Design & UX

18 mai, 2015

Os papéis em um time de UX

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Como vimos no modelo de Jesse James Garrett para os elementos da experiência do usuário, muitas são as disciplinas envolvidas no processo. Nesse contexto e em termos de mercado, é importante mapear como as empresas com grande foco em UX estão montando e recrutando os seus times.

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A forma mais eficiente de se desenvolver um projeto centrado no usuário vai muito além da discussão sobre o perfil profissional mais adequado. Afinal, é possível considerar diferentes cenários e abordagens, desde aqueles nos quais variados e multidisciplinares profissionais atuam de forma integrada até aquele no qual um único profissional assume a responsabilidade de matar essa bola no peito (neste último caso, vale a leitura do The UX team of one. Mais à frente vou retornar a isso.).

O objetivo deste artigo não é discutir qual a melhor abordagem, até porque há vários fatores que influenciam e determinam o melhor caminho a seguir, mas sim apresentar os papéis presentes de acordo com práticas reais de mercado. Vamos a eles:

Business/Strategic Designer (Negócio/Estratégia)

Este papel é desempenhado pelo cara que conhece a fundo o processo de desenvolvimento de novos negócios e está familiarizado com business goals e o léxico da área. Sabe tudo sobre proposta de valor, segmento de mercado, elaboração e validação (ou não) de hipóteses e conhece bem o Business Model Canvas. Segue nomes como Steve Blank e Eric Ries e tem na sua biblioteca The Lean Startup, Change by Design, Value Proposition Design e The Startup Owner’s Manual.

User Researcher (Entendimento/Fatores Humanos)

Um projeto de UX tem como um dos seus princípios mais básicos o conceito de Design Centrado no Usuário (HCD, na sigla em inglês), que é o entendimento das necessidades, desejos, anseios, comportamentos e expectativas do segmento de mercado alvo. Essa descoberta só é alcançada por meio de entrevistas, etnografia, testes com grupos de foco, heurísticas, elaboração de personas, questionários, análises de tarefa etc. Uma boa referência em nível básico pode ser vista no site usability.gov. Para quem quiser fazer uso de ferramentas específicas, elas estão disponíveis em um documento compartilhado pela IDEO.

Estrategista de Conteúdo (Informação)

As necessidades humanas diante do cenário digital podem ser divididas basicamente em duas frentes: realização de tarefas (behavior) e consumo de conteúdo (information). Para desenvolver uma boa estratégia de conteúdo, o profissional deve compreender a alma do negócio e garantir que o conteúdo online em sua forma, linguagem e orientação servem perfeitamente aos propósitos do business. Periodicidade, consistência, relacionamento e alinhamento a outros setores do negócio são atribuições do estrategista. Além disso, o targeting comportamental pode auxiliar na conversão de leads e influenciar diretamente no ROI. Normalmente são profissionais da área de negócios e letras que exercem esse papel. Uma boa referência para a área é o Content strategy for the web.

Arquiteto da Informação (Organização)

UX2É o cara que entende tudo de organização. Sabe fazer inventário de conteúdo, pensa de forma holística e organizacional, tem na ponta da língua os melhores termos a serem aplicados no produto ou sistema e conhece ferramentas como Card Sorting, Wireframes e SiteMaps. É responsável por elaborar os sistemas de nomenclatura, navegação, organização e busca (metatags) de um projeto. Conhece bem o livro do urso polar, que é a bíblia de quem se envereda pela arquitetura da informação no meio digital.

Designer de Interação (Comportamento)

A interação entre um usuário e um produto ou sistema é definida pela comunicação entre as duas pontas. O designer de interação tem a responsabilidade de garantir que essa comunicação se dê de forma clara e, para isso, faz uso de animações, transições e feedbacks do sistema para garantir que o usuário tenha plena noção do que está ocorrendo. Assim como o arquiteto da informação, ele conhece bem as tarefas a serem executadas e projeta nelas os outputs específicos para cada comportamento projetado.

Visual/Graphic Designer (Estética)

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Gestalt, Bauhaus, tipografia, psicodinâmica das cores, saturação e contraste são alguns dos termos recorrentes no vocabulário desse profissional. No livro “Design Emocional”, Donald Norman apresenta um teste realizado no Japão que comprova a influência direta da aquidade estética na usabilidade de um determinado sistema (o experimento foi replicado em Israel e os resultados foram ainda mais significativos), e o designer gráfico tem a responsabilidade de escolher os elementos que melhor se relacionam com o perfil estético e de uso do público alvo. Além disso, deve garantir que a interface seja harmônica, que as hierarquizações estejam claras e que a informação ou tarefa seja apresentada de forma objetiva. Tipos de letra, paleta de cores, imagens e ilustrações devem ser escolhidos e usados de forma racional e embasada. Por fim, é preciso que esse papel esteja atento aos guidelines de marca – uma vez que a estratégia de marca direciona qualquer ponto de comunicação e contato com o usuário – e aos de plataforma, para adequações aos dispositivos alvo (Material Design do Google, por exemplo).

Analista de Usabilidade e Métricas (Medição)

É um dos papéis mais importantes dentro de um cenário de discovery contínuo, no qual os ciclos de iteração e aprendizado têm de ser os mais curtos possíveis (pense em sistemas ágeis de desenvolvimento). Esse cara usa heurísticas e fatores de usabilidade para cruzar com dados de monitoramento, como os dados analíticos fornecidos pelo Google Analytics, e avaliar os motivos pelos quais um determinado comportamento foge (ou não) do planejado. A medição da experiência do usuário pode requerer o uso de aplicações específicas e técnicas apropriadas que devem ser consideradas caso a caso, dependendo do tipo de informação que se pretende obter. Os livros do Jakob Nielsen são uma boa base no que remete à usabilidade, além do famoso Don’t make me think. Para medições de UX, temos o Quantifying the user experience e o Measuring the user experience.

Como se pode ver, o universo multidisciplinar da experiência do usuário é bastante abrangente, o que torna praticamente impossível o profundo conhecimento em cada uma das zonas decifradas. Talvez até por isso, para ser bem polêmico, seja difícil crer na existência de um profissional de UX que seja absolutamente completo.

UX4Portanto, a meu ver existem duas formas de abordar o profissional nessa área: podemos ter o especialista, ou seja, aquele que conhece uma determinada disciplina a fundo e é uma referência quase que inquestionável dentro daquele universo, ou podemos ter o que é atualmente chamado de profissional T, ou seja, aquele que apesar de ter maior profundidade em uma ou duas disciplinas, tem conhecimento das outras e, dentro do cenário mercadológico atual, talvez seja o típico profissional chamado de UX designer.

A discussão dá bastante pano pra manga e eu voltarei com mais informações em um novo artigo. Espero ter ajudado na compreensão da dimensão que a metadisciplina de UX tem em relação aos diversos níveis de especificação que ela admite.

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