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21 abr, 2016

Entendendo Programação Funcional em JavaScript de uma vez

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Dia desses, o Matheus Lima reuniu uma galera na Concrete Solutions, em São Paulo, para realizar um workshop de Programação Funcional. A linguagem usada foi JavaScript, mas o paradigma pode ser usado para qualquer linguagem. Se você não pôde vir, aqui está o vídeo com a transmissão ao vivo:

As soluções para o Workshop já estão no GitHub do Matheus. E abaixo ele resume tudo em um artigo. Preparado? Vamos lá!

Você já percebeu que cada vez mais o termo Programação Funcional vem sendo usado pela comunidade? No meu último artigo “O que TODO desenvolvedor JavaScript precisa saber“, um dos pontos que gerou mais dúvida foi justamente o da Programação Funcional.

Continue lendo esse artigo para aprender:

  1. Quais as vantagens de usar a Programação Funcional
  2. Como usá-la tanto em ES5 quanto em ES6
  3. O que são Pure Functions e Higher-Order Functions
  4. Qual a diferença entre Map, Filter e Reduce
  5. O que é Currying
  6. Como compor funções de maneira eficaz

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Para entender as verdadeiras motivações, temos obrigatoriamente que voltar aos conceitos básicos.

A função abaixo possui inputs e outputs bem definidos:

function square(x) {
    return x * x;
}
 
square(2); // 4

Ela recebe como parâmetro uma variável x e retorna um int que é a multiplicação de x com ele mesmo.

A função abaixo, porém, não possui inputs e outputs tão bem definidos:

function generateDate() {
    var date = new Date();
    generate(date);
}
 
generateDate(); // ???

Ela não recebe nada como parâmetro e retorna o que parece ser uma data processada, mas não temos como ter certeza.

Um ponto que vale ser reforçado: só porque não declaramos explicitamente os inputs e outputs dessa função, não quer dizer que ela não os tenha. Eles apenas estão ocultos. E isso pode gerar um dos piores problemas nas aplicações modernas: os Efeitos Colaterais (side-effects).

Funções como as de cima que possuem inputs e outputs ocultos e podem gerar side-effects são chamadas de Funções Impuras (impure functions). Outra característica importante que elas têm é que se invocarmos uma função impura diversas vezes, o retorno nem sempre será o mesmo. O que dificulta a manutenção e os testes na sua aplicação.

Funções Puras (pure functions), por outro lado, como o primeiro exemplo desse artigo, têm inputs e outputs declarados e não geram side-effects. Além disso, o retorno de uma função pura dado um parâmetro será sempre o mesmo. Obviamente os seus testes serão mais fáceis de desenvolver, assim como a manutenção da sua aplicação.

1-RBr2QH3f_Wm2_tKtsFkQswE por que estamos falando sobre isso? Porque escrever funções puras e remover side-effects é a base da Programação Funcional.

Agora que temos uma ideia melhor da motivação de se usar Programação Funcional, podemos começar a ver os casos reais e aprender na prática como usá-la.

1. Higher-Order Functions

Matematicamente falando, funções que operam sobre outras funções (as recebendo como parâmetro ou as retornando) são chamadas de Higher-Order Functions.

1-QaaVwrtutJRkO8ugJKJ3bw

Essas funções nos permitem fazer abstrações não apenas de valores, mas também de ações, como no exemplo abaixo:

var calculate = function(fn, x, y) {
    return fn(x, y);
};

A função calculate recebe três parâmetros. O primeiro é uma função qualquer que será invocada passando como parâmetro x e y.

Pensando em um cenário em que precisamos tanto de uma soma quanto de uma multiplicação, podemos pensar na solução dessa forma em ES5:


var sum = function(x, y) {
    return x + y;
};

var mult = function(x, y) {
    return x * y;
};

calculate(sum, 2, 5); // 7
calculate(mult, 2, 5); // 10
Ou dessa, bem mais curta, em ES6:
const sum = (x, y) => x + y;
const mult = (x, y) => x * y;

calculate(sum, 2, 5); // 7
calculate(mult, 2, 5); // 10

Higher-order functions estão em todos os lugares no ecossistema do JavaScript. Se você já usou testes unitários com Jasmine ou Mocha, então o trecho abaixo deve ser familiar:

describe("A suite", function() {
    it("contains spec with an expectation", function() {
        expect(true).toBe(true);
    });
});

Percebemos que o segundo parâmetro tanto de describe quanto de it são funções. Por definição, ambas são higher-order functions.

Outro exemplo também é o bom e velho jQuery. Podemos perceber que praticamente todo o código gerado por ele era composto de higher-order functions, como o exemplo abaixo:

$(btn1).click(function() { 
    doSomething();
});

$(btn2).bind("click", function() {
    doSomethingElse();
});

$(document).ajaxStart(function() {
    $(log).text("Triggered ajaxStart handler.");
});

Em aplicações desenvolvidas com AngularJS também não é diferente, observe atentamente a definição de um controller:

var app = angular.module('app');
app.controller('MyController', function() { 
 /* */
});

Agora que já temos conhecimento dos fundamentos (pure functions e higher-order functions), podemos nos aprofundar um pouco mais…

2. Map

A função map invoca um callback e retorna um novo array com o resultado desse callback aplicado em cada item do array inicial.

Imaginando um cenário em que temos um array de inteiros e precisamos do quadrado de cada valor desse array, podemos fazer dessa forma bem simples, usando a função map em ES5:

var numbers = [1, 2, 3];
 
var square = function(x) {
    return x * x;
};
 
var squaredNumbers = numbers.map(square); // [1, 4, 9]

Ou assim em ES6:

const numbers = [1, 2, 3];
const square = x => x * x;
const squaredNumbers = numbers.map(square); // [1, 4, 9]

Nesse outro cenário abaixo, percebemos o reaproveitamento de código que podemos conseguir ao usar o map.

Possuímos dois arrays de objetos diferentes, porém ambos têm o campo name, e precisamos de uma função que retorne um novo array apenas com os names dos objetos:

var students = [
    { name: 'Anna', grade: 6 },
    { name: 'John', grade: 4 },
    { name: 'Maria', grade: 9 }
];
 
var teachers = [
    { name: 'Mark', salary: 2500 },
    { name: 'Todd', salary: 3700 },
    { name: 'Angela', salary: 1900 }
];
 
var byName = function(object) {
    return object.name;
};
 
var byNames = function(list) {
    return list.map(byName);
};
 
byNames(students); // ["Anna", "John", "Maria"]
byNames(teachers); // ["Mark", "Todd", "Angela"]

Em ES6:

const students = [
    { name: 'Anna', grade: 6 },
    { name: 'John', grade: 4 },
    { name: 'Maria', grade: 9 }
];
 
const teachers = [
    { name: 'Mark', salary: 2500 },
    { name: 'Todd', salary: 3700 },
    { name: 'Angela', salary: 1900 }
];
 
const byName = object => object.name;
const byNames = list => list.map(byName);
 
byNames(students); // ["Anna", "John", "Maria"]
byNames(teachers); // ["Mark", "Todd", "Angela"]

Podemos melhorar ainda mais esse trecho de código alterando as funções byName e byNames para que o atributo name não esteja mais tão acoplado. Podemos simplesmente receber como parâmetro qualquer atributo e aplicá-lo à função. Fica como exercício.

3. Filter

A função filter é bem semelhante ao map: ela também recebe um callback como parâmetro e também retorna um novo array. A única diferença é que filter, como o próprio nome diz, retorna um filtro dos elementos do array inicial baseado na função de callback.

Imaginemos que temos um array de inteiros e desejamos retornar apenas aqueles que são maiores do que 4. Podemos resolver assim usando o filter com ES5:

var numbers = [1, 4, 7, 10];
 
var isBiggerThanFour = function(value) {
    return value > 4;
};
 
var numbersBiggerThanFour = numbers.filter(isBiggerThanFour); // [7, 10]

Ou com ES6:

const numbers = [1, 4, 7, 10];
const isBiggerThanFour = value => value > 4;
 
const numbersBiggerThanFour = numbers.filter(isBiggerThanFour); // [7, 10]

Outro exercício é uma melhoria na função isBiggerThanFour. Deveríamos alterá-la para receber como parâmetro qualquer inteiro que desejamos fazer a comparação.

4. Reduce

Uma das funções que mais gera dúvidas é o reduce. Ele recebe como parâmetro um callback e um valor inicial, com o objetivo de reduzir o array a um único valor. O cenário mais comum para explicar o reduce é uma soma:

var numbers = [1, 2, 3];
 
var sum = function(x, y) {
    return x + y;
};
 
var numbersSum = numbers.reduce(sum, 0); // 6

Com ES6 seria assim:

const numbers = [1, 2, 3];
const sum = (x, y) => x + y;
const numbersSum = numbers.reduce(sum, 0); // 6

O primeiro parâmetro é a função que será aplicada; no caso, uma soma. E o segundo parâmetro é o valor inicial. Se por algum motivo precisássemos começar a soma com 10, faríamos dessa forma:

const numbers = [1, 2, 3];
const sum = (x, y) => x + y;
const numbersSum = numbers.reduce(sum, 10); // 16

Mas o reduce não serve apenas para somas, podemos também trabalhar com strings. Imaginando que nós temos um array de meses e precisamos retornar o meses dessa forma: JAN/FEV/MAR … / DEZ.

Podemos fazer assim:

var months = ['JAN', 'FEV', 'MAR', /*...*/ , 'DEZ'];

var monthsShortener = function(previous, current) {
    return previous + '/' + current;
};

var shortenedMonths = months.reduce(monthsShortener, '');
// /JAN/FEV/MAR ... /DEZ

Não era bem o que a gente queria inicialmente. Queríamos isso: JAN/FEV/MAR … / DEZ
Mas obtivemos isso: /JAN/FEV/MAR … / DEZ

Devemos alterar nossa função monthsShortener para adicionar uma condição que faça a prevenção desse erro:

var months = ['JAN', 'FEV', 'MAR', /*...*/ , 'DEZ'];
 
var monthsShortener = function(previous, current) {
    if (previous === '') {
        return current;
    } else {
        return previous + '/' + current;
   }
};
 
var shortenedMonths = months.reduce(monthsShortener, '');
// JAN/FEV/MAR ... /DEZ

Feito! E também na versão em ES6:

const months = ['JAN', 'FEV', 'MAR', /*...*/ , 'DEZ'];
 
const monthsShortener = (previous, current) => {
    if (previous === '') {
        return current;
    } else {
        return previous + '/' + current;
   }
};
 
const shortenedMonths = months.reduce(monthsShortener, '');
// JAN/FEV/MAR ... /DEZ

5. Currying

A técnica de transformar uma função com múltiplos parâmetros em uma sequência de funções que aceitam apenas um parâmetro é chamada de Currying.

Se na teoria ficou confuso, na prática seria transformar isso:

var add = function(x, y) {
   return x + y;
};
 
add(1, 2) // 3
Nisso:
var add = function(x) {
    return function(y) {
        return x + y;
    };
};

A princípio, parece que estamos apenas adicionando mais dificuldade sem nenhum ganho. Porém, temos uma grande vantagem: transformar 0 código em pequenos pedaços mais expressivos e com maior reuso.

Pensando em uma aplicação que possui diversos trechos do código uma soma com 5 e outra com 10, podemos usar a segunda versão da função add dessa forma:

var addFive = add(5);
var addTen = add(10);
 
addFive(3); // 8
addFive(1); // 6
 
addTen(1); // 1
addTen(10); //20

Mais um exemplo seria um Hello World simples com uma curried function. Podemos implementá-lo desse jeito com ES5:

var greeting = function(greet) {
    return function(name) {
        return greet + ' ' + name;
    };
};

var hello = greeting('Hello');
hello('World'); // Hello World
hello('Matheus'); // Hello Matheus

Ou com ES6:

const greeting = greet => name => greet + ' ' + name;
const hello = greeting('Hello');
 
hello('World'); // Hello World
hello('Matheus'); // Hello Matheus

6. Compose

Podemos compor funções pequenas para gerar outras mais complexas de forma bem fácil em JavaScript. A vantagem é o poder de usar essas funções mais complexas, de forma simples, em toda aplicação. Ou seja, aumentamos o reuso.

Por exemplo, em uma aplicação em que necessitamos de uma função para transformar uma string passada pelo usuário em um grito: mudar para caracteres maiúsculos e adicionar uma exclamação no final. Podemos fazer assim em ES5:

var compose = function(f, g) {
    return function(x) {
        return f(g(x));
    };
};
 
var toUpperCase = function(x) {
    return x.toUpperCase();
};
 
var exclaim = function(x) {
    return x + '!';
};
 
var angry = compose(toUpperCase, exclaim);
 
angry('ahhh'); // AHHH!

Ou em ES6:

const compose = (f, g) => x => f(g(x));
 
const toUpperCase = x => x.toUpperCase();
const exclaim = x => x + '!';
 
const angry = compose(toUpperCase, exclaim);
 
angry('ahhh'); // AHHH!

Ficou alguma dúvida ou tem algum comentário? Fique à vontade nos comentários.