Desenvolvimento

8 jan, 2015

Passado, presente e futuro do desenvolvimento web

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Muito mudou nesses últimos 20 anos, mas poucas coisas sofreram tantas mudanças quanto o desenvolvimento para web. Passamos por diversas fases, muitas vezes tão distintas, que chega a ser inimaginável que se trata da mesma história.

O passado

O passado da web, para quem vivenciou essa época, parece ter ocorrido ontem. Os sites piscavam, coisas pulavam na tela ou da tela, verificávamos com os usuários se seus navegadores podiam exibir imagens – marquee, blink, image map – as interfaces web pareciam mais uma festa bem animada do que um local onde se encontravam informações e links para mais informações.

Passada essa fase, entramos numa outra, que, apesar de ter tido um papel importante para o crescimento da própria web, foi extremamente complicada para o desenvolvimento. Quem não viu certamente já ouviu falar da guerra dos browsers – Microsoft Internet Explorer versus Netscape Navigator, JavaScript versus JScript.

Essa competição trouxe avanços importantes, mas também muitos problemas. Entre os mais notórios, a falta de compatibilidade das tecnologias utilizadas. Não verificávamos mais se o navegador do usuário contava com um determinado recurso. Passamos a desenvolver para navegadores específicos. Verificávamos resolução de tela, se o usuário utilizava Internet Explorer e a versão do navegador. Chegamos ao ponto de restringir o acesso ao conteúdo, baseado na ferramenta que o usuário utilizava.

Foi uma fase sombria. Era preciso uma intervenção urgente. Era necessário que a competição trouxesse avanços, em vez de restrições. Era preciso que uma organização promovesse uma padronização.

O presente

Talvez, o maior avanço que tivemos no desenvolvimento web foi a fundação, em outubro de 1994, da W3C. Se temos hoje SVG, PNG, HTML, XHTML, XML, CSS, DOM, RDF, SOAP, e vários outros, e esses formatos funcionam igualmente em praticamente qualquer dispositivo, devemos isso à W3C. O principal objetivo da entidade, que é promover a padronização e a interoperabilidade, tem sido alcançado. O desenvolvimento tem ficado mais simples, justamente por conta dessa padronização. Se temos, hoje, a possibilidade de um desenvolvimento agnóstico, precisamos agradecer ao W3C pelo trabalho de padronização feito ao logo desses 20 anos.

Fico imaginando como seria o desenvolvimento hoje, se ainda desenvolvêssemos como antes. Se verificávamos se o usuário tinha o plugin do Flash instalado, ou se ele tinha uma resolução de tela de 1024×768 pixels, como faríamos isso hoje? Não temos mais a menor condição de fazer esse tipo de verificação. Hoje, o acesso às aplicações parte das mais variadas fontes e dispositivos. Se fôssemos verificar cada um, nossas aplicações seriam praticamente uma gigantesca estrutura condicional, com paths e branches diferentes para cada tipo de origem de acesso. Não, não precisamos mais disso.

O futuro

Apesar de a web semântica já ser um assunto atual e já estarmos desenvolvendo aplicações com essa preocupação, acredito que muita coisa ainda acontecerá. Processadores como o TrueNorth, recentemente apresentado pela IBM, serão uma realidade em pouco tempo. Máquinas passarão a compreender, de fato, o conteúdo que produzimos. E se máquinas conseguem compreender o significado das coisas, essas máquinas poderão, por exemplo, aumentar a acessibilidade do conteúdo.

Uma das maiores dificuldades que vejo hoje é oferecer o conteúdo para um usuário que tem uma necessidade especial. Já temos padronizações e especificações nesse sentido, mas como produzir um conteúdo para alguém que possui uma experiência diferente? Como podemos entregar a melhor experiência para quem não vê, não ouve, ou tem qualquer outro tipo de necessidade especial?

Acredito que quando damos significado semântico para o conteúdo e capacidade de compreensão para as máquinas, damos um passo em direção a um conteúdo mais acessível. Semântica já é uma realidade, mas acredito que a acessibilidade ao conteúdo, independentemente da origem do acesso, das dificuldades que o usuário tenha, será a realidade num futuro próximo.

Conclusão

Analisando o passado e o presente do desenvolvimento web, os avanços tecnológicos e as diversas possibilidades de acesso ao conteúdo que temos hoje, fica um tanto complicado prever o futuro. Muita coisa mudou em 20 anos e certamente mudará muito mais rapidamente nos próximos 20.

O que é fácil notar, contudo, é que atualmente o desenvolvimento web é muito mais fácil. E é muito mais fácil, pois hoje temos uma probabilidade muito maior de os meios de acesso ao conteúdo ser feito por uma tecnologia padronizada. Se temos padronização e uma maior facilidade no desenvolvimento, temos também experiências de acesso muito melhores do que jamais tivemos.

Ainda há muito para se fazer no sentido de tornar o conteúdo acessível. Acredito que teremos muitos esforços em acessibilidade no futuro. Independentemente de qual caminho seguiremos, acredito que será um futuro com padronização. Por isso, como desenvolvedor web desde muito tempo, tenho muito a agradecer à W3C pelo papel que tem desempenhado na padronização das tecnologias web.

Pelo bom trabalho e pelo aniversário de 20 anos, meus parabéns, W3C!

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Artigo publicado originalmente na Revista iMasters: http://issuu.com/imasters/docs/revista_imasters__12