Carreira Dev

9 dez, 2013

Cloud computing e a maturidade do mercado

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Nesta semana, por curiosidade, pesquisei no Google Trends pelo termo cloud computing. O resultado é muito interessante. Mostra uma curva em sino, com o assunto começando a despertar interesse em 2008, acelerando-se em 2009 (quando até escrevi um livro sobre o assunto), atingindo o ápice em  2011/2012 e a partir daí começando descer. Não é que o conceito esteja em desuso, pelo contrário, a tendência de queda nas buscas pelo tema mostra que cloud computing está deixando de ser novidade para entrar no uso diário, no mainstream das empresas.

Os sinais de fumaça já estavam claros. Lembro que em torno de 2011, conversando com alguns investidores do vale do Silício em um evento promovido pela IBM (Smart Camp), alguns deles falaram coisas interessantes. Observaram que praticamente todas startups criadas nos EUA já nasciam em cloud. Isto significava criar uma empresa praticamente a partir de uma ideia, sem necessidade de investimentos upfront em servidores. O processo de inovação de negócios em tecnologia estava em ebulição, devido a esta mudança de paradigma.

Um deles comparou com a época do estouro da bolha da Internet, em torno dos anos 2000. Nessa época, segundo ele, cada aporte de capital se situava em torno de US$ 2 a 3 milhões, a maior parte construindo data centers e os enchendo de servidores. Hoje uma startup pode crescer e conquistar market share de forma rápida e pagando apenas pelo uso, afetando os negócios estabelecidos, que usam os modelos tradicionais de TI e que demoram a responder, pela característica mais lenta de reação do modelo on-premise. Os investidores, segundo eles mesmos, podiam agora aportar uma pequena fração do que aportavam antes. Com isso apostavam em muitos mais empreeendedores e o processo torna-se extremamente benéfico, pois acelera o ciclo de inovação.

Esta transformação, que começou nas startups da Internet, está começando a chegar em praticamente todas as empresas. O período de gestação do conceito acabou e as iniciativas estão aparecendo por todos os lados. Observo nas palestras sobre cloud que o debate com os participantes já deixou para trás a questão do “devo ou não ir para cloud?” e já evoluiu para “como faço para ir e que caminhos devo tomar para acelerar a adoção?”. Novos tempos…

Tenho a convicção que o ritmo de adoção vai se acelerar em muito. Estamos no momento que conhecemos como tipping point e a partir deste ponto o ritmo de adoção cresce de forma exponencial. A curva de adoção até hoje, mais lenta e gradual, não será mais nos próximos 2 a 3 anos. Esta será muito mais acentuada.

Interessante também observar que o movimento de “ida para cloud” está deixando de ser apenas voltado para custos, mas como plataforma de integração das demais ondas tecnológicas convergentes (social, big data e mobilidade), permitindo novas maneiras de pensar e criar soluções de negócio. Está ficando claro que cloud não é mais uma questão de tecnologia, mas uma questão do negócio se manter competitivo. Vale a pena ler o paper “Under cloud cover: how leaders are accelerating competitive differentiation”. É uma pesquisa feita pela IBM entre mais de 800 executivos sobre o uso de cloud e fica claro na sua leitura que a importância estratégica de cloud já é indiscutível. Mostra também que as empresas que começam a perder o timing para cloud estão dando os primeiros sinais de perder competitividade. É uma preocupação para seus executivos c-level…

As dúvidas também estão se deslocando e mostrando uma maior maturidade e conhecimento do conceito de cloud. Antes os questionamentos concentravam-se exclusivamente em segurança. Claro que segurança continua a ser uma questão importante, mas outros temas já são alvo de intensos debates como interoperabilidade entre nuvens e entre sistemas que estão em nuvens e on-premise, e as questões de como gerenciar um ambiente em nuvem, como costurar um acordo eficaz de SLA com os provedores e já começam também a separar o joio do trigo entre os próprios provedores. Os relacionamentos entre o que conhecemos como TI e os provedores de serviços e soluções de tecnologia, bem como TI e o próprio negócio, já começam a ser afetados pelo uso mais intenso de cloud. Muitas iniciativas isoladas de cloud por parte dos usuários, que se encaixam no chamado “shadow IT” forçaram as áreas  de TI a saírem da inércia. Muitos CIOs que se mostravam inicialmente relutantes, mudaram sua opinião. Não mergulham de cabeça em cloud, mas querem avançar rápido, com as precauções que acham necessárias. E a mudança nos modelos de uso de tecnologia  começaram a pressionar os fabricantes a mudarem os relacionamentos com seus clientes e as suas próprias ofertas.

Nas conversas com muitos CIOs fica claro que cloud é estratégia prioritária para muitas aplicações, principalmente aquelas que envolvem diretamente inovação e engajamento com clientes (suportadas por mobilidade, big data e social business). Para estas, o conceito cloud-first já está se tornando o modelo mental. Para as demais aplicações, mais estáticas e diretamente envolvidas com processos de negócio mais estáveis (conta corrente de um banco é um bom exemplo), o modelo on-premise continua sendo o preferido. É provável que veremos nos próximos anos um modelo híbrido como base na tecnologia para a maioria das empresas. O modelo exclusivo de software on-premise provavelmente se tornará, até o fim da década, um nicho de mercado. A maioria dos modelos de comercialização será cloud-only ou híbrido.

Este contexto tem implicações para o atual setor de TI. De controlador e provedor de serviços e infra (estes muitas vezes delegados a terceiros) passam a atuar como um broker, coordenando as demandas e as implementando – seja internamente (cloud privada) e/ou em cloud públicas. Posicionam-se como os responsáveis pela integração entre sistemas on-premise e em cloud, e pela coordenação e gestão das “personal clouds” com as políticas da empresa. Como cloud passa a ter papel estrátegico, TI assumindo o perfil de acelerador do processo acelera sua transição para um setor que realmente é um “value center” e não apenas  um “cost center”. Nos próximos anos, cloud computing, pelo próprio desgaste e fatiga do termo passará a ser apenas a computing. Todas as empresas estarão usando em maior ou menor grau a computação em nuvem.