Desenvolvimento

11 abr, 2013

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Nos últimos dois anos, tenho passado por uma lavagem cerebral intensa para aprender programação. Sei que um publicitário não tinha nada que se meter com isso, mas acredito que saber uma linguagem e lógica de programação é ainda mais importante do que aprender uma segunda língua.

Minha ideia era simples: aprender a programar melhor para sair da ignorância. Tropeços à parte, tenho conseguido andar até que bem.

coluna-gravena

Estava muito feliz em saber um Java basicão, quando recebi a visita de um cara, no mínimo inspirador, que me fez mudar um pouco a visão do meu objetivo.

Explico: normalmente fico olhando pessoas que fazem design com códigos, ou traquitanas incríveis. Acompanho o trabalho do Mr. Doob, ou do pessoal do Google Creative Labs e fico invejando como eles são capazes de realizar coisas incríveis e eu não.

É claro que coloco toda a culpa nos códigos, afinal eles sabem programar e eu não. Quando eu deixar de ser ignorante, eles vão ver só!

Mas dessa vez foi diferente. Recebi a visita do Mick Ebeling, um cara/empresa que veio mostrar o trabalho da sua produtora, e também falar sobre o Eye Writer. O trabalho da produtora é incrível! Para quem gosta de motion graphics, basta citar que fizeram a abertura do filme do “007-Quantum of Solace” e a peça mais copiada da história, depois de Star Wars, a abertura do filme “Mais Estranho do que a Ficção“.

Tudo muito incrível e bem feito, até que chegou a hora de mostrar o Eye Writer. Quando ele abriu o keynote imediatamente mudou de expressão, estampava orgulho nos olhos e na fala. Não dava pra ficar indiferente enquanto ele mostrava um óculos meio tosco e barato, que lê o movimento da retina e transforma em letras, uma traquitana feita para ajudar um amigo grafiteiro que ficou tetraplégico.

Tudo muito incrível, a história, a geringonça, tudo. Tão incrível que virou uma palestra no TEDx.

Fiquei tão intrigado com o entusiasmo do cara que perguntei a quanto tempo ele programava (afinal quando eu aprender a programar gostaria de fazer algo assim, arduino, geringonças, etc). Fiquei bem surpreso quando ele respondeu: “não sei fazer uma linha de código”.

Mas como? Ele fala com tanta propriedade sobre o projeto aberto do Eye Writer, sobre como está recebendo contribuições e melhorando o projeto inicial, como montou uma comunidade de desenvolveres para melhorar as funcionalidades.

Como?! Será que aquele orgulho no olhar era só um artifício de um vendedor? Acostumado com as farsas da propaganda e com pessoas que levam créditos por outras, pensei: “pronto tá aí mais um cara que não fez nada e está rodando o mundo fazendo palestras e levando o crédito pelo trabalho dos outros”.

Perguntei, então, como ele desenvolveu a ideia. Digo, a partir da ideia, como ele fez para juntar tecnologias e colocar tudo funcionando? Afinal, todos sabemos que da ideia ao protótipo há um longo caminho, que sempre passa por um desenvolvedor.

Veio a primeira resposta:

Ele estava tão aficionado em fazer algo para ajudar, que conseguiu convencer dois programadores a se mudarem para sua casa. Eles estavam morando lá e trabalhando na garagem.

Antes que eu pudesse fazer mais alguma pergunta, veio a segunda resposta:

Ele só consegui porque não tinha a mínima ideia do que estava fazendo, que se ele tivesse ideia do quanto seria complicado e de toda tecnologia que seria envolvida, não teria nem começado.

E fechou com uma frase conhecida, mas mudando uma palavra:

“Naivety is a Bliss!” – Como se diz Naivety em português?

A palavra é inocência. E a frase faz muito mais sentido com essa palavra.

Depois desse encontro, entendi que só devo continuar aprendendo a programar se mantiver a minha inocência em relação ao assunto. Afinal eu não preciso continuar ignorante em programação, preciso continuar ingênuo. A ingenuidade é que te faz ter a “falta de noção” para fazer.

(Para conhecer mais sobre o Mick acesse: http://new.theebelinggroup.com ou procure por Mick Ebeling no site do TED)

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Este artigo foi publicado originalmente na Revista iMastersAcesse e leia todo o conteúdo.