APIs e Microsserviços

26 nov, 2015

Modelo de negócios em APIs: a clareza como diferencial

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Um dos pontos mais importantes de qualquer API, seja ela pública, privada ou restrita à parceiros, é o seu modelo de monetização. Já falamos sobre isso aqui e aqui. Mas o que realmente significa isso?

Se você já leu alguns de nossos artigos, provavelmente percebeu que a nossa abordagem preferida é “APIs são um produto”. Isso se confirma em gerar uma estratégia de criação, manutenção e marketing para sua API.

Ou seja, é exatamente o oposto da estratégia “Field of Dreams”. Caso nunca tenha ouvido falar, Field of Dreams é um filme em que o protagonista começa a sonhar com uma voz que diz “Construa e eles virão!”. Depois de alguns outros sonhos, ele percebe que deve construir um campo de beisebol e que jogadores das antigas (AKA mortos) virão bater bola no campo dele.

Sim, a história é maluca. E esse é o ponto!

Pela facilidade em se criar um produto ou um tipo de presença online (por meio de páginas em redes sociais e softwares de baixa qualificação), as pessoas vivem o sonho do Field of Dreams. Elas acham que a simples construção de uma API trará novos seguidores e “inovação como nunca antes”.

É mais que óbvio que isso não é verdade. Uma API a mais ou a menos no seu negócio não implica grandes alterações no número de clientes ou desenvolvedores da API.

Pronto, eu disse!

O que então trará a tão desejada inovação e a enxurrada de apps para o seu negócio?

Uma estratégia de verdade

Uma estratégia para APIs envolve bem mais que sua criação. Na verdade, se você sente a necessidade de criar a API para melhorar a oferta do seu negócio, e cria a de qualquer jeito, já começou errado.

Uma série de passos são necessários para gerar o design e a estrutura corretos para sua API. Apesar de esses primeiros passos serem essenciais para o sucesso da sua API, esse assunto é para outro artigo (ou webinar).

Falando resumidamente, qualquer projeto de API precisa de quatro pilares.

Para começar, sugiro que você pense no público-alvo da sua API. Falamos bastante sobre isso na série Como criar um ótimo Plano de Marketing para sua API. Confira!

Tendo definido a pessoa foco, é hora de pensar em como sua API será desenhada. Para isso, recomendo que assista os Webinars de Design de APIs, Segurança de APIs e leia o Ebook de Blocos de Construção. O artigo sobre os 10 mandamentos na Exposição de APIs também é uma boa.

Já é bastante conteúdo para começar!

Outro ponto chave é o gerenciamento da API. Afinal de contas, depois que ela estiver prontinha, precisará de uma equipe para cuidar dela.

Não adianta fazer o filho se for largar no mundo!

Para isso, recomendo a leitura de dois textos sobre ferramentas de gerenciamento, este e este.

Dito isso, repare que identifiquei três grandes pontos:

  1. Marketing e público-alvo;
  2. Design e exposição;
  3. Gerenciamento.

É bastante difícil colocar qualquer um deles em ordem cronológica. Isso significa que a definição de todos precisa estar encaminhada no momento de Planejamento, ANTES da construção (e muito antes da exposição) da API.

Mas os pilares são quatro e não três. Está faltando um para equilibrar as contas e tornar seu Planejamento de APIs sustentável.

Sabe qual é?

Qualquer produto tem um preço

O preço para acessar os recursos da sua API é um dos sinais mais importantes que você pode mandar a respeito da sua estratégia de APIs.

Por quê?

Porque nada na vida é de graça. Se você tem maturidade em negócios digitais, sabe que qualquer serviço na Internet está sendo pago por alguém.

Redes sociais, que normalmente são de graça (se você quiser criar uma conta de usuário comum), estão sendo pagas por anúncios, por exemplo. Nesse caso, o produto é o próprio usuário, que acessa a rede social de graça e é alvo de dezenas de anúncios e propagandas.

Se uma API é exposta de graça, alguém está pagando por ela. E a regra geral segue somente dois caminhos:

  1. A API traz vantagens de negócio tão boas que sua existência gera economia em outros processos da empresa;
  2. A API fatura por meio de um modelo freemium ou simplesmente pago.

Esses dois caminhos servem para qualquer tipo de monetização. Voltando às redes sociais, por exemplo, a API do Twitter só é pública e gratuita porque ela ajuda a levar usuários para dentro do site, gerando buzz nos conteúdos e incentivando o consumo de propaganda.

Um case que já contamos no passado, a ESPN teve que fechar sua API pública quando percebeu que o consumo de dados pela API competia com um consumo de dados por meio do site. E pelo site eles ganhavam dinheiro com anúncios. Veja mais aqui.

Portanto, para concluir esse ponto, é essencial que qualquer API no mundo tenha uma estratégia de monetização CLARA.

A regra é: nunca comece a construir uma API sem saber se ela irá gerar (ou economizar) dinheiro para você.

A única exceção em que eu penso são as APIs de ONGs (como no caso da Transparência Brasil) ou do governo. Mas aí a regra realmente não se aplica, pois o foco não é o lucro e sim alguma outra vantagem frente ao objetivo da existência da ONG ou governo.

Se você chegou até aqui no texto, deve ter reparado que tudo isso parece bem óbvio, não é? Afinal de contas, se estou lançando um produto (uma API), eu deveria mesmo saber se ela será rentável para mim.

Você pode até estar pensando: “E se o produto não for rentável, eu não lanço!”.

Será mesmo?

Ao analisar uma quantidade razoável de APIs, surgem sinais sutis cada vez mais fáceis de perceber a respeito da real viabilidade de uma API.

E um dos sinais mais fortes é o próprio sistema de monetização de uma API (ohhhhhh).

Não apenas o fenômeno do “Field of Dreams” é muito comum, como o fenômeno do “vamos construir e depois a gente vê o que dá” também é. E aí pode surgir uma API com uma proposta de valor realmente interessante, mas com uma vida bem curta.

A maneira como uma API é exposta evidencia seu modelo de negócio, e pode dizer muito sobre as motivações, a quantidade de recursos disponíveis e a experiência que a empresa em questão possui em gerenciar APIs e engajar desenvolvedores.

A questão é simples: a falta de um modelo de negócio em APIs e de uma estratégia de monetização é evidente e fatal para qualquer API.

APIs públicas (pagas) como Twilio e Stripe não têm problemas, porque um grande esforço foi desprendido na elaboração de seus modelos de negócio e suas estratégias de monetização são bem pensadas e competitivas, além de fazerem um ótimo trabalho de engajamento de desenvolvedores.

Ou seja, mesmo sendo públicas, elas não estão em risco.

Por outro lado, as empresas que eventualmente encerrarão suas iniciativas com APIs normalmente não possuem uma clara estratégia de monetização em seus sites (ou Developer Portals), reduzindo o assunto a uma simples pergunta em sua sessão de FAQ e algo sobre o qual você precisará pedir mais informações.

Alguma vez você já varreu a sujeira para debaixo do tapete? Pois é.

Esconder ou ofuscar sua estratégia de monetização não diz respeito a boas práticas de vendas, mas sim a tentar se aproveitar de toda pequena oportunidade.

Não faça isso!

Mostrar claramente seu modelo de negócios em APIs é um dos sinais mais importantes dentro da sua estratégia de gerenciamento de APIs. Não é à toa que falamos especificamente sobre isso em tantas oportunidades passadas (como aqui).

A nuvem de incertezas que ronda a questão monetária sobre o assunto deve evoluir muito se empresas realmente esperam entrar nesse novo jogo e de fato conquistar a atenção de desenvolvedores.

Quão claro você quer ser?