equipe.

Diversas são as teorias sobre esse assunto, desde os tradicionais Maslow, Herzberg, Vroom, McClelland e Adams, às teorias motivacionais modernas, com sistemas orgânicos de administração. Vejo as metodologias ágeis como uma ferramenta capaz de suprir boa parte das necessidades tão comuns aos profissionais de TI e assim mantê-los motivados.

Por exigirem equipes auto gerenciadas e multifuncionais, as metodologias ágeis permitem que os membros tenham importância relevante no projeto e a necessidade de comprometimento é de fundamental importância. Sob certas circunstâncias, quando a equipe atinge um elevado grau de maturidade com os ambientes ágeis, chega-se a um modelo de gestão baseado em empowerment, que é uma abordagem gerencial baseada em autonomia, na delegação de poderes e participação ativa de todos, abrindo mão completamente de um modelo centralizado, e baseado nos quatro pilares: poder, motivação, desenvolvimento e liderança.

Dessa forma, as metodologias são capazes de suprir a necessidade inerente dos indivíduos de pertencer a um grupo social, inicialmente apontado por Maslow nos idos da década de 1940, o que é bem mais complicado nos modelos tradicionais, onde há um distanciamento dos participantes do projeto.  Percebe-se nitidamente também que aos métodos ágeis confere aos membros do time uma posição de poder, de status, da capacidade de exercer influencia sob os demais, o que segundo McClelland (anos 1960) também são fatores motivacionais.

Outra dificuldade em gerir profissionais de TI é administrar seus anseios cada vez mais precoces e mais uma vez os ambientes ágeis demonstram sua utilidade uma vez que aqui o horizonte das entregas são bem mais curtos que os modelos tradicionais, soma-se a isso o fato que nesses ambientes a comunicação é estimulada em todas as esferas, seja intra-equipe ou mesmo com todos os stakeholders do processo, e o melhor, sem aquela carga de formalismo dos métodos tradicionais, viabilizando assim a almejada relação desempenho x recompensa ou teoria da expectativa de Vroom (1964). Além do mais, favoritismo não é muito bem vindo aos ambientes ágeis, aqui as relações de trabalho são equivalentes.

Figura 3 - Profissionais Multifuncionais
Figura 3 – Profissionais Multifuncionais

Outro aspecto interessante dos métodos ágeis é que eles permitem que as pessoas atuem em projetos diferentes e com papéis diferentes, tudo ao mesmo tempo, o que também estimula profissionais inquietos, curiosos, ansiosos, capazes e dispostos – um retrato fiel de boa parte dos tecnólogos.

Infelizmente, nem tudo são flores. Manter um clima ágil é relativamente complicado, é muito comum o pessoal se empolgar no início, mas após os primeiros ciclos ou sprints se dispersar, perder o foco… E é ai que surge a figura do líder cujo grande papel é o de facilitador. Vale ressaltar que essa necessidade de autogerenciamento e time multidisciplinado pressupõe um grupo de colaboradores íntegros e capazes de executar não apenas suas tarefas, geralmente associadas à sua inteligência predominante, mas também gerenciar a si e seus a pares.

Concluindo

É isso ai pessoal! As metodologias ágeis têm como grande mérito aproximar a realidade do mundo a construção e manutenção de softwares. Vivemos a famosa era do conhecimento, onde as mudanças são a grande constante, onde os processos precisam ser flexíveis, onde as pessoas são ansiosas e sedentas por conhecimento.

Bom, como já dito, faz muito tempo que penso sobre esse assunto, mas precisava de um pouco mais de vivência e segurança para abordá-lo dessa forma, o que foi resolvido com os últimos anos no mercado. Não posso deixar de mencionar e agradecer ao professor Marcelo Goldstein, pelas discussões dentro e fora de sala de aula do curso de MBA da Fundação Getúlio Vargas, bem como sua contribuição com as teorias motivacionais. Por fim, agradeço ao meu amigo Paulo Goes, pela paciência com a revisão e os diversos bate-papos sobre o assunto,  esses geralmente em algum boteco.