DevSecOps

8 abr, 2013

Richard Stallman versus Ubuntu: e agora, qual lado devo escolher?

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Não é novidade pra ninguém a célebre “briga” entre Richard Stallman, fundador do movimento do Software Livre e do Projeto GNU, e o Ubuntu. Pra exemplificar podemos citar o recente flame sobre as exibições de conteúdo publicitário da Amazon no Dash do Unity, relacionados ao “envio de dados não autorizados” dos usuários, envolvendo Stallman e a Canonical.

Mas, apesar do título, não é sobre isso que vamos falar aqui hoje…

Às portas do FLISOL (Festival Latino-americano de Instalação de Software Livre), Stallman decidiu proferir um ataque surpresa ao Ubuntu, enviando um e-mail à organização do FLISOL “pedindo para que não promovessem o Ubuntu no evento”, sob a premissa de que “seria um erro escolher o Ubuntu como Sistema Operacional Livre”:

A questão que quero levantar é sobre o que deve acontecer nos FLISOLs. Dar cópias do Ubuntu ou não? Promover o Ubuntu ou não? Peço aos organizadores do evento que não distribuam ou promovam o Ubuntu. (…)

Não há um conflito entre a liberdade de um usuário e meu pedido. Se alguém decidir instalar o Ubuntu, eu consideraria isso um erro, mas é sua escolha para fazê-lo. O que eu peço é que vocês não participem, ajudem ou sugiram que os usuários façam isso. Eu não estou pedindo que vocês proíbam os usuários de fazê-lo.

Por uma questão de princípio, eu não acredito que ninguém tem o direito, moral, para distribuir o software proprietário, ou seja, software que priva os usuários de liberdade. Quando o usuário controla o seu próprio software, ele pode instalar o que ele quer e ninguém pode impedi-lo. Mas a questão hoje não é sobre ele, o que ele faz, mas sim o que você faz com ele. (leia mais aqui)

Segundo descrito pela própria FSF (Free Software Foundation), um software livre, software de código aberto ou software aberto é qualquer programa de computador cujo código-fonte deve ser disponibilizado para permitir o uso, a cópia, o estudo e a redistribuição, e logo todo software livre deve ter uma licença de software livre anexada ao código-fonte, afim de informar quais os direitos que o autor estará transferindo e quais as condições que serão aplicadas ao software.

Dito isto, será que o Sistema Operacional Ubuntu atende estes pré-requisitos? Quais as políticas de licença aplicadas pela Canonical no Ubuntu?

Se lermos o conteúdo desta página, veremos claramente a posição da Canonical (responsável pelo desenvolvimento do Ubuntu em conjunto com a comunidade de desenvolvedores) com relação as licenças de software aplicadas ao Ubuntu. Segue abaixo uma parte que gostaria de ressaltar:

Todos os aplicativos instalados com o Ubuntu por padrão são softwares livres. Você pode instalar alguns drivers de hardware que estão disponíveis apenas em formato binário, porém os pacotes estão claramente marcados como componentes restritos.

Ou seja, o “Sistema Operacional Ubuntu” é um software livre e está licenciado como tal. Em contrapartida o usuário pode optar por instalar pacotes ou aplicações proprietárias em seu sistema, assim como é em qualquer distribuição Linux.

Um Sistema Operacional é na verdade um conjunto de softwares. Logo, se o Ubuntu é penalizado por disponibilizar aos seus usuários condições de instalar softwares que não estão sob licenças de código-aberto, outras inúmeras distribuições também o deveriam ser, tendo em vista que o Google Chrome, o navegador do Google, está presente na maioria dos repositórios das principais distribuições (o navegador aberto e livre é o Chromium, e não o Chrome).

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Ok, e a questão dos conteúdos da Amazon?

De fato, sob o meu ponto de vista, a Canonical deveria sim mudar a política de implementação dos conteúdos publicitários, uma vez que os mesmos deveriam vir desativados por padrão e ativados quando o usuário quisesse. Porém, apesar de enxergar isso, não acho justo as acusações de “spyware” que Stallman iniciou, nem tão pouco o mesmo afirmar “ser um erro instalar o Ubuntu como um software livre”.

Se voltarmos no tempo iremos lembrar (principalmente se você é usuário Linux a pelo menos uns 8 anos) que todo ano se ouvia: “Esse será o ano do Linux para Desktops” ou ainda “Esse ano o Linux terá condições de competir com o Windows”, e etc. Porém isso realmente começou a acontecer a pouco mais de 2 anos atrás. E por que isso só aconteceu agora? Quem foi a grande responsável por “levantar a moral do Linux” no mercado? A Canonical com o Ubuntu!

Como exemplo podemos citar a parceria da Canonical com a Dell em fornecer notebooks pré-instalados com Ubuntu, o Ubuntu para Android e a Ubuntu TV na WMC em 2012, o Steam para Linux (que no início era apenas “Steam para Ubuntu”, pois as outras distros atacaram a decisão da Canonical em autorizar games pagos no Ubuntu. Até que a Valve, e alguns membros das comunidades, decidiram portar o Steam para outras distros… Hoje todos usam o Steam e ninguém mais reclama de nada), o Ubuntu Touch e etc.

As coisas começaram a mudar de figura depois que a Canonical decidiu promover o Ubuntu como um sistema operacional a altura do que o mercado quer: um sistema fácil, integrável e funcional. E apesar da jogada de marcado por trás do Ubuntu, o mesmo não deixou de ser livre e aberto.

Mas por que Stallman parece estar decido a atacar o Ubuntu? Será que a briga já se tornou pessoal?

Sinceramente, eu sinto cheiro de hipocrisia no ar. Quem nunca viu a famosa imagem de Stallman usando seu notebook, o qual continha um adesivo “MP3 is not a crime”?

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Se você não sabe, o MP3 é um formato NÃO licenciado como software livre (saiba mais aqui).

E ai Stallman, explica essa agora!