Desenvolvimento

22 mar, 2016

Mulheres na TI: memória e perspectiva

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Em todo o mundo, a área de TI é estatisticamente dominada por homens (segundo o PNAD/2009, de todos os trabalhadores de TI no Brasil, apenas 19% são mulheres), mas nos EUA, esse cenário não foi sempre assim. Por isto, antes de olhar para o futuro, mostrando as iniciativas para motivar e difundir a carreira tecnológica junto às mulheres, vamos falar um pouquinho do passado, celebrando as mulheres incríveis que mudaram os rumos da TI há muitos anos atrás, quando a área ainda estava se formando. Mais do que isso, vamos entender alguns fatores que contribuíram para manter as mulheres longe da TI nas últimas décadas.

Os esforços dessas mulheres contribuíram de forma decisiva para a evolução tecnológica. Elas foram pioneiras e abriram caminhos para uma série de inovações, sendo que desfrutamos dos desdobramentos de suas descobertas ainda hoje. Conheça algumas delas:

Ada Lovelace

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Desde muito cedo, Ada foi incentivada por sua mãe cientista a se tornar uma campeã em matemática. Mais tarde, ela trabalhou com Charles Babbage na Universidade de Londres e os dois criaram um “motor analítico”, ou seja, desenvolveram uma forma de programar máquinas com algoritmos matemáticos, sendo esse, essencialmente, o primeiro programa de computador da história.

Hedy Lamarr

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Hedy Lamarr inventou um sistema de comunicações secretas durante a Segunda Guerra Mundial. Tratava-se de torpedos rádio-controlados, onde era empregada uma tecnologia de “salto de frequência”. Seu trabalho lançou as bases para toda tecnologia wireless tal como a conhecemos hoje, desde o Wi-Fi até o GPS. Por acaso, Hedy também foi uma estrela de cinema mundialmente famosa.

Grace Murray Hopper

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Grace foi almirante da Marinha nos EUA e também a cientista da computação que inventou o COBOL – o primeiro programa de computador com interface amigável. Ela também utilizou pela primeira vez a expressão “bug” para descrever uma falha em um sistema, depois de encontrar uma traça causando problemas em seu computador.

Shirley Jackson

A física teórica Shirley Jackson foi a primeira mulher negra a receber um título de doutorado do MIT em 1973. Ela realizou uma pesquisa científica puramente teórica que lançou as bases para invenções como o fax portátil, telefones de tom, células solares, cabos de fibra óptica e toda tecnologia por trás dos identificadores de chamadas.

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Entendendo a mudança

Levando em consideração dados americanos, desde a invenção do computador, o número de mulheres que estudaram e se envolveram na área da ciência da computação cresceu mais rápido do que o número de homens ao longo de décadas. Mas em 1984 algo mudou: neste ano a porcentagem de mulheres na ciência da computação caiu, despencando desde então. Este comportamento contrasta com o que aconteceu em outras áreas técnicas e profissionais, que continuaram com o número de mulheres em crescimento.

Em seu podcast when women stopped coding, a NPR tentou responder à seguinte pergunta: o que afastou as mulheres da área da computação a partir de meados dos anos 80? Através de entrevistas e consultas a arquivos da época, eles buscaram essa resposta e apresentaram uma ideia que, ainda que não seja definitiva, nos dá uma certa compreensão inicial do que pode ter acontecido.

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Gráfico que mostra a porcentagem anual de mulheres que se formaram em diferentes áreas de atuação

Indo direto ao ponto, eles notaram uma correlação nesse estudo: foi também nos anos 80 que os computadores pessoais começaram a se popularizar nos lares americanos. Juntamente com essa adesão aos PC’s, a participação das mulheres na ciência da computação começou a cair.

Na década de 1990, a pesquisadora Jane Margolis entrevistou centenas de pais de estudantes de ciência da computação na Carnegie Mellon University, que possuía na época um dos melhores cursos do país. Ela descobriu que as famílias eram muito mais propensas a comprar computadores para os meninos do que para as meninas, mesmo quando as meninas estavam realmente interessadas nas máquinas.

Os computadores pessoais eram vendidos inicialmente como brinquedos. Afinal, era possível brincar com jogos de tiro e outros jogos simples, talvez fazer algum processamento de texto, mas não muito mais que isso. Sendo assim, eles foram promovidos através de campanhas publicitárias que eram bastante direcionadas a homens e meninos.

A ideia dos computadores como uma ferramenta masculina também influenciou a produção de filmes como Weird Science (Mulher nota 1000), A Vingança dos Nerds e Jogos de Guerra. Todos filmes produzidos nos anos 80, com enredos muito parecidos: um menino nerd usa a tecnologia para triunfar sobre as adversidades e conquistar a garota bonita.

Cena do filme WarGames de 1983
Cena do filme WarGames, de 1983

Para entender melhor os efeitos dessa narrativa, a NPR entrevistou Patricia Ordóñez, que iniciou seus estudos em computação em 1985. Durante a entrevista, Patricia lembrou de uma aula introdutória com mini-computadores, onde fez uma pergunta básica, que, para sua surpresa, foi respondida pelo professor com a frase: “você já deveria saber isso”. Enquanto isso, os seus colegas (homens) sabiam de tudo o que se passava na aula. Para ela, era como se eles fossem gênios da computação e o sentimento era de que seria impossível acompanhar o ritmo. Logo ela acabou desistindo do programa. Para entender melhor, a NPR também entrevistou um colega de Patricia na época. Segundo ele, a aula era realmente fácil, mas não porque ele era um gênio, mas sim porque havia um PC em sua casa e ele já havia programado alguns códigos simples antes de iniciar seus estudos.

Propaganda de computador da década de 80
Propaganda de computador da década de 80

Seja qual for a razão para tal direcionamento, provavelmente isso afetou de modo decisivo o futuro da tecnologia. Hoje, existem muitas iniciativas globais e regionais tentando acabar com a disparidade de gênero nas profissões de TI. São organizações sem fins lucrativos, que têm o objetivo de capacitar e apoiar mulheres a utilizar a tecnologia como arma para expressar ideias e propor soluções.

Conheça algumas dessas iniciativas:

Wo Makers Code

O WoMakersCode é um projeto livre, sem fins lucrativos, criado e mantido por voluntários, que almeja o empoderamento feminino, em especial na área de tecnologia. Empoderar é incentivar a participação, o aprendizado colaborativo e acima de tudo, dar voz às mulheres.

Mulheres na Computação

Um espaço para incentivar, discutir e difundir assuntos relacionados à tecnologia e ao empreendedorismo. Com um pequeno detalhe: sob a ótica de jovens mulheres!

Girls Who Code

O programa visa inspirar, educar e apoiar meninas a desenvolver habilidades técnicas e aproveitar oportunidades na área de TI. É a comunidade para desenvolvedoras mais conhecida no mundo, ajudando centenas de milhares de mulheres a entrar na ciência da computação. A iniciativa tem uma meta definida: oferecer educação vinculada à computação para mais de 1 milhão de mulheres jovens até o final do ano de 2020.

Django Girls

Django Girls é um programa que se concentra na criação de workshops e eventos, permitindo a programadoras se encontrarem em cidades ao redor do mundo para falar sobre Django, Python e codificação em geral. O objetivo é proporcionar recursos, apoio e dicas para que os primeiros passos de quem deseja se tornar uma programadora sejam facilitados.

Rails Girls

É uma comunidade semelhante ao Django Girls, que se esforça para fornecer eventos auto-organizados por diversas partes do planeta. A ideia é ajudar mulheres jovens e adultas a entrarem no jogo da programação, com o conhecimento, apoio e aconselhamento de veteranas na área.

Girl Geek Dinners Brazil

A ideia do Girl Geek Dinners Brazil é levar um evento voltado para mulheres que têm interesse ou trabalham com tecnologia. O objetivo é se reunir para compartilhar experiências (técnicas ou não) relacionadas à área de TI.

Meninas Digitais

O programa Meninas Digitais pertence à Sociedade Brasileira da Computação (SBC), sendo direcionado às alunas que estejam no ensino médio/tecnológico ou nos anos finais do ensino fundamental. O objetivo é que elas conheçam melhor a área de TI, tendo inclusive contato com  profissionais que já atuam na área.

Essas e outras iniciativas não mencionadas neste artigo são muito importantes para o futuro da tecnologia. Elas apoiam a diversidade e a representatividade de todos no desenvolvimento de soluções inovadoras para o mundo.

De acordo com um estudo da McKinsey, que foi publicado ano passado, as empresas com diversidade de gênero têm até 15% maior probabilidade de ter um retorno financeiro acima da média nacional nas suas respectivas indústrias. Além disso, para as empresas que abraçam também a diversidade étnica essa probabilidade sobe para 35%. Colocando de modo simplificado: homens e mulheres possuem diferentes pontos de vista, ideias e perspectivas de mercado. Essas diferenças acabam sendo complementares, permitindo, naturalmente, uma solução de problemas mais acertada.