Carreira Dev

19 nov, 2013

CIOs em tempos de mudança

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Tenho participado de inúmeros eventos com CIOs e gerentes de TI. E observo, com apreensão, que muitas empresas ainda olham e agem como se TI fosse meramente operacional. Dessa forma, acabam podando as iniciativas inovadoras dos CIOs. Além disso, existe uma certa relutância por parte de alguns desses profissionais em adotarem novos conceitos e tecnologias.

Entretanto, é inevitável buscar a inovação. A inovação é considerada como a principal responsável pelo aumento das receitas das empresas nos próximos anos. Na prática, com o contínuo aumento da competição causada pela globalização e a crescente digitalização da sociedade, a simples busca por maior produtividade e custos menores tornou-se básica, uma obrigação para se manter no mercado, mas insuficiente para melhorar sua competitividade. A globalização exige que as empresas brasileiras, para serem competitivas mantenham-se, no mínimo, em igualdade de condições tecnológicas com seus concorrentes externos.

Os sinais de fumaça, indicadores de que as mudanças são inevitáveis, estão aparecendo em todos os lugares. O ritmo de mudanças está se acelerando de forma visível. O cenário de negócios, em consequência, está cada vez mais complexo e instável. O resultado é a deterioração dos resultados em muitas empresas e o aumento significativo da possibilidade de a empresa e, às vezes, do próprio setor em que a empresa opera, de sofrer uma ruptura tecnológica que vai afetar sua sobrevivência.

Como a TI está cada vez mais inserida no negócio, podemos até nos arriscar a dizer que no futuro não teremos mais “TI fazendo parte do negócio”, mas o “próprio negócio sendo TI”. Os tempos em que existia um setor de TI isolado definitivamente já passou. As empresas que ainda estão no estágio de “buscar alinhamento entre TI e o negócio” já perderam o trem. Ele já saiu da estação e elas têm que dar um salto de escala para se reposicionarem. Questão de sobrevivência.

Para recuperar o tempo perdido, a postura relutante tem que ser transformada em ações pró-ativas. Os CIOs devem atuar como advisor, orientando as estratégias digitais da corporação e identificando quais tecnologias farão diferença competitiva. Essa é uma mudança e tanto. De maneira geral, com uma TI com a postura operacional, as empresas fazem seu plano estratégico e então escrevem o famoso PDI. Agora, não é mais possível pensar em estratégias de negócio sem TI, portanto, a estratégia de TI vai se confundir com a estratégia do negócio.

Apesar dos desafios, os CIOs estão muito bem posicionados para cumprirem esse novo papel. TI é uma área que já consegue visualizar toda a empresa. Uma área de TI que implementou um ERP e outros sistemas já teve contatos com a maioria dos processos de negócio. É uma posição privilegiada, que não pode e nem deve ser desperdiçada.

Entretanto, é importante que o CIO desenvolva novas capacitações e habilidades, indo além do conhecimento das tecnologias. O CIO não deve assumir mais o papel de CTO, e gastar a maior parte de seu tempo com fornecedores de tecnologia em discussões técnicas. Deve estar engajado em debates com executivos de negócio, com as estratégias da empresa e as ameaças e os riscos que afetam seu setor de indústria. Deve ser fluente na linguagem do negócio e não em terabytes, siglas de servidores e versões de sistemas operacionais. Deve saber vender a tecnologia como meio de inovar os negócios e, portanto, habilidades de apresentação, evangelização e motivação são importantes. É uma mudança de mindset e vai exigir, para os CIOs com viés mais técnico, um esforço significativo.

Por sua vez, a empresa deve reconhecer o papel estratégico de TI em seu negócio e posicionar a função adequadamente. Uma TI subordinada a uma gerencia financeira ou operacional vai se concentrar nos custos e dificilmente terá margem de manobra para influenciar e implementar inovações que afetarão toda a empresa. A função passa, automaticamente, a ter muito mais responsabilidade, pois agora é parte essencial da própria definição das estratégias do negócio. Não é mais a simples operadora dos processos automatizados.

Assim, aquele PDI, que simbolizava uma área de TI que estava sempre em standby, à espera das definições estratégicas, passa a ser a estratégia do negócio. O rápido avanço tecnológico não permite descanso. A tecnologia de ponta hoje estará comoditizada em pouco tempo, e as janelas de oportunidade abrem-se e fecham-se com muita rapidez. Apenas as empresas que reconhecerem TI no nível estratégico conseguirão se manter competitivas na sociedade digital. TI deixa de ser um setor para ser a própria empresa. Ou pelo menos estar entranhada dentro dela.