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3 mar, 2014

Criação do conhecimento nas organizações

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Leia o primeiro artigo, “Afinal, o que é conhecimento?”.

Davenport e Prusak (1998, apud SILVA, SOFFNER e PINHÃO, 2004) consideram cinco modos de criação do conhecimento nas organizações:

  • Aquisição: Uma das formas de uma organização gerar conhecimento é adquirir outra organização ou contratar pessoas que possuam esse conhecimento. No entanto, isso não é um processo fácil e o sucesso não é garantido, pois é difícil avaliar o conhecimento da organização que irá ser adquirida ou das pessoas a serem contratadas. Além disso, há os possíveis imprevistos que podem acontecer com a integração de uma nova cultura organizacional, alteração do clima organizacional em que o conhecimento se originava e desenvolvia, sem contar a resistência por parte do comprador em aceitar ideias e procedimentos das novas pessoas. Outro modo de geração do conhecimento por aquisição consiste na contratação temporária, e o melhor exemplo é a contratação de consultores e especialistas para acompanhar determinados processos e/ou projetos.
  • Recursos dedicados: Refere-se ao estabelecimento de grupo ou unidades organizacionais com a finalidade de criar conhecimento. Um excelente exemplo são os grupos envolvidos em projetos de pesquisa e desenvolvimento. Os autores destacam que os principais problemas ocorrem com a transferência desse conhecimento para as outras unidades da organização.
  • Fusão: Outra forma de geração de conhecimento é através da fusão de organizações, e, por conseguinte, de grupos de pessoas com conhecimentos, experiência e culturas diferentes. No entanto, é necessário que esses grupos de pessoas possuam pontos em comum, em termos de linguagem, conhecimento e experiência.
  • Adaptação: A necessidade de adaptação leva à criação de conhecimento. Os autores destacam que, tal como os indivíduos, as organizações também têm dificuldade em mudar hábitos e atitudes num ambiente estável. Por isso, um dos meios para promover a geração de conhecimento é criar uma sensação de crise antes que esta seja uma realidade.
  • Redes de conhecimento: Em todas as organizações existem grupos de pessoas com interesses comuns, que se comunicam frequentemente por meios, na maioria das vezes, informacionais, que criam e compartilham conhecimento, mas que não constituem qualquer estrutura formal na organização. Um dos grandes desafios da gestão é incorporar o conhecimento gerado por esse grupo no acervo de conhecimento da organização.

Carvalho (2012) afirma que as teorias anteriores sobre a criação do conhecimento concentravam-se em expor como as organizações processavam informações a partir do ambiente externo para, em seguida, se adaptarem a novas circunstâncias. No entanto, a criação do conhecimento concentra-se em como as organizações podem criar conhecimento dentro delas mesmas, utilizando esse conhecimento para inovação não só de seus processos e produtos, mas também para inovar o próprio meio do qual elas fazem parte. O pensamento abaixo reforça esta afirmação:

Quando as organizações inovam, elas não só processam informações, de fora para dentro, com o intuito de resolver os problemas existentes e se adaptar ao ambiente em transformação. Elas criam novos conhecimentos e informações, de dentro para fora, a fim de redefinir tanto os problemas quantos as soluções, e nesse processo, recriar seu meio. Nonaka e Takeuchi (1997, p.61, apud CARVALHO, 2012, p. 17).

Carvalho (2012), com base nos autores Nonaka e Takeuchi, afirma que o primeiro passo da criação do conhecimento nas organizações é definir o que é conhecimento tácito e o que é conhecimento explícito, pois, segundo os autores, “o segredo da criação do conhecimento está na mobilização e na conversão do conhecimento tácito” – Nonaka e Takeuchi (1997, p.62, apud CARVALHO, 2012, p. 17).

Segundo Carvalho (2012), o processo que permite a mobilização e a conversão do conhecimento tácito é composto por quatro modos que se alternam em um movimento de espiral.

Quatro modos de conversão do conhecimento

Carvalho (2012) afirma que o conhecimento sempre começa com um indivíduo e que as relações que um ele estabelece com outro promovem a troca de alguma forma de conhecimento tácito, como um know-how ou uma crença.

A primeira conversão do conhecimento ocorre com a socialização, na qual acontece a conversão do conhecimento tácito para o conhecimento tácito. Em seguida, quando um grupo de indivíduos se comover em torno do mesmo conhecimento, que ainda é tácito, a tendência é que as conversas, discussões e reflexões levem a uma externalização do conhecimento, ou seja, é a cristalização do conhecimento tácito de cada um na criação de um novo conceito. Nesse momento, ocorre a conversão do conhecimento tácito para conhecimento explícito.

Segundo Nonaka e Takeuchi (1997,  apud CARVALHO, 2012), a chave para a criação do conhecimento encontra-se nessa conversão, pois é através dela que são criados os conceitos explícitos a partir do conhecimento tácito. Contudo, esse processo não é simples. Para os autores Nonaka e Takeuchi (1997, apud CARVALHO, 2012), a eficácia e a eficiência dessa conversão dependem do cumprimento de três etapas:

  • Metáfora: Nessa etapa, são feitas associações livres entre conceitos, abstratos ou não, na qual se forma uma rede de novos conceitos. Esse processo criativo e cognitivo revela incoerências e contradições devido às associações de diversos conceitos, mas a partir dessa diversidade um novo conceito é esboçado.
  • Analogia: Nessa etapa, as contradições originadas na etapa da metáfora são harmonizadas através de um processo de associação mais estruturado e lógico que se baseia nas semelhanças estruturais e/ou funcionais entre duas coisas. Nesse processo, o novo conceito desprende-se dos anteriores e ganha autonomia, tornando-se explícito.
  • Modelo: Após um novo conceito tornar-se explícito, ele pode ser finalmente modelado, isto é, transformado em modelo lógico, no qual não ocorram contradições, e os conceitos e preposições sejam expressos em linguagem sistemática e lógica coerente.

Dando continuidade à conversão do conhecimento, Carvalho (2012) explica que quando um grupo de indivíduos explicitou o conhecimento por meio de um novo conceito, é de responsabilidade da organização disponibilizar esse conhecimento explícito de modo que todos os outros grupos sejam capazes de fazer combinações desse conhecimento explícito com outros que já existem em seu ambiente interno e externo; dessa forma, eles poderão combinar os conjuntos de conhecimentos explícitos e sistematizar cada conceito em sistema de conhecimento. Nesse momento, ocorre a conversão do conhecimento explícito em conhecimento explícito. De acordo com Carvalho (2012), esse processo acontece com extrema frequência nas organizações, pois ocorre uma troca e combinação de conhecimento por meio de documentos, telefonemas, e-mails, reuniões etc. Nesse contexto, Carvalho (2012) menciona que é importante perceber que as redes de comunicação computadorizadas e as bases de dados são ferramentas que podem facilitar muito todo esse processo.

Segundo Carvalho (2012), a combinação é um processo que viabiliza a disseminação do conhecimento dentro da organização, mas para que isso aconteça com sucesso é necessário que haja a internalização do conhecimento. Isso quer dizer que a organização deve processar o conhecimento explícito e capacitar o indivíduo de modo que ele seja capaz não só de assimilar esse conhecimento, como também incorporá-lo ao seu conhecimento tácito. Essa fase do processo descreve o modo de conversão do conhecimento explícito  em conhecimento tácito.

Carvalho (2012) recomenda que nessa etapa da criação do conhecimento sejam elaborados manuais e documentos para o processamento do conhecimento explícito, ao passo que programas de treinamento e estágios ajudam na capacitação do indivíduo, e o mais importante é o estabelecimento de uma comunicação clara e direta para o processo como o todo.

Transcrevo abaixo um excelente resumo efetuado por Silva, Soffner e Pinhão (2004) a respeito dos modos de conversão do conhecimento:

  • De tácito para tácito: Socialização – processo de criar conhecimento tácito comum a partir da troca de experiência.
  • De tácito para explícito: Externalização – processo de articular conhecimento tácito em conceitos explícitos. Geralmente essa articulação é efetuada através de metáforas, analogias, conceitos, hipóteses ou modelos.
  • De explícito para explícito: Combinação – processo de agregar conhecimentos explícitos, novos ou já existentes, num sistema de conhecimento, como um conjunto de especificações para um novo produto ou serviço.
  • De explícito para tácito: Internalização – processo de incorporar conhecimento explícito em tácito. Está geralmente relacionado com aprender fazendo.

A Figura 1 ilustra os quatros processos de conversão do conhecimento.

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Fonte: NONAKA e TAKEUCHI (1995, apud SILVA E NEVES, 2004, p. 188)

 De acordo com Carvalho (2012), podemos considerar que a Figura 1 e os quatro modos de conversão do conhecimento como sendo o modelo SECI (Socialização, Externalização, Combinação e Internalização) de Nonaka e Takeuchi. Ele ainda enfatiza que é de suma importância deixar claro que a dinâmica desse modelo não é nem em linha reta e nem é em círculo, mas ela acontece em espiral, conforme mostra a Figura 2.

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Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997, apud SCHONS e COSTA, 2008)

Além dos modos de conversão do conhecimento, há os “níveis ontológicos”, os quais Carvalho (2012) entende como sendo as entidades criadoras de conhecimento: (a) o indivíduo, (b) o grupo, (c) a organização e (d) a interorganização. Observando essa sequência, pode-se identificar uma progressão do conhecimento tácito para o explícito, porém o movimento de espiral pressupõe uma volta constante, e portanto tal progressão não ocorre em linha reta.

Referências:

CARVALHO, Fábio. Gestão do Conhecimento. São Paulo: Editora Pearson. 2012.

SILVA, Ricardo Vidigal da; SOFFNER, Renato; PINHÃO, Carlos. A Gestão do Conhecimento. In: SILVA Ricardo Vidigal; NEVES, Ana. Gestão de Empresas na Era do Conhecimento. São Paulo: Editora Serinews, 2004.