Design & UX

25 jun, 2013

Interfaces conceituais, interações reais

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No ano de 2012 pesquisei muitos projetos ligados a interfaces interativas e conceituais, para produzir novas discussões sobre o futuro da tecnologia em minhas palestras. O interessante foi que essas pesquisas me levaram não só às interfaces conceituais, mas a algumas propostas de interação que não imaginávamos nem mesmo no plano das ideias conceituais. Porém, elas já são bem reais nos dias de hoje e podem significar grandes soluções de design não só para o mercado, mas para as pessoas de fato. Por isso quero trazer aqui alguns dos meus achados sobre interfaces conceituais e design para pessoas e coisas reais.

Interfaces conceituais

Uma das coisas para a qual comecei a dar mais atenção no ano passado foram as propostas vistas em interfaces conceituais, que tentam indagar como serão as interações das pessoas com as coisas em um futuro não tão distante. Esse é o caso dos vídeos A day made of glass I e II produzidos pela Corning, que chamaram minha atenção não por eu acreditar que o futuro será baseado em interfaces touch screen (afinal, já temos interações baseadas em movimento e até em ondas cerebrais), mas pelo foco direcionado à ubiquidade e à internet das coisas.

Outro conceito bem interessante é o de transformar coisas triviais do nosso cotidiano em interfaces que criem novas experiências com o ambiente, sem alterar as suas características físicas. Um exemplo disso pode ser visto na janela-conceito desenvolvida pelo departamento de design emocional da Toyota (Windows to the World), que promove um novo tipo de interação do passageiro com o mundo no exterior do carro.

E já que estamos discutindo como serão as coisas no futuro, algo muito especulado hoje é o futuro dos livros e dos materiais impressos. Atualmente, ainda que de uma forma limitada, as tablets já se tornaram os livros da nova geração. Digo limitada, pois as possibilidades de interação ainda são bastante restritas e pouco exploradas na maioria dos livros digitais, e muitas vezes não passam de uma evolução direta dos impressos. Mas claro, existem pessoas propondo algumas revoluções na forma de interagir com os livros, e um desses indivíduos é Mike Matias com o seu Push Pop Press, adquirido pelo Facebook há um tempo. Além de Mike, a IDEO também andou apontando boas direções nas possibilidades com os livros digitais, propondo três conceitos diferentes, nomeados de Nelson, Coupland e Alice. Também temos propostas já concretas e inovadoras que não exploram tanto as interações sociais ou multimídias, mas sim uma forma mais intensa de leitura e estudo, como podemos ver no projeto LiquidText, que utiliza interfaces multitouch para ajudar as pessoas a fazerem uma leitura mais profunda e crítica de textos.

Mas existem algumas interfaces que apesar de parecerem conceitos futuristas, já são bem reais. É o caso da interface touchscreen desenvolvida pela Tactus Technology, que possui botões físicos que podem emergir para fora do que parece um vidro plano, para em seguida desaparecem quando não forem mais necessários. Entre outras coisas, isso poderia ajudar bastante a diminuir a curva de aprendizado das interfaces baseadas em toque para pessoas mais velhas. Interessante, não?

Design para pessoas e coisas reais

Os profissionais que trabalham com experiência do usuário conhecem uma série de técnicas e metodologias para estimular, facilitar e resolver problemas na interação das pessoas com as coisas. Mas e quando o problema de um indivíduo está justamente na dificuldade em interagir com outras pessoas? Essa é a dificuldade das pessoas portadoras de Autismo, um público com características que a maioria dos designers de interação (e a sociedade em geral) desconhecem.

O autista mais do que qualquer outra pessoa necessita de ajuda para interagir com o mundo, e foi pensando nisso que a designer Lingjing Yin criou o Touch-Play, projeto que busca utilizar a tecnologia para permitir que crianças com Síndrome de Espectro Autista tenham condições de jogar, explorar e expressar suas emoções e sentimentos. O projeto teve a colaboração do designer de interação Mark Mckeague na sua concepção, e foi vencedor do Technology Strategy Board Award for Independent Living (2011).

Ao invés de pensar em auxiliar as interações, vamos pensar na possibilidade de inventarmos as nossas próprias interações e interfaces. Como seria se pudéssemos transformar qualquer coisa que encontrarmos pela frente em uma interface? Essa é exatamente a proposta do Makey Makey, uma placa baseada em Arduino e acompanhada de clipes jacaré e cabo USB, que nos permite criar um touchpad utilizando qualquer tipo de material que seja capaz de conduzir um mínimo de energia elétrica, como bananas ou massinha, e com isso criar, por exemplo, um controle de videogame.

Bom, talvez você não esteja interessado em criar interfaces, mas sim em reconfigurar interfaces existentes, ou definir uma forma mais natural de realizar as interações entre dispositivos, ou até mesmo conectar aleatoriamente diferentes dispositivos formando uma só interface. Pois já existem muitas ideias nesse sentido, no papel ou fora dele.

No plano conceitual, o designer e engenheiro Ishac Bertran criou um pequeno vídeo imaginando como seria uma transferência de arquivos entre um iPhone e um Macbook, através de uma interação mais manipulável e intuitiva fisicamente, com um simples “arrastar e soltar” de um gadget para o outro.

Saindo do conceitual e entrando no plano das coisas que já saíram do papel encontramos o Pinch, uma interface que conecta as telas de vários smartphones ou tablets simultaneamente. Basicamente, um usuário pode vincular duas telas diferentes ao colocar os dedos em forma de pinça sobre elas. Essas telas podem ser alinhadas livremente, na vertical e na horizontal, e as imagens podem ser compensadas mesmo com as telas desalinhadas. Esta tecnologia está atualmente em desenvolvimento por um grupo de pesquisa da Universidade de Tecnologia de Tóquio, e vem sendo apresentada em algumas conferências para incentivar os desenvolvedores a criarem aplicativos para esta nova interface.

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Este artigo foi publicado originalmente na Revista iMastersAcesse e leia todo o conteúdo.