Banco de Dados

13 abr, 2015

Mainframes nunca saem de moda

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Tem coisas que nunca saem de moda. Boas maneiras, terno azul marinho, dar flores para esposa ou namorada, OS SIMPSONS… E vamos listar mais um: os mainframes.

Estava lendo um dia desses um artigo interessante sobre assunto. O título era “Why on Earth Is IBM Still Making Mainframes?” (numa tradução livre , seria “Por que raios a IBM ainda fabrica mainframes?”).

Faz mais de 20 anos que eu escuto nego falando que os mainframes vão morrer, que tudo (bancos de dados, aplicações, tudo) vai rodar em máquinas menores e mais baratas. Naquela época, todas as grandes consultorias falavam que as empresas precisavam fazer downsizing. Essas consultorias “receitavam” isso para praticamente todas as empresas, não importava qual era o problema que ela tivesse.

Entre as principais ações de downsizing estava obviamente a substituição dos mainframes por máquinas RISC, mais baratas e alardeadas como o futuro do mundo corporativo.

Passados os anos, quem morreu mesmo foram as tais consultorias e as empresas que seguiram suas orientações. Os mainframes continuam por aí, firmes e fortes, há mais de 60 anos (desde 1952, para ser mais preciso).

É evidente que o mercado de mainframes se estabilizou já faz bastante tempo. Mainframes são computadores destinados a empresas que lidam com quantidades gigantescas de transações, e não é todo dia que surge uma empresa desse tamanho.

Apesar de não ter um crescimento expressivo, este é um mercado cativo, formado por empresas e governos para quem os mainframes são a solução de melhor custo/benefício se comparada às tecnologias que existem hoje.

No artigo que mencionei, por exemplo, o autor conta que o modelo IBM z13, a versão mais recente lançada pela IBM, tem capacidade de lidar com 2,5 bilhões de transações por dia. Leia de novo. Não estamos falando de um banco de dados que contém com 2,5 bilhões de registros. No cenário mais simples, isso quer dizer que a base de dados cresce 2,5 bilhões de registros por dia. Uma base desse porte vai chegar facilmente à casa dos Petabytes.

Ou seja, mainframe é coisa de gente grande.

Um segundo aspecto interessante dos mainframes de hoje é que eles também evoluíram e oferecem recursos novos. Um deles é a virtualização: configurar pequenas frações do hardware para imitar outros sistemas operacionais. Isso dá uma grande flexibilidade e permite um melhor aproveitamento dos recursos computacionais da empresa. Leia-se: uma empresa de grande porte que tenha uma máquina dessas com alguma capacidade ociosa pode reaproveitar o seu investimento criando máquinas virtuais que se adequem a necessidades específicas.

Em 2010, eu era funcionário da IBM e participei de um projeto de uma aplicação web que usava LINUX, PHP e DB2 Express (versão gratuita do software). Algumas semanas depois, conversando com o arquiteto da aplicação, fiquei sabendo que as máquinas virtuais de aplicação e banco de dados rodavam, na verdade, dentro de uma partição lógica de um mainframe J. Por sinal, essa capacidade de virtualização dos mainframes parece ser uma tendência no mundo dos computadores de grande porte.

O terceiro motivo para as empresas continuarem a investir em mainframes é, com certeza, o mais importante de todos. Faz mais de 60 anos que grandes corporações investem dinheiro na criação de sistemas corporativos. São agenciais governamentais, bancos, seguradoras, companhias aéreas, grandes redes varejistas, empresas da construção naval, aeroespacial e automobilística, entre outras.

Em muitos casos, são sistemas que estão no ar há anos e cujo custo está totalmente amortizado. Pois bem, coloque-se no lugar de um CEO: se o sistema ainda estiver atendendo às necessidades, estando ele pago, para que investir mais dinheiro apenas para reescrevê-lo numa nova tecnologia? Do ponto de vista financeiro, não faz sentido nenhum.

Não importa que você pretenda fazer um novo front-end colorido e com pop-ups bonitinhos, não importam os novos recursos do seu SGBD preferido. Empresas só investem dinheiro em Tecnologia de Informação para atender a necessidades. E, por essa razão, sistemas legado vão sempre existir.

Considerando os três motivos que descrevi acima, é difícil dizer quando os mainframes vão morrer. Talvez o maior de todos os problemas seja a falta de competitividade do mercado de mainframes. Mais de 90% do mercado pertencem à IBM, que sempre dominou o mundo dos mainframes. Grande parte do lucro da companhia provém da venda de mainframes e, em contrapartida, os clientes dependem da empresa, por não haver concorrência real no mercado.

Por tudo isso, é difícil dizer que um dia os mainframes deixarão de existir. A demanda por eles deve continuar e, a menos que surjam tecnologias revolucionárias, eles devem continuar na moda por outras tantas décadas.